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Brasília

Golpe na praça: suspeitos tentam acessar dados bancários de pessoas jurídicas

Ligação obtida pelo Jornal de Brasília mostra atuação criminosa. Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos faz recomendações

Willian Matos

15/10/2019 8h59

Willian Matos
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Pessoas jurídicas de alto poder aquisitivo do Distrito Federal têm sido alvos de um grupo suspeito de fraudes bancárias. Ligações telefônicas mostram a atuação dos suspeitos, que almejam sempre obter um QR Code que dá acesso à conta das vítimas e permite realizar transações.

O Jornal de Brasília teve acesso a uma das gravações. Nela, o falso atendente induz o cliente a acessar o internet banking do banco Santander. Calmo e com frases típicas de operadores de telemarketing, ele consegue manter uma conversa tanto quanto confiável com a vítima.

O intuito dele é conseguir o QR Code, como dito anteriormente. O QR Code (Quick Response Code) é uma imagem holográfica com um código a ser capturado pela câmera de um smartphone. Para consegui-lo, o falso atendente afirma que é necessário realizar um “recadastramento dos computadores utilizados para realizar transações financeiras”. Diz, também, que está em contato com o cliente para a “habilitação do módulo de proteção Santander 2019”, fazendo a vítima pensar que a partir daquele momento apenas os computadores com esse suposto módulo poderão ser utilizados para acesso à conta.

“Peço, por gentileza, que se dirija para o nosso site, onde a gente vai verificar a questão do módulo de proteção. Se ele já estiver habilitado, o senhor vai ter uma opção de cadastramento de computadores já disponível no seu Internet Banking”, afirma o falso atendente. Ouça abaixo:

A partir disso, o suposto fraudador vai guiando a navegação do cliente. Em determinado momento, o suspeito orienta a vítima a clicar em uma opção chamada “Cadastramento de computador” e informar tudo que aparece na tela. Daí, o cliente, desconfiado, pergunta: “Qual é o número da sua matrícula?”. O suspeito, então, desliga o telefone.

Segundo o delegado-chefe da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos, Giancarlos Zuliani Júnior, o passo seguinte do suspeito era chegar na tela do QR Code. Ele, então, poderia pedir ao cliente que fizesse uma foto do código e enviasse. Como o QR Code é pessoal e intransferível, o golpista teria acesso aos dados da conta da vítima, podendo extrair valores e realizar transações.

“É uma organização criminosa interestadual que ataca, geralmente, pessoas jurídicas, porque elas têm capacidade de realizar transações com valor maior. Não só de Brasília, mas de todo o Brasil. Já realizamos várias prisões este ano com relação a isso”, explica.

Depois que o grupo consegue acessar a conta do cliente, geralmente são feitos saques e/ou transferências, e os valores vão parar nas contas de “laranjas”, para tornar mais difícil a investigação das autoridades. “A gente tá trabalhando com os bancos para identificar as pessoas que ligam para os clientes, as que fazem a invasão das contas e as que emprestam outras contas bancárias para receber este dinheiro”, afirma Zuliani.

Tecnologia x crime

Para o delegado, o avanço da tecnologia que viria para dificultar ações criminosas como essa não basta para dar fim às fraudes. “A tecnologia vai dificultando a atuação do criminoso, mas ele vai procurando novas estratégias. Antigamente, a gente tinha aquelas páginas falsas de banco que você abria pelo navegador do computador, mas hoje em dia quase ninguém usa o browser porque o aplicativo do telefone é mais seguro”, explica o chefe da DRCC.

“Hoje em dia não basta você ter só a senha, existem outras verificações que o banco faz. Então, os bandidos já estão evoluindo para obter informações sem páginas falsas. Se uma vítima passa um QR Code e o criminoso tem acesso àquilo, ele vai ter autorização para fazer transferências bancárias e a vítima vai ter problemas.”

Por fim, o delegado explica que atendentes de banco nunca pedem dados pessoais e intransferíveis como senhas, QR Code e códigos de cartão por telefone ou internet. “A recomendação é jamais passar dados por telefone. Se você precisar, vá ao banco pessoalmente para cadastramento do que for necessário. Essa questão do banco te ligar para pedir dados é desaconselhado pela Polícia Civil. Tenha o telefone do seu gerente, certifique-se que está falando com ele, ou vá ao banco”, finaliza.

Exemplo de QR Code. PCDF recomenda que, caso uma imagem semelhante a esta apareça em seu internet banking, nunca forneça-a a ninguém. Foto: Reprodução/Imagem ilustrativa

Sistema de Recompensas

A partir de agora, quem perceber golpes (não só bancários, mas de todos os tipos) e denunciar à Polícia Civil (PCDF) pode ser recompensado por isso. Nesta terça-feira (15), foi publicado no Diário Oficial do DF (DODF) um decreto que institui o Sistema de Recompensas do Distrito Federal. Pessoas físicas que prestem informações que levem à elucidação de crimes poderão receber a premiação em pecúnia, mediante ato do secretário de Estado de Segurança Pública.

A recompensa será dividida em partes iguais em caso de mais de um denunciante. A denúncia é sigilosa e poderá ser feita pelo 197; pelo 197 Denúncia-Online, do site da PCDF, por e-mail, carta ou outros meios; e pessoalmente.

O oferecimento de recompensa é admitido nos seguintes casos:

  • crimes hediondos e equiparados;
  • crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa;
  • crimes contra a administração pública;
  • lavagem de dinheiro;
  • crime praticados por associação ou organização criminosa.

O valor da recompensa será maior que R$ 1 mil e menor que R$ 50 mil, sendo determinado a partir de análise de critérios como gravidade do delito e extensão dos danos materiais e imateriais causados à vítima e à administração pública. Confira mais detalhes na edição desta terça (15) do DODF.

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