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Cinema

Ator de Brasília participa de série do lutador Anderson Silva

João Ricken é o ator brasiliense que está no elenco de “Anderson Spider Silva”, série sobre a vida de um dos maiores campões de MMA do UFC

Ingrid Costa

10/11/2023 5h00

Foto: Layo Stambassi

No dia 16 de novembro, estreia “Anderson Spider Silva”, uma série biográfica sobre um dos mais importantes atletas da MMA mundial. A produção, original da Paramount+, retrata a vida do lutador desde a sua infância até a vida adulta, mostrando ao público as situações que despertaram a necessidade de que o atleta tivesse forças dentro e fora do esporte.

O ator brasiliense João Ricken faz parte do elenco, composto por nomes como William Nascimento, Bruno Vinicius, Seu Jorge e Tatiana Tibúrcio. Ele interpreta Marco, um garoto que pratica bullying com Anderson na adolescência.

Aos 26 anos, Ricken é graduado em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília (UnB) e mestrando em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). O ator faz parte do Coletivo Truvação de Teatro e, em setembro, ganhou o prêmio Elmo Ferrer de melhor ator no FestCaras por sua performance em  “Joãozinha Desviada, uma peça para meu pai”. Atualmente, mora em São Paulo, mas continua desenvolvendo trabalhos no Distrito Federal e faz questão de valorizar a cultura local.

Em entrevista ao Jornal de Brasília, João falou sobre sua participação na série, contou sua história e relatou sua paixão pelo audiovisual. Confira:

 

 

Como foi participar da série?
A série do Spider foi meu primeiro trabalho desse porte, com lançamento internacional, com uma galera no elenco que já tem trabalhos grandes… Foi muito importante para mim, fiquei com a sensação de ter dado mais um passo na carreira. Eu estava me movimentando há algum tempo, fazendo testes e correndo atrás de trabalhos como esse. Pude aprender coisas valiosas com todo mundo da equipe, foi muito gratificante. Me senti um pouco “caindo de paraquedas” num trabalho gigante, mas muito feliz, porque faço teatro desde muito pequeno e tenho consciência do caminho que procuro, isso fez com que eu também me sentisse preparado. Foi maravilhoso.

Como foi o processo para atuar na produção? Quais foram os desafios na composição do seu personagem?
Inicialmente, eu fiz teste para um personagem do elenco de apoio que tinha duas falas em inglês e talvez nem aparecesse no produto final. O diretor da série, Caíto Ortiz, viu e me chamou para fazer teste para outro personagem. Eu já morava em São Paulo, mas estava em Brasília fazendo um trabalho. Peguei um ônibus na hora.

Foi um processo que precisou de muito preparo, mas que também foi muito divertido. Meu personagem tem 10 anos a menos, então tem o resgate dessa época, com fala e corporalidade diferentes. Tive um preparo para as cenas de ator e outro para as cenas de briga, com coreografia e tal. Nunca imaginei que eu fosse fazer um personagem com cena de soco, achei muito massa.

Também teve todo o suporte da produção, porque a série passa por cenas que tocam na pauta racial, então tinha todo um preparo desde a preparação de elenco até a presença de pessoas ali no set cuidando para que ninguém saísse desamparado. Inclusive, eu e o Bruno Vinícius, que interpreta o Anderson adolescente, tivemos uma parceria e um cuidado um com o outro. Ele foi a pessoa com quem eu mais contracenei nesse trabalho e, como meu personagem tem esse lugar de antagonista, a gente se cumprimentava antes e depois de cada take. Cheguei um pouco perdido no meu primeiro dia de set e ele fez com que eu me sentisse super em casa.

Sobre o suporte da equipe, eles te ampararam em um momento difícil, quando seu pai faleceu durante as gravações…

A equipe toda ficou sabendo, mas esperei terminar de gravar minhas cenas do dia para informar todo mundo. Não quis contar enquanto ainda precisava gravar. Por mais difícil que fosse, eu estava fazendo a coisa que mais amo no mundo e senti que aquilo me faria bem. Conhecendo meu pai, acho que ele teria me incentivado a ir gravar também. Cheguei no set às 6h30 de um sábado, recebi a notícia do falecimento do meu pai na noite anterior. Gravei e voltei para Brasília no domingo cedinho, a tempo do velório.

O Helder Fruteira, que estava no projeto como diretor aprendiz ao lado do diretor Caíto Ortiz, ficou sabendo da notícia antes do restante da equipe. Ele foi super cuidadoso, veio conversar comigo logo no início do dia e eu comuniquei a ele minha decisão de não informar ninguém até que o dia de gravações chegasse ao fim. Foi maravilhoso ter o Helder ali me dando essa força. Ele vinha de tempos em tempos checar se eu estava bem, se estava precisando de algo, me atualizando sempre de quanto tempo faltava para finalizar cada cena… essas coisas.

