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Cinema

É Tudo Verdade exibe série célebre de Godard e filmes sobre Guerra da Ucrânia

Steve James, aliás, está entre os selecionados para a competição internacional do festival

FolhaPress

28/03/2023 11h24

Foto: Reprodução

Pedro Strazza
São Paulo – SP

O É Tudo Verdade divulgou nesta terça (28) a programação da edição de 2023 do festival, um dos maiores dedicados ao documentário no mundo. Em seu 28° ano, o evento acontece entre os dias 13 e 23 de abril, em salas de cinema de São Paulo e Rio de Janeiro.

Entre os destaques, a programação reúne filmes sobre a guerra da Ucrânia. Está prevista a exibição de “Liberdade em Chamas”, por exemplo, sequência do elogiado “Winter on Fire”, de 2015, que explora a realidade do conflito a partir das raízes históricas. O cineasta ucraniano Sergei Loznitsa, por sua vez, retorna ao festival com “A História Natural da Destruição”, sobre o envolvimento da população civil em conflitos armados.

Mas quem chama a atenção este ano são os homenageados. Dentre os 72 títulos selecionados, vindos de 39 países, o É Tudo Verdade tem programação extensa dedicada ao brasileiro Humberto Mauro, pioneiro do audiovisual brasileiro cuja morte completa 40 anos em novembro, e Jean-Luc Godard, morto em setembro do ano passado.

O cineasta francês rende programação de luxo na mostra. O evento passa na íntegra o “História(s) do Cinema”, série documental feita por Godard entre os anos 1980 e 1990 em que ele investiga sua relação sentimental com a arte. A exibição dos oito episódios são fruto de uma parceria com a embaixada da França, que banca parte dos custos. Há ainda “Godard Cinema”, longa de Cyrill Leuthy sobre o diretor, que está na competição.

Segundo Amir Labaki, criador e curador do É Tudo Verdade, a inclusão do seriado é uma forma de contemplar um dos artistas mais importantes do século 20 por uma faceta que não é tão conhecida do público brasileiro. Ele diz que “História(s) do Cinema” só passou no país em outras duas ocasiões, a última ocorrendo há cerca de 15 anos.

“Outros documentários sobre cinema tem preocupação histórica muito grande, o que não é o caso com o Godard. Ele não está respeitando uma cronologia, mas uma leitura poética e política da forma com essa arte o impactou, uma autobiografia muito diferente e contemporânea.”

No caso de Mauro, serão dez produções exibidas no circuito do evento, incluindo os curtas “Um Apólogo”, “Cantos de Trabalho”, “Carro de Bois”, “O Cysne”, “Engenhos e Usinas”, “Henrique Oswald”, “O João de Barro”, “Lagoa Santa”, “Manhã na Roça” e “Victoria Regia”. Outros dois documentários dedicados ao brasileiros estão no festival: “Mauro, Humberto”, lançado em 1975 por David Neves, e “Humberto Mauro, Cinema É Cachoeira”, de 2018.

A seção é um sonho antigo de Labaki, mas que só acontece agora graças à normalização das atividades da Cinemateca Brasileira, onde há uma variedade maior de cópias em boa qualidade do cineasta.

Ele também vê uma questão de timing na homenagem. Com o fim do governo Bolsonaro, o qual define como um período de terra arrasada para a cultura, o criador do festival acredita ser oportuno retomar as lições deixadas por um dos patronos do cinema nacional, no intuito de fomentar um renascimento da produção. Esse cenário inclui o próprio evento.

“O É Tudo Verdade é um sobrevivente do governo Bolsonaro. Saímos com muitas cicatrizes, mas conseguimos fazer o festival durante todos os anos e ganhamos prestígio internacional.”

O maior sinal dessa posição fortalecida é o Oscar. O É Tudo Verdade hoje oferece quatro vagas de elegibilidade para o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, todas dedicadas aos vencedores das mostras competitivas. E há resultados: “Navalny”, campeão de documentário deste ano, esteve na última edição.

