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Exposições

Dona Onete, a rainha do carimbó chamegado, ganha exposição em São Paulo

É no centro cultural que parte da rica história de vida da cantora e compositora nascida na Ilha de Marajó é contada na “Ocupação Dona Onete”

FolhaPress

16/03/2023 13h49

Foto: Reprodução

Luccas Oliveeira
São Paulo – SP

Dona Onete, de 83 anos, diz que poucos quilômetros -quatro, para ser quase exato– separam o Itaú Cultural, na avenida Paulista, do Bar Brahma, no famoso cruzamento entre as avenidas Ipiranga e São João.

É no centro cultural que parte da rica história de vida da cantora e compositora nascida na Ilha de Marajó é contada na “Ocupação Dona Onete”, onde ela é a primeira homenageada do ano. A exposição, com entrada gratuita, segue em cartaz até 18 de junho.

Já o bar tem uma importância particular na vida de Dona Onete. Foi lá, no início da década de 1980, que a então professora Ionete da Silveira aproveitava os intervalos de uma viagem com fins de militância para se divertir cantando.

À época, ela vinha da pequena Igarapé-Miri, onde lecionou história, foi secretária de Cultura e líder da associação de professores, para participar da fundação da Central Única dos Trabalhadores, a CUT.

Até então, nem sonhava em ganhar a vida como cantora, ofício que só assumiu profissionalmente depois de se aposentar, primeiro como integrante do Coletivo Rádio Cipó e, desde 2012, numa carreira solo que já rendeu três discos de estúdio, com um quarto em fase final de produção, além de turnês internacionais e a alcunha de rainha do carimbó chamegado.

“Já usava esse meu lado cantora na sala de aula. Minhas aulas eram muito recreadas. Não tinha aluno fugindo para jogar bola. Eles queriam ouvir minhas histórias, porque eu sabia de muitos causos”, diz.

De fato, nas letras que compõe -são mais de 300 já escritas-, Dona Onete se porta como uma contadora de histórias. Seus versos estão encharcados de cultura e tradições paraenses, da culinária à geografia, dos costumes ao sincretismo religioso, temperados com humor e duplo sentido.

Acompanhadas por uma banda liderada pelo mestre da guitarrada Pio Lobato, suas canções ganham tratamentos musicais que partem da memória musical dela, usando como norte ritmos como carimbó, o bolero, a cúmbia colombiana e o banguê antes de ganhar o chamego característico.

O apelido para sua releitura moderna da música tradicional paraense nasceu de uma faixa do disco de estreia, “Feitiço Caboclo”, lançada em 2012, batizada exatamente de “Carimbó Chamegado”.

“Quis trazer um swing diferente, que é só meu. Eu lá, naquela cadeira de rodas, é difícil fazer o que faço, levantar a galera, botar todo mundo para dançar”, diz, sem falsa modéstia, a cantora se apresenta nesta quinta e sexta-feira no Itaú Cultural, com ingressos esgotados.

Instalada no térreo do centro cultural, a exposição faz uso de elementos audiovisuais e táteis para trazer este Norte fantástico, místico, colorido e rico que Dona Onete canta em suas letras. Ela é dividida em três pilares fundamentais para a história da artista -Território, Encantaria e Palco.

Entre manuscritos originais de letras, depoimentos de Fafá de Belém, Felipe Cordeiro, familiares e, claro, da própria cantora, os visitantes poderão, com os vídeos, aprender a dançar carimbó com uma professora mirim do Instituto de Artes de Igarapé-Miri ou a cozinhar pratos com a flor de jambu, cujas propriedades medicinais e afrodisíacas são cantadas em músicas como “Jamburana” e “Queimoso e Tremoso”, dois dos grandes sucessos de Dona Onete.

Depois de contrair Covid-19 duas vezes, ela até evita citar nominalmente o vírus que a fez ser internada com infecção pulmonar e a obrigou a mudar alguns planos. Ela tem ficado mais em casa, no bairro da Pedreira, em Belém, conhecido como o bairro do samba e do amor, e o retorno à rotina dos palcos vem sendo mais cauteloso.

As propostas para novas turnês internacionais se acumulam. Desde “Banzeiro”, seu álbum de maior sucesso, lançado em 2016, ela já tocou diversas vezes na América do Norte, Europa e Oceania. As turnês são retratadas na ocupação através de lambe-lambes expostos em um corredor. As longas viagens, porém, são um empecilho.

Com isso, “Bagaceira”, seu quarto disco de estúdio, o primeiro desde “Rebujo”, de 2019, virou o foco. “Estamos naquela fase ‘tira uma música, bota outra'”, diz ela, antes de adiantar que o álbum terá, como era de se esperar, um clima festivo.

“A bagaceira é a festa do interior do Pará. Se você for a uma, não quer mais sair. É uma bagaceira tremenda. Toca brega, merengue, lambada, carimbó, guitarrada e bebe daqui, toca música de lá. Você sai sem saber se o sapato que está calçando é mesmo o seu.”

OCUPAÇÃO DONA ONETE
Quando Ter. a sáb., das 11h às 20h, dom., das 11h às 19h. Até 18 de abril
Onde Itaú Cultural – av. Paulista, 149
Preço Grátis
Classificação Livre

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