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Brasília

Famílias buscam adaptar rotina de crianças com transtornos

Apesar de muitas instituições de ensino estarem dando suporte às famílias através de aulas online, outras escolas têm se ausentado no processo

Redação Jornal de Brasília

04/06/2020 11h35

Geovanna Bispo e Ana Carolina Tomé
Jornal de Brasília  / Agência UniCEUB

Após mais de dois meses do início do isolamento social, crianças com transtornos ainda apresentam dificuldades em retomar as atividades escolares. Apesar de muitas instituições de ensino estarem dando suporte às famílias através de aulas online, outras escolas têm se ausentado no processo de desenvolvimento dessas crianças.

Segundo Juliete Bispo, mãe do João Gabriel, de 11 anos, o isolamento tem sido um tempo de adaptações quanto aos estudos.

“Mesmo após dois meses, a quarentena de João está sendo um momento de adaptações. Ele está muito desmotivado, acha que está de férias, mesmo com as aulas on-line.”

 

Ao contrário de João Gabriel, João Victor não tem tido aulas on-line e, segundo sua mãe, Ana Matos, a falta das aulas e contato com os coleguinhas tem o deixado agitado.

“Por meu filho ter o problema de deficiência intelectual, ele precisa automaticamente estar estudando e lendo. Como ele não está tendo o retorno e o incentivo da escola, ele acaba ficando muito ansioso para voltar às aulas.”

Ansiedade, nervosismo e inquietação também tem sido comportamentos recorrentes na rotina do Nícolas, de 12 anos. O pai, Sansão Xavier, explica que, com o confinamento social, o comportamento do filho, que é autista, mudou.

“Ele tem ficado ansioso, se queixa de tédio. Está mais agitado, as estereotipias aumentaram, só fica mais calmo quando está nos eletrônicos”.

Rotina de cuidados 

A psicóloga Gemmima Bandeira alerta que a falta de uma rotina e o próprio isolamento podem ser prejudiciais à saúde e o aprendizado da criança nesse período. “O distanciamento dos amigos, da rotina escolar e dos compromissos pode afetar o emocional da criança.Ter uma rotina de cuidado com todos os âmbitos do aprender, seja cognitivo, emocional e social é a maior riqueza que as famílias podem ensinar.”

Porém, Juliete, mãe de João Gabriel, afirma que tem sido difícil manter uma rotina e conciliar seus próprios estudos com os do filho, que tem TDAH e TPAC. “Na hora de fazer as atividades preciso estar ao lado dele, auxiliando, mas não consigo fazer isso todos os dias em um mesmo horário, pois, além dos afazeres domésticos, também tenho aulas online e trabalhos da faculdade. Procuro organizar o máximo que posso, mas confesso que está sendo muito difícil, às vezes me sinto desestimulada, cansada e estressada. Não tem sido fácil.”

Ana, mãe de João Victor, diz também ter uma grande dificuldade em manter uma rotina com o filho. “Eu tento manter uma rotina no sentido de acordar, tomar um banho, almoçar, mas ele não me atende por estar bem nervoso.”

Mas Gemmima pede calma, já que, apesar do isolamento em si afetar o emocional das crianças, é a partir da família que ela encontra calma e motivação. “Tenhamos calma e discernimento… Com diálogo, mostrando para criança os novos modelos de socialização e aprendizado e a compreensão das próprias famílias aos novos modelos, a criança compreenderá que todo esse processo, mesmo que doloroso, pode nos manter aprendendo.”

A psicóloga ainda dá dicas de como criar um laço maior entre as famílias e otimizar esse momento. “Cuidar de plantas, arrumar do quarto, construir legos, criar um brinquedo com itens de sucata, construir a própria história em quadrinhos. O aprendizado é rico e cheio de possibilidades.”

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