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Música

‘Que Tal um Samba’, de Chico Buarque, é música contra Brasil da derrota

Em versos com rimas tortas de antíteses, cantor declara sua filiação à América Latina e ao caldo que gerou choro e samba

FolhaPress

17/06/2022 15h56

Foto: Banco de imagem

As vendas de ingressos para o público começam por Porto Alegre, no próximo dia 21 —para as datas do Rio, clientes Icatu e Vivo Valoriza poderão comprar a partir do dia 20.

Com cenário de Daniela Thomas, iluminação de Maneco Quinderé e figurinos de Cao Albuquerque, a turnê terá Mônica Salmaso como convidada.

Hamilton de Holanda —que em 2015 lançou o disco “Samba de Chico”, com o qual ganhou um Grammy Latino— conta que se sentiu honrado ao receber o convite do compositor.

“É um samba cheio de sutilezas, com muita categoria, letra cheia de significados, melodia com essência popular e harmonia com aqueles detalhes que acho que ele aprendeu com o Tom Jobim”, diz. “É a afirmação de nossa capacidade diária de superação com graça e alegria.”

Além dele e de Chico, estão na faixa Luiz Claudio Ramos (arranjador da gravação e da turnê, ao violão), João Rebouças (piano), Jorge Helder (baixo) e Jurim Moreira (bateria).

Juntos, costuram um samba que começa com levada latina e caminha para o samba-choro. Jorge Helder chama a atenção para a riqueza musical “impura” da canção: “Tem vários elementos rítmicos, numa mistura muito boa, que deu muito certo”.

Na sua proposição de uma mudança do ritmo do Brasil (“Pra espantar o tempo feio/ Pra remediar o estrago”), Chico começa timidamente.

Ainda sob a atmosfera latina, canta um verso curto, de três sílabas (“Um samba”), faz uma pausa e volta para um pequeno avanço (“Que tal um samba?”). A partir daí, desdobra-se em palavras e caminha mais claramente na direção do samba, desenvolvendo uma ode-convite ao Brasil do “batuque lá no cais do Valongo”, do “jongo lá na Pedra do Sal”, da “roda da Gamboa” —não por acaso, espaços de resistência negra na zona portuária carioca, berços míticos do samba.

Na letra, celebra outras invenções do negro brasileiro (“Fazer um gol de bicicleta”, jogada celebrizada por Leônidas da Silva) e cita “Beleza Pura”, de Caetano Veloso, ao propor “um filho com a pele escura/ Com formosura/ Bem brasileiro, que tal?/ Não com dinheiro/ Mas a cultura”.

O arranjo conversa com seu tema, ao declarar sua filiação à América Latina e ao caldo que gerou o choro e o samba. Apoiado aí, sugere: “Manter o rumo e a cadência/ Esconjurar a ignorância, que tal?”. Na rima torta de antíteses, entre a cadência e a ignorância, Chico parece deixar evidente que não é uma escolha difícil.

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