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Música

Adriana Calcanhotto faz tributo a Gal Costa e a Rita Lee e personifica o Brasil

Além de “Bem Me Quer Mal Me Quer”, Rita foi lembrada em “Quando”, parceria de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa

FolhaPress

12/05/2023 10h53

Foto: Divulgação

Gustavo Zeitel
São Paulo – SP

Aos berros, Adriana Calcanhotto diz que é amor da cabeça aos pés. Finda a canção “Dê um Rolê, ela entoa “Bem Me Quer Mal Me Quer”. A passagem por São Paulo do concerto “Gal: Coisas Sagradas Permanecem”, homenagem de Adriana à cantora baiana morta há seis meses, estendeu tributo a Rita Lee, que morreu há quatro dias.

Em ambas as canções, Adriana abriu a blusa e mostrou os seios à plateia. Era, primeiro, uma citação ao gesto cênico de Gal no show “O Sorriso do Gato de Alice”, de 1994.

Depois, a nudez se tornou lembrança de um episódio que remonta ao início da carreira da compositora gaúcha. Num show de Rita em Porto Alegre, no fim dos anos 1980, Adriana entrou no palco envolta numa capa e, diante da plateia, ficou completamente nua.

Além de “Bem Me Quer Mal Me Quer”, Rita foi lembrada em “Quando”, parceria de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, em que é citada.

Na noite desta quinta-feira, dia 11, Adriana cantou com dois imensos lábios vermelhos ao fundo, desenhados por Omar Salomão. Uma boca era para Adriana, emulando a capa do disco “Cantada”, de 2002. A outra lembrava o disco “Profana”, lançado por Gal em 1984.

“Coisas Sagradas Permanecem” abriu com “Recanto Escuro”, canção de Caetano Veloso que integra “Recanto”, de 2011. Artista do palco, Adriana surgiu com uma panela ao lado da cabeça, evocando o hábito que Gal tinha ainda pequena, para ouvir a própria voz. Em sua apresentação, Adriana seguiu a mimese não para imitar, mas para recriar.

Toda encenação acontece no agora. A permanência do sagrado implica fundar outra temporalidade, que eternize a arte de Gal. Por isso, os seios desnudos, a panela na cabeça e Adriana, abandonando o pedestal, para passear no palco com o microfone com fio e espuma vermelha: uma crooner.

Do mesmo modo, a mistura de temporalidades se reflete na escolha das canções. Seguindo o roteiro, foram interpretadas Baby”, “Meu Nome É Gal” e “Folhetim”, perfeita na voz de Adriana. Também estiveram em destaque “Índia” e “Nuvem Negra”.

“Tem umas canções do tipo ‘Nuvem Negra’ ou ‘Meu nome é Gal’ que eu fico pensando que em nenhuma situação a não ser esta de agora eu poderia cantar”, diz Adriana, em seu camarim.

No concerto, uma intersecção entre o repertório de Gal e Adriana foi traçada. Primeiro, com “Volta”, de Lupicínio Rodrigues, interpretada pelas duas artistas. Depois, com as duas canções de Adriana gravadas por Gal: “Esquadros”, em “Aquele Frevo Axé”, de 1998, e “Livre do Amor”, presente em “A Pele do Futuro”, de 2018.

Seguindo os passos de Gal, Adriana se adequou à alternância entre a interpretação joãogilbertiana e o canto “para fora” -o que muito lembrou o início da carreira quando, loiríssima, lançou “Enguiço”, seu primeiro disco, em 1990.

“É uma possibilidade, o canto ‘para fora’ aqui faz sentido. Nesse caso, se adequa, tem que ter um motivo, e eu estou adorando”, afirma Adriana.

Sobretudo, “Coisas Sagradas Permanecem” é um concerto sobre o tempo. Muito se pensou sobre uma certa linha evolutiva da MPB. Agora é hora de pensar sua linha hereditária. Sucessora de Nara, Rita, Gal, Adriana se apresenta inteira, iluminando o agora. Seu permanente laivo lírico se insere nos dias mais felizes da moderna música popular brasileira.

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