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Literatura

‘O gosto amargo dos metais’ e ‘Siríaco e Mister Charles’ são os vencedores do Oceanos

Os autores das obras premiadas são a poeta suíça naturalizada brasileira Prisca Agustoni
e o escritor cabo-verdiano Joaquim Arena

Redação Jornal de Brasília

08/12/2023 11h12

Siríaco e Mister Charles, do cabo-verdiano Joaquim Arena, editado pela Quetzal, foi anunciado vencedor, durante cerimônia na Sala Vermelha do Itaú Cultural, pelo Embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, que, em seguida, puxou uma conversa online com o autor. O superintendente do Itaú Cultural, Jader Rosa, anunciou O gosto amargo dos metais, da suíça naturalizada brasileira Prisca Agustoni, editado pela 7 Letras. Na sequência, ele chamou a poeta ao palco e lhe deu a palavra.

“Meu livro trata do eco crime de Mariana e Brumadinho. Senti necessidade de escrever, porque a ideia de um rio que morreu nunca tinha atravessado a minha imaginação. Diante do impacto dessa notícia e das imagens que a seguiram, nos dias e nas semanas após essa tragédia, senti um profundo silenciamento interno”, disse Prisca. “Achei que através da poesia poderia tentar trazer uma palavra que pudesse dar uma luz, como se fosse um processo de regeneração da palavra, daquilo que nos é mais caro e mais frágil, que é a nossa percepção do mundo. Acho que a poesia foi o caminho que encontrei para tentar recuperar uma voz atordoada e silenciada após o impacto e de tantas mortes”, completou.

“Eu nasci em Cabo Verde e minha primeira língua, até os cinco ou seis anos, foi o crioulo. Depois imigramos para Portugal e nos tornamos completamente portugueses ‘fora de portas’, ou seja, éramos caboverdianos dentro de casa, comíamos, bebíamos e cantávamos e riamos como caboverdianos, mas, fora, éramos portugueses. A nossa mãe falava em português conosco, só de vez em quando falava em crioulo. Penso que o Brasil é o Brasil, Cabo Verde é Cabo Verde, por causa dessa troca de experiências, desse movimento de povos para sul, norte, leste, oeste. Isto faz parte também da literatura”, disse Arena. 

“A literatura é feita da contação de histórias, que são momentos vividos por pessoas que se deslocam ao longo da nossa história e da história do Atlântico. Os povos foram misturando-se e viajando e é a partir daí que vem todas essas experiências, trocas e essa miscigenação que somos nós caboverdianos, os brasileiros e até, também, os portugueses, que tiveram uma população de pessoas levadas de África para Portugal e chegaram a constituir 10% da população de Lisboa. Portanto, o sangue africano está entre nós e isso reflete esse movimento e esse encontro de culturas e povos. Homens e mulheres que foram se cruzando ao longo do século”, concluiu.

O encontro, que pode ser assistido aqui, foi conduzido pela atriz Fernanda D’Umbra e teve performance da slammer Luz Ribeiro e apresentação do escritor Santiago Nazarian, jurados desta edição do Prêmio. Selma Caetano, diretora da Oceanos Cultura, responsável pela gestão da premiação, abriu a cerimônia.

Estiveram presentes, ainda, o Cônsul-Geral de Portugal em São Paulo, António Pedro Rodrigues da Silva e a Diretora do Instituto Camões no Brasil, Alexandra Pinho, além de jurados da premiação e dos poetas brasileiros finalistas Claudia Roquette-Pinto, Guilherme Gontijo Flores e Prisca Agustoni.

“O Prêmio Oceanos é um trabalho coletivo constante de promoção da língua portuguesa, e existe para colocar os leitores diante da produção literária da geração contemporânea de escritores do idioma – geração esta que é muito bem representada pelos 10 livros finalistas de 2023” diz Selma. “Títulos que, sem exceção, nos arrancam da imobilidade ao reconhecer e denunciar traumas passados e recentes, e apontar novas perspectivas”, completa.

“A cada edição percebemos um amadurecimento do Oceanos, ainda mais próximo do que pensamos desde o início: promover um real e efetivo intercâmbio entre editores e autores dos países de língua portuguesa. O resultado em 2023 fortalece este propósito”, diz Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural. “A novidade desta edição – dividir as categorias entre prosa e poesia, com dois júris diferentes para avaliar os inscritos – é mais um passo nessa direção.”

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