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Música

Israel Paixão lança “Meu Laiá” e se apresenta no CoMA neste sábado (7)

Artista relembra inspirações, revela seu processo criativo, fala do novo single e do show de mais tarde

Ingrid Costa

06/10/2023 5h00

Atualizada 05/10/2023 19h28

Foto: Divulgação

Israel Paixão, 36, é um dos artistas que representam a riqueza cultural do Distrito Federal. O rapper, dançarino e coreógrafo cresceu na Ceilândia, lugar de gente talentosa. Começou a trilhar seu caminho artístico em 2002 e ganhou destaque no cenário musical após vencer a 10ª edição do Brasília Independente, concurso de música autoral da TV Globo, em 2019.

Autor de faixas como “À Vista” e “Choro dos Racistas”, o artista se inspira no movimento negro, nas conversas do cotidiano e nas próprias vivências para falar de superação em letras com que o público possa se identificar. Hoje (6), o músico se prepara para o lançamento de seu novo single, “Meu Laiá”, e para sua primeira apresentação no festival CoMA, que ocorrerá amanhã (7).

Em entrevista ao Jornal de Brasília, Israel Paixão falou sobre sua relação com a arte, inspirações, o impacto do Brasília Independente em sua vida, o show no CoMA, projetos para a carreira e muito mais. Confira:

Como começou a sua relação com a arte, a música e a dança?
Minha família sempre foi envolvida com música: quando meu avô veio do Rio de Janeiro para Brasília com a minha avó, ele trouxe consigo deia cultura do samba; todas as minhas tias cantavam na Igreja desde novas; meu pai sempre foi muito fã do Michael Jackson e dançava nos bailes que tinham na Ceilândia… minha relação com a arte é muito natural, desde criança.

Quem te inspira e serve de referência na arte? O que a arte representa na sua vida?
O movimento preto em si me inspira muito. Quando eu estudo a história e todos os porquês das resistências, me sinto mais poderoso. Teve gente que morreu para que hoje eu possa andar, falar, cantar e ser do jeito que eu sou. Então, a minha inspiração já começa dos meus ancestrais. Quando eu era moleque, via os vizinhos se movimentando de uma forma que eu ainda não entendia, mas que já entrava no meu coração. Quando eu cresci, descobri que aquilo era hip hop.

Também tenho vários artistas como referência, mas o primeiro de todos foi o Michael Jackson. O que ele fazia é surreal, conversa muito com o século XXI e vai continuar conversando. É algo muito extenso.

A arte foi o que me deu voz e me salvou, porque, até então, sendo preto e de quebrada, eu era invisível. [A arte] fez eu me sentir alguém, e é algo tão enraizado em mim que hoje posso dizer que é meu estilo de vida.

Como é o seu processo de criação?
Costumo dizer que eu ando com uma “mochila”, que são minhas referências com tudo o que eu já escutei e absorvi na vida. Quando eu preciso me soltar para escrever alguma música, eu vasculho essa “mochila”. Também já gravei muitas músicas depois de conversas, acaba que eu registro aquele diálogo para sempre em forma de música, e eu gosto disso.

Geralmente, quando eu tô compondo, eu tô escutando alguma música, e a melodia dela me leva para algum lugar que, às vezes, não tem nada a ver com o que a letra tá falando. O trecho de algum verso começa a ficar em looping na minha cabeça, e eu já vou ao celular e começo a gravar.

Minha música é vivência, é sobre tudo o que tô passando ou que quero para o futuro. Sou muito de escrever algo que a galera vai ouvir e se identificar, por isso, minha arte também é muito sobre conquista.

O que mudou na sua carreira após ganhar o Brasília Independente, em 2019?
Foi um negócio louco, porque eu não iria participar, não gosto da sensação que dá até saber se você foi aprovado ou não. Um dia, depois de ter dado aulas de dança, comecei a receber muitas mensagens me parabenizando, e eu não entendi nada. Aí um amigo me falou que tinha me visto na Globo, e depois meu produtor, o Lusi, me ligou rindo e perguntando: “E aí, gostou da surpresa?”. Ele me inscreveu porque sabia que eu não faria isso e, caramba, mudou muita coisa. Foi como num videogame, tipo Super Mario, em que você pega uma chave e as portas vão se abrindo. Viajei pela primeira vez para São Paulo, fiz um show lá. Sem contar as amizades que fiz com pessoas que antes eu só via pela televisão da casa da minha vó. E, agora, o convite para o CoMA. [Participar do Brasília Independente] reflete de forma muito impactante na minha vida.

