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Em livro, arquiteto brasiliense retrata a capital sob o olhar de quem a viu crescer

Lançamento ocorre no dia 22 de setembro, às 19h, com roda de conversa e noite de autógrafos, na Livraria Travessa

Redação Jornal de Brasília

20/09/2022 14h18

Foto: Divulgação

Até hoje, o arquiteto, urbanista, professor e servidor público aposentado Eustáquio Ferreira Santos não esquece do dia em que chegou à futura capital do país. Era o ano de 1958, e o garoto de 14 anos viu se abrir diante dos seus olhos os canteiros de obras. No caminhão comprado pelo pai, ele e a família vinham de Anápolis (GO) ajudar a construir o sonho do Brasil central. “Vi os esqueletos dos prédios da Esplanada e tinha curiosidade para saber como eram feitos, de quais materiais. Tudo aquilo era, o meu dom”.
Os olhos curiosos do garoto mineiro nascido em São Gotardo acabam de ganhar precioso registro no livro “Eterna Primavera”, que reúne 186 crônicas debruçadas sobre essa “capital a fazer” que se tornou Patrimônio Imaterial da Humanidade.

O lançamento ocorre no dia 22 de setembro, às 19h, com roda de conversa e noite de autógrafos, na Livraria Travessa (Casa Park), onde os livros serão distribuídos gratuitamente. Com tiragem de 1500 exemplares, a obra tem distribuição gratuita graças ao recurso do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC).

“Quando eu passo por um espaço, eu esquadrinho cada centímetro. Olho as árvores, vejo a quantidade de passarinhos, percebo a relação da natureza com o homem. É um movimento orgânico. Então, a crônica é um exercício de observação cotidiana da cidade, o desenvolvimento e manutenção como capital, a infraestrutura de serviços sobre ação da administração pública e a interação da população”, aponta Eustáquio Ferreira, que, há uma década, escreve assiduamente no blog “Ambiência Brasília”.

Flores e arquitetura

Eustáquio conta que a inspiração para o título “Eterna Primavera” remete ao encanto que as florações das árvores despertam nos moradores da capital. “Juntamente com o fascínio que a arquitetura de Brasília exerce sobre a população do Distrito Federal”, conta o autor, que, por 20 anos, atuou na área de planejamento do governo do Distrito Federal, exercendo diversas funções, como Administrador do Núcleo Bandeirante e Diretor da Sociedade de Habitação de Interesse Social – SHIS.
Com linguagem ágil, conhecimento urbano e consciência social, Eustáquio Ferreira traça um histórico e crítico retrato de Brasília. Em “Escolas eram obras de notórios arquitetos”, mostra que, até o golpe militar de 1964, as edificações educacionais eram assinadas por nomes como José Souza Reis (Colégio Elefante Branco) e Oscar Niemeyer (Escola Classe SQS 308). “Nos governos recentes, tivemos até escolas de lata, construídas em espécies de containers, onde o calor era insuportável”, pontua.

A preocupação ambiental, a saúde pública e a cultura também dialogam com o olhar do cronista. Em “Silêncio, música e carnaval”, ele discute a tensa relação entre moradores das quadras do Plano Piloto e os bares da vizinhança a partir da Lei do Silêncio e suas consequências. “Vale lembrar dos muitos músicos originários de Brasília, com reconhecimento nacional, que começaram suas carreiras tocando nas garagens de suas casas, o que seria impossível na vigência dessa lei”.
Professor universitário e arquiteto, Lenine Monteiro destaca que a leitura de “Eterna Primavera” faz com que o leitor possa se debruçar sobre as contradições da cidade e delas extrair o que teve de melhor e mais significativo: “A consolidação de formas de convivência entre brasileiros dos mais diferentes quadrantes que para aqui vieram e criaram uma maneira diferente e crítica de enxergar nossa terra, capaz de ressaltar virtudes e apontar lacunas em nosso processo de desenvolvimento”.
Uma parte da tiragem de “Eterna Primavera” será destinada a bibliotecas, escolas públicas e universidades de arquitetura.

Menino valente

Em 1965, Eustáquio Ferreira ostentou o orgulho de ser um dos calouros de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB). Saiu formado, em 1971, com a experiência de ter sido professor de matemática na Escola Agrícola, em Planaltina, e diagramador do jornal Correio Braziliense.
“Quando eu cheguei à Universidade de Brasília, tinha acabado de construir uma casa na quadra 704 Sul. Era mestre de obras na empresa de meu pai, onde trabalhava desde os 14 anos. Entrei na UnB já sitiada pelo golpe militar e foi ali que eu me tornei um estudante politizado. Tornei-me amigo de Honestino, que esteve presente em meu casamento”, conta Eustáquio Ferreira, que chegou a ser preso pela ditadura militar por três dias durante um protesto estudantil envolvendo o então embaixador dos Estados Unidos.
“Eu vim dessa visão mais interiorana, da lida do trabalho e conheci esses jovens que chegavam de São Paulo e de outros estados com uma outra postura politizada sobre o golpe militar e a censura. Testemunhei as invasões, vi muitos desaparecerem, como o meu amigo Honestino, cujo corpo nunca foi encontrado. Ajudei muita gente a fugir da repressão. Cheguei a guiar pessoas para sair pelo Paraguai”, orgulha-se Eustáquio Ferreira, que, aos 77 anos, discute diariamente, com amigos, sobre o urbanismo e o bem-estar de Brasília e do Brasil em grupos de WhatsApp.

Serviço
Lançamento do livro “Eterna Primavera”

22 de setembro, quinta-feira
A partir das 19h30
Livraria Travessa, no shopping Casa Park

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