É inegável que o Funk tem se consolidado como um dos principais representantes da cultura musical brasileira. Um exemplo marcante disso é o Kondzilla, canal brasileiro no YouTube com o maior número de inscritos do país, com impressionantes 65,7 milhões de seguidores, que pertence ao diretor e produtor musical Konrad Dantas. Além disso, na plataforma de música Spotify, o gênero registra um notável crescimento de 51% ao ano, garantindo a segunda posição nas listas de downloads, ficando atrás apenas do sertanejo.
Uma pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que o Funk é responsável por movimentar mais de 127 milhões de reais por ano no estado do Rio de Janeiro. A instituição contabiliza os lucros de todas as pessoas envolvidas na realização dos eventos e bailes, desde camelôs e vendedores de alimentos, até os principais artistas, destacando o alcance abrangente do ritmo na economia local.
Hoje o Brasil assiste de camarote o sucesso internacional da sua maior artista pop. Anitta veio do funk e ajudou a popularizar o gênero de maneira jamais vista, levando o ritmo para novos públicos ao redor do mundo. Neste mês a cantora conquistou, pela segunda vez consecutiva, o prêmio de Melhor Videoclipe Latino, do Video Music Awards (VMA), agora pelo clipe “Funk Rave”.
Diante disso, nota-se que o funk se consolidou como um gênero musical que desempenha um papel fundamental na indústria musical e na cultura do Brasil. Suas letras e composições muitas vezes abordam questões sociais, políticas e culturais, dando voz às camadas mais marginalizadas da sociedade e, ao mesmo tempo, promovendo maior representatividade. “O funk representa os anseios da juventude periférica das grandes cidades brasileiras, ele expressa a vida desses jovens, suas visões de mundo, seus desejos, seus ideais e estéticas. É o retrato de um Brasil profundo – o Brasil das quebradas”, explica Meno Del Picchia, professor do curso de Música da Faculdade Santa Marcelina.
Observando esse cenário, a Faculdade Santa Marcelina desenvolveu um curso de extensão que propõe um estudo focado neste contexto. “É importante que o universo acadêmico musical abra espaço para o campo de estudos dos musicares periféricos justamente para que possamos identificar alguns preconceitos e compreender de modo mais profundo os aspectos socioculturais dessas manifestações artísticas”, afirma Del Picchia.
O curso, composto de oito aulas presenciais na Unidade de Perdizes, tem como proposta ampliar a investigação deste gênero no âmbito acadêmico, principalmente nos departamentos de música, tratando-o em seus múltiplos aspectos: culturais, estéticos, musicológicos e políticos. “A ideia é compreender a agenda social dessas manifestações artísticas, ou seja, como esses musicares agem na sociedade transformando a vida das pessoas envolvidas”, conclui o professor.