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Música

Lívia Mattos: “O acordeon é peso e leveza juntos”

Em entrevista ao JBr, artista conta sua história, explica o porquê de tocar acordeon e fala sobre seu último lançamento, o álbum “APNEIA”

Tamires Rodrigues

30/09/2022 12h00

Atualizada 21/11/2022 18h08

Lívia Mattos

Divulgação

“O acordeon é peso e leveza juntos. É o que me pende para frente e me leva. É minha máquina de respirar em meio a tanta falta de ar”.

Poeticamente, assim, a cantora, compositora e instrumentista Lívia Mattos define seu amor pelo acordeon, instrumento cujo qual ela toca desde pequena. Em entrevista ao Jornal de Brasília, Lívia contou sua história de vida, explicou por que escolheu a sanfona e falou sobre seu último álbum, o “APNEIA”.

Já conhecida no cenário musical nacional por atuar ao lado do cantor, compositor e poeta Chico César durante oito anos, Lívia fez sua estreia como artista solo em 2017, com o álbum “Vinha da Ida”. A artista soteropolitana sempre busca exalar sua originalidade nas composições, além de combinar com instrumentações e participações que completam seus projetos.

Confira a entrevista completa com Lívia Mattos: 

Jornal de Brasília: Como foi seu início?

Lívia Mattos: Meu primeiro palco foi o picadeiro. Comecei a minha carreira artística no circo, onde a música fazia parte do cotidiano e dos processos de criação. Eu, que sempre fui interessada por instrumentos musicais, mas que não tinha tido a possibilidade de aprender, vi naquele ambiente o espaço propício para começar. Pedi a sanfona de minha tia, que meus avós tinham dado pra ela há 50 anos, mas que ela não tocava mais… e ela me deu. A ideia era usar o acordeon dentro da cena, do circo. Não pensava que eu levaria aquilo para esse lugar de instrumentista, dessa relação com a música que construí. Mas peguei amor nesse “negócio” de música e deu no que deu. Transbordou.

O álbum ‘APNEIA’ tem muitas participações. Você o imaginou assim desde o início?

No processo do álbum foram surgindo naturalmente as ideias das participações. E na dinâmica da criação muita coisa mudou. A faixa “O amor, meu bem”, por exemplo, é uma parceria com Alessandra Leão e Ceumar, que participam da faixa. Com o Armandinho Macedo eu só havia tocado no camarim, certa feita, sou fã dele e ainda é meu conterrâneo… baiano como eu! Trouxe ele pra faixa “Tuk tuk”, inspirada no trânsito egípcio… realmente a mistura do Brasil com o Egito.

Mu Mbana, da Guiné Bissau, é um amigo que eu já tinha cruzado no Brasil e na Galícia, e eu ouvi em meus pensamentos a voz dele cantando “Coração é um músculo”. Ná Ozzetti é uma paixão, uma musa inspiradora, com curvinhas na voz inigualáveis, eu queria que ela cantasse tudo (risos), mas escolhi a música “Vai sucumbir”, que, pra mim, representa muito as eleições deste ano. Odete de Pilar estava em São Paulo, uma conquista paraibana mestra de tudo, e foi uma honra tê-la no disco.

https://open.spotify.com/album/3Io2s7engMwGivDZI1RRTe?si=Shh6Ax8hS_GOLs5TQRQs_A

O álbum vem repercutindo da forma que esperava?

Tem sido emocionante receber o retorno das pessoas — tanto pela escuta do álbum, como pelo show — e sentir como reverbera em cada um. Tem algo instigante que as pessoas sentem, de forma geral, que é a ousadia e a originalidade, que gera um deslocamento nas pessoas. Elas reconhecem os territórios que estão ali, cada um de um jeito, mas sentem a busca de uma leitura própria em cima daquilo, e essa percepção me emociona. 

Pelo fato de juntar o instrumental, as canções e a improvisação, o ‘APNEIA’ acaba por ser um álbum complexo de se ouvir e entender?

Não acho que seja um álbum “fácil”. O público tem que ter uma disposição para esse mergulho, que às vezes é no molhado, às vezes é no seco. É um disco muito livre, híbrido entre instrumental e canções, propondo paisagens sonoras, improvisação livre, poesia, refrão, tudo junto. Inclusive, convido quem está lendo essa matéria a escutar e depois me contar a preferida, a música que mais te tocou… amo saber isso. É emocionante sentir que aquilo tem sentido para o outro e não é só uma viagem minha (risos).

O álbum traz uma Livia mais madura, com músicas autorais. Você se enxerga mais independente?

Sem dúvida é um álbum muito livre, sem concessão. Nesse sentido, sim, independente. Acho que o ‘APNEIA’ amalgama esse lugar de cancionista, instrumentista, artista da cena, cantora, num lugar de fricção e experimentação, mas também de comunicação com o outro. Tem muitas imagens. Já estou curiosa do que será o meu terceiro álbum, porque esse desdobrar das coisas é muito bonito. Pode ser que seja um violão e sanfona, um infantil ou um álbum mais louco ainda que esse. Vai saber. Por ora, é seguir nessa apneia, tomando ar.

Sobre o acordeon, por que você o escolheu como instrumento-base?

O acordeon é peso e leveza juntos. É o que me pende para frente e me leva. É minha máquina de respirar em meio a tanta falta de ar. Por casualidade familiar, de uma tia que tinha uma sanfona, que pude ter acesso ao instrumento. E a instiga disso foi o circo. Já era circense quando comecei a tocar e a querer usar aquilo na cena. Minha relação com a música começou numa relação com a cena. Depois foi se desdobrando em diferentes lugares, ora acompanhando artistas como instrumentista – como Chico César, Rosa Passos, Badi Assad – ora com meu trabalho autoral, ora compondo e tocando para outras linguagens artísticas. O acordeon é também meu desafio e o álbum ‘APNEIA’ reflete muito isso. É sobre como propor outros caminhos para um instrumento tão emblemático, mas sem negar o “de onde venho” dentro dessa busca. É um instrumento que acalenta e inquieta.

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