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Chefe da Netflix na Coreia do Sul defende política pública para produção audiovisual

Recentemente, a empresa divulgou que 60% de seus assinantes consomem produções coreanas, numa prova de que “Round 6” não está só

Redação Jornal de Brasília

15/02/2024 9h01

Foto: Reprodução

LEONARDO SANCHEZ
SEUL, COREIA DO SUL (FOLHAPRESS) –

É sempre com surpresa que Don Kang, vice-presidente de conteúdo da Netflix na Coreia do Sul, diz ler os bons números que as séries produzidas no país têm conquistado. Recentemente, a empresa divulgou que 60% de seus assinantes consomem produções coreanas, numa prova de que “Round 6” não está só.

Mas não devemos nos prender tanto aos números, diz o executivo à reportagem. “Entreter o mundo é um trabalho rigoroso, então não podemos descansar.”

A cerca de 160 quilômetros da capital da Coreia do Sul, Seul, um enorme complexo de sets de filmagem evidencia que a Netflix e o país como um todo têm planos cada vez mais ambiciosos para o audiovisual local.

É no Studio Cube, com seus 32.000 metros quadrados e tecnologia de ponta, que a segunda temporada da série que rompeu as barreiras idiomáticas e foi indicada ao Emmy de melhor drama está sendo gravada. Outras produções coreanas da Netflix, como “Profecia do Inferno”, também a fizeram de morada.

Com seus vários cubos metálicos enfileirados um ao lado do outro, o estúdio surpreende pelo tamanho. O pé-direito, ao entrar numa das salas coloridas de “Round 6”, dispensa a ajuda da computação gráfica para muitas das cenas megalomaníacas da série, elevando a importância e a inventividade do departamento de direção de arte.

Erguida pelo Ministério da Cultura, Esportes e Turismo na cidade de Daejeon em 2017, a empreitada mostra que os sonhos de grandeza da indústria audiovisual coreana são compartilhados por poder público e empresas privadas.

Kang reitera que, muito antes de a Netflix chegar ao país, talentos e incentivos locais foram imprescindíveis para tornar produtivo aquele ecossistema ?e o país, junto com a música e a culinária cada vez mais exportáveis, um exemplo de soft power no século 21, expandindo sua influência e relevância no globo por meio da cultura.

“Várias formas de incentivo do governo tiveram uma influência positiva na indústria. Foi igualmente crucial o apoio do governo para que as nossas histórias fossem exportadas, dando assistência para a compreensão de outros mercados de filmes e séries”, diz Kang.

Mas isso não quer dizer que a Netflix veja seu braço coreano como uma fábrica de produtos internacionais. O escritório da plataforma na Coreia do Sul segue uma diretriz que parece ser global, também destacada por Elisabetta Zenatti, equivalente de Kang no Brasil, em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo.

Cada escritório deve se preocupar com o público local e, justamente por isso, filmes e séries em língua não inglesa vêm conseguindo viajar para outros países cada vez mais. “Quando criamos séries que ressoam com o público local, elas têm potencial de cativar a audiência global, transcendendo as diferenças linguísticas e culturais”, diz o executivo.

“As séries coreanas têm sido imensamente populares na Coreia, graças a seu ecossistema robusto, criativo, vibrante e cheio de talentos. E isso muito antes de a Netflix começar a estabelecer parcerias na região”, diz Kang, destacando diretores como Park Chan-wook, de “Oldboy”, e Bong Joon-ho, de “Parasita”, que foram pioneiros na atenção que o cinema sul-coreano recebe hoje.

Apesar de a Netflix não divulgar detalhes sobre hábitos de consumo e assinaturas, o Brasil é hoje um dos principais celeiros de audiência para produções coreanas. Segundo a empresa, 75% dos assinantes brasileiros assistem a conteúdos produzidos na Coreia do Sul. No ano passado, 30 obras vindas de lá apareceram no ranking de mais vistos do Brasil.

E não são só os k-dramas que fazem sucesso, impulsionados pela proximidade com as novelas latino-americanas e seus melodramas. Gêneros como fantasia, ficção científica e ação, representados por “A Criatura de Gyeongseong” e “Black Knight”, entre outros, bem como reality shows, como “A Batalha dos 100”, também encontram tração entre os brasileiros.

A ligação entre Brasil e Coreia do Sul vai muito mais além, no entanto. Os dois países, hoje produtores de uma quantidade significativa de séries e filmes da Netflix, se encontram num debate complexo sobre os direitos e deveres das plataformas de streaming. Enquanto aqui a regulação do streaming avança em Brasília, lá o departamento de telecomunicações quer que seus lucros subsidiem a indústria local.

Uma das principais medidas de políticas semelhantes adotadas em países mais protecionistas, como a França, determina uma porcentagem mínima de conteúdo nacional nos acervos. Já de olho nisso, a Netflix anunciou um investimento de US$ 2,5 bilhões, equivalentes a cerca de R$ 12,4 bilhões, em seu braço coreano, dobrando o que investiu no país desde 2016.

Parte do resultado já foi visto na semana passada, quando o serviço anunciou sua enorme seleção de conteúdo coreano para este ano. Ao comparar o valor investido com aquele anunciado para os gastos no Brasil entre o ano passado e este, na casa do R$ 1 bilhão, fica claro que a Coreia do Sul é hoje a menina dos olhos da Netflix.

O jornalista viajou a convite da Netflix

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