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Brasília

Servidores da assistência social sofrem com insegurança

Uma das vítimas teve o carro incendiado em frente ao Creas de Taguatinga

Larissa Galli Malatrasi

28/01/2020 7h14

Servidora tem carro incendiado na porta do Creas de Taguatinga Sulfoto : divulgacao

O carro de uma servidora do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) de Taguatinga Sul foi incendiado na manhã de ontem no estacionamento do local. Esse foi mais um caso da crescente violência contra servidores da Assistência Social do Distrito Federal. Servidores contaram ao Jornal de Brasília que diariamente são alvos de ameaças e agressões verbais e até físicas.

A vítima de ontem — que preferiu não se identificar— é agente social e trabalha do Creas de Taguatinga Sul há mais de dez anos na acolhida da população vulnerável. “Eu atendo pessoas vulneráveis, geralmente em situação de rua. Muitos saem do Creas revoltados por não ter especialistas para atendê-los, por não ter vagas em abrigos ou por não poder receber o benefício”, conta.

Segundo relato da servidora, por volta de 10h, o vigilante do local a abordou para avisar que o veículo estava em chamas. “Por sorte, havia pessoas na frente do estacionamento que viram o carro logo quando começou pegar fogo e gritaram — assim eu consegui correr para pegar o extintor e apagar as chamas. Felizmente, o prejuízo material não foi tão grande”, disse. Para ela, a questão financeira nem é tão importante. “O pior de tudo é a insegurança e o medo de acontecer algo pior”, lamenta.

A servidora registrou ocorrência na 21ª Delegacia de Polícia, em Taguatinga Sul. “Acredito que foi um ato criminoso porque havia um galão vazio do lado do meu carro. A pessoa que fez isso estava com a intenção de causar mal”, pontua. De acordo com ela, o perigo no local de trabalho é quase constante. “O meu carro foi o primeiro, mas já tivemos casos de vidros de carros quebrados, carros arranhados, além de recebermos ameaças e agressões verbais. Tem gente que fala que vai voltar armado ao Creas para ver se consegue algum benefício”, relata.

Segundo a servidora, os problemas no local de trabalho não param por aí. “Hoje estamos trabalhando com apenas 20% do efetivo. São apenas 1.200 servidores em toda a secretaria. Eu já poderia ter aposentado, mas parei o meu processo de aposentadoria porque não tem ninguém para entrar no meu lugar”, conta. Além disso, ela também reclama da falta de segurança. “Só tem um vigilante atualmente. Antes eram dois, mas cortaram o pessoal de segurança.”

O presidente do Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do DF (Sindsasc), Clayton Avelar, afirmou que o órgão tem recebido uma série de relatos de violência em unidades de atendimento. “Na semana passada, um vigilante do Centro de Referência em Assistência Social (Cras) de Sobradinho foi esfaqueado. No Cras do Areal, servidores foram ameaçados de morte. O Cras de Samambaia passou por situação de assalto armado e precisou ser fechado devido à falta de segurança. No ano passado, no Restaurante Comunitário da Estrutural, servidores foram feitos de reféns durante um assalto”, elenca.

Uma servidora da unidade de Sobradinho — que também preferiu não se identificar — confirmou que a violência por parte dos atendidos é recorrente. “Na verdade, o serviço de assistência social vem recebendo as negativas do que o Estado não consegue dar conta”, lamenta. Ela presenciou a facada que um vigilante do local onde trabalha levou. “Muitas vezes a gente sofre ameaças e violências verbais e físicas — como aconteceu do vigilante ser esfaqueado.”

A servidora trabalha há dez anos com assistência social e afirma que a procura pelos serviços das unidades tem aumentado. “Mas não temos servidores suficientes para atender. Os usuários estão mais agressivos frente à recusa do atendimento, seja por falta de condições de atendimento no momento, seja porque não estão no critério de concessão do benefício”, pontua.

Paralisação

Segundo o presidente Clayton Avelar, os servidores estão reclamando que a violência se tornou uma coisa cotidiana. “O pessoal já trata como se receber ameaças fosse inerente ao serviço — e a gente não pode achar que isso é normal”, pontua. Ele ainda afirmou que, durante reunião da diretoria do sindicato na tarde ontem, por “receio de acontecer algo mais grave”, a categoria estava marcando uma paralisação de 24 horas e realização de assembleia na próxima sexta-feira.

A reportagem tentou entrar em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal (Sedes), mas eles não atenderam as ligações e não responderam o e-mail até o fechamento desta edição.

Nota

A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) lamenta o ocorrido da manhã desta segunda-feira (27) e destaca que, imediatamente, a servidora dona do veículo dirigiu-se à delegacia de polícia para registrar o fato, ocorrido no estacionamento público próximo ao Creas de Taguatinga. Além disso, a equipe do local acionou o Disque 190 para tomar as devidas providências, pois por ser uma situação externa à unidade, a equipe de vigilância da unidade não tem autonomia para agir.

No entanto, para intensificar a questão da segurança dentro das unidades, a pasta está em fase de criação de um grupo de trabalho que vai elaborar uma nota técnica para contrato. O objetivo é adequar à realidade de cada região, por exemplo, aumentando postos de vigilância, e melhorar a atuação desses profissionais, com o uso de armas não letais e detectores de metais.

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