Como é ser artista independente em Brasília? Quais as principais dificuldades?
Acho que uma das dificuldades é a de ter que receber uma validação, independentemente da qualidade do seu trabalho. Você tá há um tempo fazendo algo, lapidando que nem um diamante, e parece que só você vê o brilho daquilo.

Em Brasília, faltam casas para a gente se apresentar, ainda mais para os rappers. Parece que isso não faz parte da cultura da capital, sendo que aqui tem muito talento misturado. Também rola muito de bandas e cantores de fora terem camarim e tapete vermelho e, em contrapartida, os artistas locais não terem nem cachê, às vezes. Essas paradas vão te desanimando. Eu já vi muita gente desistir perto de mim, e é aquele negócio tipo: “Caraca, será que o próximo vai ser eu?”. É muita coisa que passa na mente, é uma luta contra o seu psicológico. É tipo concurso público: que música vai mudar a sua vida? Pode ser a próxima, ou pode ser daqui a umas três, quatro, ninguém sabe. Só que a gente ama tanto que é difícil desconectar, eu não consigo me ver sem fazer isso. Meu ponto final é a música.

“Meu ponto final é a música”, afirma o artista. Foto: Divulgação

Nesta sexta (6), antes do show no CoMA, você lança “Meu Laiá”. Qual foi a inspiração para essa música?
Eu tava querendo escrever algo como os funks que estão rolando agora, mas queria também que fosse uma lovesong. Algo que dá para namorar, mas dançar também. A ideia é exaltar a química de um casal que dá certo por causa desse molho que só eles têm. É tipo “Lepo Lepo”: ‘Eu não tenho carro, não tenho casa, mas se tá comigo é porque gosta’.

“Laiá” é um negócio que já ouvi em músicas do Marcelo D2 e da Lauryn Hill, e eu queria ter uma faixa com isso. Entreguei as referências para o Lusi produzir, e disse que queria algo mais puxado para o afrobeat, mas que misturasse com outras coisas. Esse som tem uma mistura de elementos brasileiros, trap e R&B. O Lusi adicionou um sample do Marvin Gaye, e a música, que já tava boa, foi para outro patamar. Ele deu o nome nessa produção.

Na sua primeira vez se apresentando no CoMA, quais suas expectativas? O que o público pode esperar do show? 
Quando eu ganhei o Brasília Independente, em 2019, o CoMA estava rolando. Eu lembro de ter pensado: “Meu Deus do céu, isso aqui é muito grande, quero tocar aqui um dia”. Não costumo colocar expectativa nas coisas porque eu já me frustrei muito, só que, nesse caso, não tem como não colocar, é uma parada que eu sempre sonhei.

A gente está fazendo um show que não foge muito do que costumamos fazer. A estética que a gente vai levar vai ser um DJ e um ‘batera’, mas com uma visibilidade maior. Como eu sou DJ, gosto de mexer com os sentidos e sentimentos das pessoas. Vai ser um setlist com rap, pagode, samba, zulk, pagodão baiano e outros elementos que carrego naquela minha “mochila” que citei aqui. A ideia é botar todos os elementos que eu faço, como, também, a dança.

Que projetos você tem para 2024?
Desde agosto, a gente tá lançando uma música por mês. A ideia é que todas essas músicas virem um EP no final. Talvez tenha uma faixa bônus, estamos estudando isso. Então, a agenda do primeiro semestre do ano que vem está programada para esse projeto. 

Israel Paixão se apresenta no CoMA, neste sábado (07), às 21h30, no Palco Norte. Para mais informações, acesse o site ou o perfil do evento no Instagram.

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