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Música

Murica conta detalhes do seu novo trabalho o álbum “Maracutaia – A arte da gambiarra”

O rapper brasiliense lança nesta sexta-feira (14) seu terceiro álbum em parceria com o DJ e produtor musical MK

Tamires Rodrigues

14/10/2022 5h00

Murica, membro do Puro Suco. Foto: Divulgação

O jovem rapper brasiliense Murica lança, nesta sexta-feira (14), o terceiro álbum da carreira. “Maracutaia – A arte da gambiarra”, construído em parceria com o DJ e produtor musical MK, conta com as participações de três nomes da cena nacional, Sain, Dukes e NP Vocal, e dois artistas locais, Letícia Fialho e Pedro Badke.

Em entrevista ao Jornal de Brasília, Murica traz detalhes do novo trabalho. Ouça o álbum e, em seguida, leia o bate-papo:

Murillo Fellipe, vulgo Murica, ficou conhecido no cenário do hip hop de Brasília ao participar de batalhas de rimas. Ao lado de MK, já lançou dois álbuns, “Fome” (2019) e “Sede” (2020), além de alguns EPs, como “O que restou da Marginália” (2021). Suas músicas retratam problemas do cotidiano. De onde vem a inspiração? Ele explica que simplesmente observou ao redor. “Crianças pedindo dinheiro no sinal fora da escola, a comida ficando cada vez mais cara nos mercados, gente comendo só o básico. Esse mundo daria um livro.”

No novo álbum, Murica quis propor um novo significado aos termos ‘maracutaia’ e ‘gambiarra’, traduzindo o jeitinho brasileiro de sempre conseguir seguir em frente. O rapper conta ainda que o nome retrata a construção do disco, que é, na verdade, uma mistura de samba, rap e blues.

Ao falar sobre as colaborações do álbum, Murica ressalta que os artistas têm estilos diferentes, o que corrobora com a ideia da maracutaia, da gambiarra. “Eu e o MK amamos o som de cada um que chamamos. Isso é o hip hop: abrir portas para a gente trabalhar com pessoas que a gente admira e cresceu ouvindo”, afirma.

Leia a entrevista completa:

Suas músicas falam sobre problemas do cotidiano, como o difícil acesso a escolas, alimentação e outros meios básicos de sobrevivência. De onde vêm suas inspirações?

Vida real, né? (des)governo Bolsonaro, a direita no poder. Eles focam no negócio, no dinheiro, e as pessoas vão ficando para trás. Eu só olhei pro lado e vi minha realidade. As crianças pedindo dinheiro no sinal fora da escola, a comida ficando cada vez mais cara nos mercados, gente comendo só o básico… esse mundo daria um livro.

Que conceitos, referências, ideias e afins você traz no novo álbum “Maracutaia – a arte da gambiarra”? Como vocês chegaram até os termos ‘Maracutaia’ e ‘Gambiarra’?

Eu vejo a palavra ‘maracutaia’ como um conceito de ‘gambiarra’. No Brasil, o termo sempre foi usado de maneira negativa, mas eu quis dar uma subvertida e trazer para o nosso mundo, no sentido de a gente ver que o que era para nos dar segurança, saúde e educação não cumpre com isso e a gente vai vivendo. A vida não para. O povo tem suas sabedorias, a gente vai montando nosso esquema, nossa maracutaia. Ou seja, vamos nos virar com o que tem, né?! Viver no Brasil é isso. Sinto que a gente tá bem longe do ideal. Até lá, maracutaia. Não vamos desistir. A arte da gambiarra é o que faz a gente se virar.

No âmbito do rap, o termo ‘gambiarra’ representa o que a gente fez no álbum. A gente passeou por vários estilos, como blues e samba, mas tudo misturado com o rap sempre.

O álbum conta com algumas colaborações. Como elas foram escolhidas? E qual a sensação de gravar com estes nomes da cena?

As colaborações foram escolhidas por causa do som que a gente acreditou para o álbum. Porque assim, os manos não têm o mesmo estilo, né? O Sain, o Dukes e o NP são bem diversos em relação um ao outro. A Letícia Fialho faz um som totalmente diferente, o Pedro Badke também. Então, as participações foram escolhidas para fazer essa maracutaia, buscando a individualidade de cada um para somar no projeto inteiro.

E a gente gosta de ouvir [os artistas], mesmo. Eu e o MK amamos o som de cada um que chamamos. Isso é o hip hop: abrir portas para a gente trabalhar com pessoas que a gente admira e cresceu ouvindo.

De maneira geral, o que você quer mostrar com a sua música? Que mensagem seu rap passa?

O meu rap passa a mensagem do cotidiano no Brasil, na visão, antes de tudo, de um brasileiro fazendo arte independente de forma mais genuína possível. O meu rap passa a mensagem de enxergar e abraçar nossa cultura. E não só a nossa: construir uma cultura cada vez mais nossa, mas buscar o que é de fora e encarar isso como o pessoal da Arte Moderna encarou no Brasil, realizando o processo antropofágico de criação, que é absorver o que há de melhor das outras culturas e mesclar com a nossa. O rap nasceu nos Estados Unidos, mas o rap do Brasil tem um borogodó que só nós temos. Se o meu rap passa alguma mensagem, é essa, de ser brasileiro, enxergar nossa cultura com mais valor, de criar de forma antropofágica, beber o que há de melhor nas outras culturas e incorporar à nossa.

A mensagem que meu rap passa é essa, mas a mensagem que o rap passa em geral é um velho conselho, naõ fui eu que inventei. O rap fala das mesmas coisas, e tem que falar para continuar sendo rap. Tem coisas que, na minha opinião, são cláusulas pétreas do rap. O rap tem que continuar sendo uma música das ruas. O rap sempre vai ser a música e a voz do hip hop. Eu não inventei isso, já existe essa espécie de cartilha do rap.

A respeito de novos projetos, você trabalha para fazer shows por mais estados do país, como vem fazendo em São Paulo? De maneira geral, o que podemos esperar para o futuro da sua carreira?

Eu trabalho para fazer show pelo mundo inteiro. Onde tem coração batendo, onde tem gente para escutar, eu quero levar minha música. Amo o meu país, quero rodar ele antes de frequentar o mundo, mas quero que minha música se torne uma cidadã do mundo. Falando mais de Brasil, a gente quer levar o nosso som para o Nordeste, nunca fizemos nenhum show lá. É nosso sonho atual. A gente quer levar nosso som para novos lugares, para festivais, cada vez alcançar lugares maiores com o poder da música. A música é infinita, o poder dela desconhece a geografia.

O que a gente pode esperar para o futuro da minha carreira é música sincera. Eu e o MK pretendemos lançar um álbum por ano até que a gente decida o contrário.

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