A série já tem uma grande espera, boa divulgação, já existe um apelo do público. E quanto às suas expectativas, onde você espera que esse trabalho te leve profissionalmente?
Apesar da minha realidade ser distante do universo do MMA, é um projeto que eu boto muita fé. A família dele, que é de pessoas pretas, também é protagonista, e isso a gente vê pouco na televisão. Para mim, é uma honra ajudar a contar essa história. Tenho as minhas expectativas individuais de que isso seja um passo grande na minha carreira, mas também existe a expectativa de que o audiovisual continue contando narrativas importantes, histórias diferentes e projetos que tratem bem seus atores e com boas equipes.

Agora, a respeito do seu início como ator. Como e quando você começou? Em que momento você soube que essa era a área que queria seguir profissionalmente?
Eu tenho cinco irmãs mais velhas, e uma delas é atriz. Ela me levou para o teatro com 3 anos, e me apaixonei por aquele ambiente, eu me senti em casa. Depois que fiz a minha primeira peça, não quis mais largar. Eu já atuava na escola, mas comecei a levar isso a sério a partir dos meus 17 anos. Cursei Artes Cênicas e me formei na UnB, tô fazendo um mestrado na UFBA. Eu levo muito a sério meus estudos.

Depois de fazer vários testes, não ganhar papéis e ficar meses sem ser chamado, você não sabe se está dando resultado. Mas quando eu consegui esse trabalho na série, uma das produtoras de elenco se lembrou de mim de outro teste que eu tinha feito. Então, acho que é um processo contínuo que começou desde o momento que eu me senti contemplado pelo teatro.

Você já trabalhou na televisão, no cinema e no teatro. Qual dessas linguagens é a sua preferida?
Não consigo dizer qual a minha preferida, mas consigo dizer que existem trabalhos e trabalhos e que, de vez em quando, a gente se conecta de forma mais profunda com alguns deles. Como eu acredito no que eu tô fazendo, para mim é sempre um prazer estar atuando.

Acho que cada artista tem seus impulsos e entende como quer se colocar no mundo. A gente vai amadurecendo e entendendo melhor como trabalhamos, quais são as ferramentas que temos. Hoje, sinto que uso ferramentas que aprendi em todos os lugares onde coloquei o meu trabalho pra jogo.

Quais dificuldades você encontrou para seguir carreira artística no DF?
Brasília é onde eu comecei no teatro, é o lugar onde eu vi alguns dos trabalhos mais maravilhosos que já vi na vida. Há uma cena cultural linda e que vem crescendo. Não tenho nada de ruim para falar de Brasília nesse sentido. É o lugar onde eu nasci, cresci e comecei a aprender as coisas mais valiosas para a minha carreira.

Tive a experiência de me mudar para outros lugares e acho que cada um tem desafios diferentes. Não temos uma sociedade 100% igualitária, então temos que procurar mecanismos, aperfeiçoar nossos trabalhos e ir batendo nas portas que desejamos que se abram. A maioria delas não vai abrir, e as que abrirem, não vão se abrir do nada. O trabalho de ator é contínuo e desafiador.

Quais experiências você deseja ter como ator?
Cada vez mais eu quero estar em projetos nos quais eu acredito e trabalhar o máximo possível com a minha arte para o resto da vida. Quero ter trabalhos internacionais, conquistar prêmios, quero tudo isso, mas não é somente sobre reconhecimento, é também sobre conseguir construir minha vida e minha independência por meio do trabalho que faço — o que, pra mim, seria o maior privilégio. Sonho com um mercado de trabalho cada vez mais massa pra todo mundo que tá entrando e pra quem já tá aí há algum tempo. Eu quero tudo que for possível, sonho alto.

Quais seus planos para depois da série? E a longo prazo?
Para depois da série, quero terminar meu mestrado e continuar fazendo o meu espetáculo solo, “Joãozinha Desviada, uma peça para meu pai”, que tem sido uma delícia e uma troca muito genuína com o público. Tô doido pro lançamento da série e pelas próximas surpresas que a vida pode me trazer. Eu amo atuar no audiovisual e quero trabalhar cada vez mais nesse universo, tocando meus projetos, como o Coletivo Truvação, de Brasília, e outros em São Paulo e Salvador. A longo prazo, quero, simplesmente, continuar trabalhando com o que amo.

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