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Coluna do Aquiles

O som de um craque

Arquivo Geral

21/06/2017 20h31

Dentre mil e uma qualidades, Antonio Adolfo tem outra que o caracteriza e realça: a sua fidelidade ao som contemporâneo e virtuoso de alguns instrumentistas que, costumeiramente, a cada gravação, dividem os estúdios com ele. E isso desde há muito tempo.

Nesse novo trabalho, Hybrido – From Rio to Wayne Shorter (AAM Music), voltam a tocar com ele Jorge Helder (baixo acústico), Rafael Barata (bateria), André Siqueira (percussão), Jessé Sadoc (trompete), Marcelo Martins (sax e flauta), Serginho Trombone (trombone) e o violão do norte-americano Claudio Spiewak. Desta vez, a guitarra ficou nas boas mãos de Lula Galvão.

Juntando seu talento ao desses cobras, tendo a garantia de que suas concepções sonoras seriam interpretadas exatamente como as concebeu, Antonio partiu para criar os nove arranjos do CD. Assim como em seus discos anteriores, cada improviso, cada levada, cada riff, brotam cristalinos, tatuados que estão na alma do grande arranjador que ele é.

Hybrido – From Rio to Wayne Shorter tem oito temas de autoria desse saxofonista e compositor norte-americano, a quem Antonio Adolfo presta tributo. O CD abre com “Deluge” (WS): uma introdução marcada pelo som do piano, somado à levada suave da bateria, antecede a entrada do naipe de sopros. Na sequência, após alguns compassos, o piano toca a melodia. Logo vem o ritmo, com destaque para o tamborim. É quando o trompete, absolutamente criativo, improvisa. A bateria segue firme. O piano brilha no arranjo. O improviso segue num crescendo irrepreensível. O contrabaixo, junto com a bateria, segura o andamento. O jazz segue em sintonia com o samba. A guitarra improvisa. Voltam os sopros. A melodia de Wayne Shorter é bela, como belo é o arranjo. As digitais do piano de Antonio Adolfo se revelam por inteiro. Piano e pianista apontam o caminho para o fim do arranjo.

Chama atenção a presença do cantor Zé Renato em “Footprints” (WS). O piano e a percussão abrem passagem para que sua voz junte-se a eles, enquanto a eles os sopros também se achegam. Sua voz afinada brilha entre os sons. Linda melodia. A guitarra sola. O piano responde. O contrabaixo suinga. A guitarra volta a improvisar. A voz de Zé Renato vem com o trompete, que logo improvisa sobre o tema. Tendo a apoiá-lo o contrabaixo e a bateria, o piano sola e segue em destaque. O contrabaixo improvisa. A bateria segura as pontas. A voz e o piano trazem a melodia de volta. Os sopros misturam-se ao piano, enquanto a voz se destaca… Meu Deus!

Fechando a tampa, “Afosamba”, composição de Antonio Adolfo – mistura de samba com afoxé. Lá estão os sopros. O piano reina no samba. O naipe de sopros está junto. Uma virada da bateria antecede o improviso do trompete. Surge o tamborim. O afoxé vem com a guitarra e a cuíca. Logo o solo é do piano. A bateria firma o ponto, até que, após uma virada, os sopros voltam. A guitarra brilha… E assim, com genialidade e virtuose explícitas, rola mais um trabalho de Antonio Adolfo.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

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