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Brasília

Wellington: “Eu não vim para Brasília para ficar apanhando”

Em entrevista ao Jornal de Brasília, o carioca Wellington Luiz conta sobre a história de vida do Rio até chegar na capital federal

Pedro Marra

03/06/2020 12h32

Há quatro anos, Wellington Luiz Maganha, 30 anos, veio de Niterói-RJ para morar em Brasília na busca de trabalho. O rapaz, agredido por policiais militares na noite da última segunda-feira (2) com socos e golpes de cassetete, foi dado como pessoa em situação de rua nas primeiras informações. Na verdade, ele mora com a esposa em Planaltina e trabalha como vendedor de balas em ônibus. Foi de ônibus, inclusive, em uma excursão de igreja evangélica, que o rapaz veio à capital do país em busca de uma vida melhor.

“Lá no Rio estava difícil demais [para conseguir emprego], aí uma igreja em que eu fazia trabalho missionário me trouxe para cá. Então eu não vim para Brasília para ficar apanhando, vim para trabalhar. Inventaram isso [sobre pessoa em situação de rua]. Eu não sou ‘morador de rua’ e nunca morei na rua. Não vim para morar na rua. Tenho casa e moro com a minha mulher. Eu trabalho. Sou cidadão certo”, desabafa Wellington, que é vendedor ambulante.

Filho de um marinheiro e uma dona de casa, o rapaz já trabalhou como gesseiro e também atuou em um supermercado. A mãe faleceu por infecção hospitalar quando ele ainda era prematuro.

“Minha avó desmaiou”

Ao receber a notícia das agressões, a família de Wellington ficou bastante abalada. “Meu pai ficou muito triste, revoltado com a situação, querendo justiça também. Ele queria vir para cá, mas eu falei para ele não vir porque não tem necessidade. Tenho tio lá. Minha avó passou mal, caiu e desmaiou quando ficou sabendo do que aconteceu comigo. Minha família está com muita raiva, mesmo”, relata.


Wellington conta que jamais passou por uma abordagem tão agressiva como essa. “Nunca aconteceu de eu ser esculachado. Já fui abordado normalmente, mas tomar tapa na cara, apanhar, nunca aconteceu”, lamenta.

“O trabalho da Polícia tem que ser exemplar, trazer a paz, não a tristeza e a guerra.”

Além de vendedor ambulante, ele diz que pretende ser soldador (outra profissão do pai) e não medirá esforços para continuar trabalhando. “Não vou ficar sem trabalhar, porque temos que ser dignos do nosso pão de cada dia. Sempre vou correr atrás trabalhando. Se não tiver trabalho de carteira assinada, procuro um capim para capinar, vendo uma bala e vou ganhar o meu dinheiro suado.”

Quatro anos depois vir do Rio em busca de emprego, Wellington ainda não conseguiu emprego fixo. “Tenho o sonho de ter um trabalho registrado, com carteira assinada. Já enviei muitos currículos. Tenho vontade de fazer um curso, sou soldador, para ter um futuro melhor. Vendendo bala eu ralo demais para poder levar alimento para casa”, conta.

“Nunca desrespeitei o trabalho deles”

Wellington considera lamentável o que aconteceu com ele, e espera que sirva de exemplo para a Polícia Militar. “Se eu tivesse vendo uma situação dessa acontecendo, não iria gostar nem um pouco. É lastimável. Eu poderia ser qualquer um: negro, branco, japonês ou chinês. Eu iria me manifestar. O meu celular estava no bolso e quebraram ainda. Eles não queriam saber”, relembra.

“Eu nunca desrespeitei o trabalho deles, até porque há muitos policiais que trabalham corretamente. Mas ali foi um erro muito grande. Fui pego no susto. Tirei a minha camisa de tão desesperado que fiquei. O pessoal na hora não gritou e falou nada, porque estavam com medo de serem agredidos também”, recorda.

Wellington ainda carrega hematomas por conta da agressão sofrida. Foto: Pedro Marra/Jornal de Brasília

O rapaz conta que além dos hematomas nas costas, braço, virilha e crânio, ele está com a audição prejudicada por conta da pedrada que sofreu do policial. “Está doendo muito. Não consigo nem deitar direito por causa da pancada. Por isso estou meio surdo”, acrescenta.

Wellington foi liberado pelo Hospital Regional de Planaltina (HRP) na tarde de terça (2) após colocar curativos. “Me sinto humilhado”, afirmou ao JBr.  O rapaz vai receber novo atendimento no Hospital de Planaltina na próxima terça (9).

Vaquinha

O rapaz que filmou a agressão decidiu organizar uma vaquinha para arrecadar donativos para a vítima.  Machucado e sem emprego fixo, Wellington precisa de roupas, remédios e alimentos.

Os criadores explicam que todo o valor arrecadado será repassado a Wellington. Eles se dispõem a buscar os donativos onde os doadores desejarem, ou negociar uma entrega, a depender do caso. Além disso, o grupo promete postar imagens dos itens recebidos e das transações bancárias. 

Clique no link e veja a vaquinha criada para Wellington Luiz.

Nota

Após o caso, a Polícia Militar afirmou que afastou os dois policiais que agrediram Wellington. A corporação alega que “não há que se falar em atitude racista, mas de excesso na ação policial”.

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