Duas produções abrem a programação no próximo dia 12 de abril. No Rio de Janeiro, a sessão inaugural será “1968 – Um Ano na Vida”, dirigido por Eduardo Escorel e que reúne fatos e acontecimentos da época a partir do diário da irmã, a escritora Silvia Escorel.

Já São Paulo sedia a primeira exibição no país de “Subject”, de Jennifer Tiexiera e Camilla Hall, que explora as vidas de pessoas que viraram temas de documentários célebres. Entre os entrevistados, estão os protagonistas de “Basquete Blues”, filme de Steve James lançado em 1994, e “A Escada”, seriado de Jean-Xavier de Lestrade que é considerado pai dos programas true crime, sucesso no streaming atualmente -além de base para uma série ficcional com Colin Firth e Toni Collette, lançada no ano passado.

Steve James, aliás, está entre os selecionados para a competição internacional do festival. “Um Espião Compassivo” conta a história do mais jovem físico a fazer parte do Projeto Manhattan, responsável pela criação da bomba atômica.

Há também dois longas sobre estrelas internacionais na seção: “Little Richard – Eu Sou Tudo”, produção de Lisa Cortez dedicada ao ícone negro do rock, e “Still: A Michael J. Fox Movie”, longa de Davis Guggenheim sobre o astro hollywoodiano.

A mostra competitiva inclui ainda “Casa Silenciosa”, de Farnaz Jourabchian e Mohammadreza Jurabchian; “O Caso Padilla”, de Pavel Giroud; “Confiança Total”, de Jialing Zhang; “O Desperta de Aurora”, de Inna Sahakyan; “Front do Leste”, de Vitaly Mansky e Yevhen Titarenko; “Não Alinhado: Cenas dos Rolos de Labudovic”, de Milla Turajilic; “Pianoforte”, de Jakub Piatek; e “Rezando pelo Armagedom”, de Tonje Hessen Schei.

A mostra competitiva nacional deste ano é outra abastecida de figuras conhecidas. Eliza Capai, de “Espero Tua (Re)volta” e a minissérie “Eliza Matsunaga: Era uma Vez um Crime”, estreia no festival o filme “Incompatível com a Vida”. Já Susanna Lira, que dirigiu “Torre das Donzelas”, lança “Nada Sobre meu Pai”.

A elas, se juntam na seleção “171”, de Rodrigo Siqueira; “Amanhã”, de Marcos Pimentel; “O Contato”, de Vicente Ferraz; “Morcego Negro”, de Chaim Litewski e Cleisson Vidal; e “Santino”, de Cao Guimarães.

Nos curta-metragens, são 18 títulos competindo, sendo nove nacionais e nove internacionais.

Fora de competição, o festival ainda exibe os filmes “Antunes Filho, do Coração para o Olho”, de Cristiano Burlan; “Lowndes County e o Caminho para o Poder Negro”, de Sam Pollard e Geeta Gandbhir; “Lixo Fora de Lugar”, de Nikolaus Geyrhalter; “Três Minutos – Uma Duração”, de Bianca Stigter; e “Vire Cada Página: As Aventuras de Robert Caro e Robert Gottlieb”, de Lizzie Gottlieb.

O filme escolhido para o encerramento é “Proibido para Cães e Italianos”, documentário de animação dirigido por Alain Ughetto que saiu vencedor do prêmio Gan Foundation no último Festival de Annecy.

O É Tudo Verdade conta com programação de debates e palestras, e tem duas ações online em 2023. Enquanto o Sesc Digital vai exibir dois filmes da mostra latina, “Beleza Silenciosa” e “Hot Club de Montevideo”, o Itaú Cultural Play disponibiliza os curta-metragens da competição brasileira na semana seguinte ao evento, entre os dias 24 e 30 de abril.

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