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Brasília

Sequestro de bebê no Hran coloca vigilância em xeque

Arquivo Geral

07/06/2017 7h00

Foto: Myke Sena

Eric Zambon e Manuela Rolim
redacao@jornaldebrasilia.com.br

Sob o olhar de 17 vigilantes por turno e 28 câmeras do circuito interno, um recém-nascido foi sequestrado, pouco antes do meio-dia, no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), ontem. A segurança da unidade, todavia, fica só na aparência. Todos os equipamentos, até mesmo os seis instalados no segundo andar, de onde a criança com 12 dias de nascida foi raptada, não estão gravando. A informação foi confirmada pela Secretaria de Saúde. O cenário, portanto, coloca em prova a proteção de pacientes. Muitos, inclusive, reclamam da falta de fiscalização ao entrar e sair.

Durante coletiva de imprensa, horas após o desaparecimento, a direção do hospital não soube explicar ou deixou a cargo da Polícia Civil uma série de questionamentos. O caso foi registrado na 5ª DP (Área Central), mas será investigado pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS). O diretor-geral do Hran, José Adorno, relatou que a família receberia alta hoje. “Fomos noticiados por uma supervisora de enfermagem que o bebê não estava no leito”, afirmou Adorno.

O filho de Sara Maria da Silva, 19 anos, foi raptado no momento em que ela o deixou no alojamento conjunto – quando ambos dividem o mesmo ambiente – para participar de uma atividade perto do quarto. A ação era semelhante a um dia de beleza e durou poucos minutos. Ela mesma deixou o filho no leito. O bebê nasceu no último dia 25, na Estrutural.

“O caso foi descoberto quando a equipe foi retirar o acesso venoso da criança para liberá-la no dia seguinte. A mãe já estava de alta. Diante disso, o bebê, por mais que tenham retirado a agulha depois do sequestro, pode carregar alguma marca, um sinal ou um roxo, o que pode auxiliar nas investigações”, acrescentou o diretor.

Entrada e saída difíceis de explicar

O diretor do Hran, José Adorno, afirma ainda que a mãe dividia o alojamento com outra paciente e mais um bebê. “Depois da ocorrência, o local foi isolado”, destacou. O diagnóstico com a causa da internação do recém-nascido também foi preservado pelo hospital.

Questionado sobre a segurança na instituição, Adorno explicou que “ninguém entra na maternidade sem ser identificado na portaria central. Além disso, existe um critério para a saída da unidade. As mães recebem um protocolo quando os filhos ganham alta e todas as bolsas são verificadas. Apesar do caso, o restante dos pacientes está em segurança”, garantiu.

No entanto, o responsável pela unidade afirmou que “de alguma forma, muito disfarçadamente, o sequestrador passou por um vigilante”. O sequestro não aconteceu durante o horário de visitas – das 15h às 16h.

Versão oficial

  • A Secretaria de Saúde atribui o problema das câmeras a um contrato barrado pelo Tribunal de Contas. Em nota, o TCDF informou que, em 2016, fez auditoria e concluiu que, das 900 câmeras adquiridas pela pasta, apenas 95 foram instaladas; dos 15 storages previstos para armazenagem de rede, só três foram configurados; e dos quatro gerenciadores de sistema, apenas um foi configurado. A conclusão foi que os hospitais não possuíam a estrutura adequada para o funcionamento completo do monitoramento. No Hran, o sistema nunca operou.

Mãe

Sara Maria da Silva sofre de algum problema psiquiátrico ainda não diagnosticado, conforme o conselheiro tutelar Djalma Nascimento. Ele compareceu à Delegacia de Repressão ao Sequestro (DRS), no início da noite de ontem, para entregar a certidão de nascimento da mulher. Conforme o profissional, o Conselho Tutelar da Estrutural, onde mora Sara, acompanha o caso, pois, durante o pré-natal, ela teria informado ter 14 anos.

“Devido à idade, nós passamos a atuar, mas depois descobrimos que ela era maior de idade. Acreditamos que ela possa ter alguma coisa, quando você conversa com ela percebe que não parece alguém da idade dela”, revelou Nascimento. O conselheiro afirma que a jovem morava com a tia antes de engravidar, mas, devido à situação de vulnerabilidade, se mudou para a casa da sogra, onde vivia também com o pai da filha.

Ele fez um apelo para o responsável pelo crime devolver a criança o quanto antes, pois a bebê precisaria de acompanhamento médico. “Ela precisa ser observada por um profissional. Se você está com ela e não quer se apresentar, que deixe na delegacia, mas devolva. A mãe está desesperada”, clamou.

A principal suspeita é de que a criança tenha sido levada em uma bolsa por uma mulher ruiva, segundo relatos da família ao Conselho Tutelar. A Polícia Civil ficou de divulgar um retrato falado da suposta sequestradora, mas, até o fechamento desta edição, a identidade dela permanecia reservada.

Memória

Caso Pedrinho

  • Há 31 anos, o recém-nascido Pedro Rosalino Braule Pinto, conhecido como Pedrinho, foi sequestrado da maternidade do Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul, e permaneceu desaparecido até 2003. A neta de um ex-marido de Vilma Martins Costa, condenada pela Justiça como sequestradora do menino, fez a denúncia após desconfiar da origem do familiar.
  • Na ocasião, uma mulher se passou por funcionária do hospital para levar o menino dos braços da mãe a pretexto de “realizar exames”. Conforme a polícia descobriu depois, em investigação encabeçada pelo atual deputado federal Laerte Bessa, a criança foi levada imediatamente para o norte de Goiás, onde foi registrada como Osvaldo Martins Borges Júnior, em alusão ao nome do pai adotivo.
  • O caso virou documentário e livro, além de ter mobilizado a imprensa nacional e internacional. A mãe adotiva de Pedrinho também foi acusada do sequestro de sua outra filha, Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva, registrada como Roberta Jamilly. Vilma confessou apenas ter contratado o serviço de uma quadrilha para adquirir um bebê, mas negou ter ido pessoalmente ao hospital sequestrar a criança.

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