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Brasília

Nº de casos de gravidez na adolescência passa de 2.700 no DF

“É uma questão de saúde pública gravíssima”, afirma ginecologista

Agência UniCeub

09/10/2019 17h11

Por Mayra Christie
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

Dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal apontam que, no ano passado, foram registrados 6.328 partos em adolescentes entre 10 a 19 anos. Já de janeiro a maio de 2019, o número foi de 2.720 casos.

“Acredito que só consegui terminar a escola  porque, quando engravidei, eu já estava no 2º semestre do 3º ano”, explica Ana Cláudia Mota, de 19 anos. Ela engravidou aos 16. 

Os números são altos e  assustam. “É alarmante. É uma questão de saúde pública gravíssima. O número de gestantes adolescentes no Brasil é um dos maiores no mundo e isso é uma estatística extremamente ruim”, aponta a ginecologista Maria de Fatima Brito Vogt. “Significa que nós não temos uma boa educação sexual e nem uma boa educação preventiva. É um número que realmente preocupa’’ completa.

Impacto emocional

A psicóloga clínica Bruna Christina Santos informa que esse acontecimento traz grandes consequências não só na vida social dessas meninas, mas também na saúde mental delas. Isso ocorreria, na opinião da profissional. tanto pela falta de apoio por parte da família e do pai da criança, quanto pelos planos que são interrompidos nesse processo, como a suspensão dos estudos, situação que muitas enfrentam. “Diversas vezes, essas jovens desenvolvem transtornos associados à depressão e à ansiedade. Tanto por causa do meio, quanto a própria fase de mudanças hormonais que vivenciam’’ conta.

Mãe solteira, a estudante Ana Cláudia Mota relembra que, mesmo reconhecendo o privilégio que teve em poder continuar estudando, sua vida mudou completamente. “Desde que engravidei, quase não tenho mais vida social. Hoje minha rotina é cuidar do meu filho e estudar. Tive que mudar todos os meus planos”.

Diferentemente de Ana, que pôde continuar estudando, essas meninas se vêem obrigadas a interromper completamente suas atividades. Outra jovem, Maria Flor*, também teve uma gravidez precoce, aos 18. Ela explica que todo o seu dinheiro é destinado à filha, e que não sobra nada para investir nos estudos. “A gravidez impactou minha vida de uma forma que, hoje, eu não tenho liberdade nenhuma e trabalho para sustentá-la. Não me sobra dinheiro pra fazer um curso ou investir em nada”, afirma a moça que hoje tem 21 anos.

A psicóloga acrescenta que a  rede de apoio é essencial para que essas jovens consigam superar esse período. “Muitas vezes, a sociedade age com julgamentos ao invés de suporte emocional. Não oferecem recursos para que as mães continuem exercendo suas tarefas após o nascimento do bebê. Provoca o isolamento, a culpa e o desamparo.”

Abandono paterno 

Além do preconceito, da mudança e interrompimento de planos e do impacto psicológico gerado por esse acontecimento, muitas meninas ainda tem que lidar com o fato de serem mães solteiras. Tanto Ana quanto Maria Flor criam seus filhos sozinhas e contam com o apoio e ajuda de terceiros.

“Ele (o pai)  nunca teve que mudar a rotina por minha causa ou do meu filho. Quando a gente terminou o relacionamento ele saiu do emprego, e nunca se preocupou em trabalhar pra pagar a pensão do filho dele ou em tentar ser presente. Ele nunca fez ou deixou de fazer algo por causa do meu filho, enquanto eu preciso pagar alguém pra ir estudar e saio raramente”, afirma Ana Cláudia.

Com Maria Flor a situação não é diferente. A jovem, que não está junto do pai da criança, diz que a gravidez, de forma alguma, teve para ele o mesmo efeito que teve na vida dela. “Não impactou a vida dele da mesma forma que impactou a minha. Jamais”, relata.

Métodos contraceptivos 

Nos dois casos apresentados, apesar de ambas as jovens se declararem cientes dos riscos e que recebiam orientação sobre gravidez em casa, não faziam uso de métodos contraceptivos. De acordo com uma pesquisa realizada para a Revista Paraense de Medicina, esse comportamento é a causa da gravidez em 74,4% dos casos em adolescentes.

“Minha mãe sempre me levou no ginecologista, e, por isso, sempre tomei anticoncepcional. Quando engravidei eu fazia parte de uma Igreja, e como era proibido sexo antes do casamento, eu parei de tomar injeção por conta própria”.

*O nome da entrevistada foi alterado para preservar sua identidade.

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