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Brasília

Pandemia: mais jovens ocupam leitos de UTI

No Distrito Federal, entre 40% e 60% dos leitos são ocupados por pacientes com menos de 59 anos de idade

Lucas Neiva

26/05/2020 7h12

UTI do Instituto Hospital de Base de Brasília. foto :Lucas Neiva

Uma pesquisa realizada por analistas da Sala de Situação da Universidade de Brasília (UnB) revela que, mesmo havendo maior letalidade entre pessoas idosas e/ou em grupos de risco, os considerados jovens ainda ocupam boa parte dos leitos de UTI da rede pública durante a pandemia do covid-19. No Distrito Federal, entre 40% e 60% dos leitos são ocupados por pacientes com menos de 59 anos de idade.

A pesquisa foi realizada a partir de dados fornecidos pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Os cortes de faixa etária foram divididos a cada 10 anos de idade entre os pacientes em terapia intensiva. No levantamento do último dia 19, os grupos com 30 a 39 anos, 40 a 49 e 50 a 59 juntos ocupavam mais da metade dos leitos, mesmo que individualmente não tenham superado as internações de pacientes de 60 a 69 anos de idade.

Mauro Niskier Sanchez, professor do Departamento de Saúde Coletiva da UnB e pesquisador da Sala de Situação explica que esses dados apontam dois fatos preocupantes: o primeiro é o de que pessoas fora da idade de risco também possuem alta probabilidade de sofrer com quadros graves do covid-19, e o segundo é que essas pessoas estão se expondo à doença mais do que deveriam.

Aumento dos casos

Sanchez explica que existem dois principais fatores que estão levando pessoas fora da idade considerada fator de risco a se expor ao Sars-Cov-2: a falta de políticas públicas que auxiliem a população economicamente afetada pela pandemia e a falta de unidade no discurso político de enfrentamento à doença.

“A pessoa que está em subemprego ou com emprego precário acaba saindo. Estão se expondo porque precisam sair para levantar dinheiro, e esse pessoal não é idoso. São jovens em situação vulnerável. A população com mais informação e com condições de ficar em casa faz teletrabalho. (…) O que se deve fazer é criar proteção social para essas pessoas que estão se expondo por falta de opção. Não é só mesada de governo; é fornecer assistência social, segurança, utilizar a máquina do Estado para proteger essa parcela da população.”, explica o pesquisador.

Além da necessidade de garantir o sustento, essa parcela da população fica vulnerável à dissonância no discurso político ao redor da pandemia: uma parcela de governadores e prefeitos tenta orientar a população sobre a importância do isolamento social e da gravidade da doença enquanto outra tenta defender o contrário. “A pessoa escuta o que quer escutar. Se está afim de sair e acha que não é um grande problema, acaba saindo. Quem acredita na ciência já entende a gravidade da situação. O fato da gente ter uma mensagem não-única nas várias esferas do poder público se torna um super problema”, afirma Sanchez.

A pesquisa da Sala de Situação reforça um outro estudo realizado pela doutoranda em Psicologia Social Jéssica Farias, que buscou traçar o perfil dos brasileiros que quebram o isolamento social. Sua pesquisa concluiu que a situação profissional, econômica e a posição política da pessoa são fatores diretamente relacionados à conduta em relação ao isolamento.

Em sua pesquisa, foram entrevistados 2056 indivíduos de todas as regiões do Brasil com idades entre 18 e 88 anos. A análise revelou que o grupo dominante é o de pessoas de baixa renda, pouca estabilidade profissional e posicionamento político de direita. Outro aspecto notado nesse grupo é a baixa tolerância à incerteza, fator relacionado à ansiedade.

Tanto a pesquisa de Jéssica quanto a de Sanchez revelam a importância de se estabelecer políticas públicas de transferência de renda. Sem elas, a população economicamente vulnerável se vê obrigada a quebrar o isolamento social.

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