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Brasília

Família diz que jovem morta por PM era ameaçada

Arquivo Geral

07/05/2018 8h36

Divulgação

Raphaella Sconetto
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O silêncio foi interrompido por soluços de choro e gritos. Inconformada, a família de Jéssyka Laynara da Silva Souza, de 25 anos, enterrou, nesse domingo (6), no cemitério de Taguatinga, o corpo da jovem assassinada a tiros pelo ex-namorado, o policial militar Ronan Menezes do Rego. O Corpo de Bombeiros prestou homenagem a mulher, que havia passado no último concurso da corporação.

Sem condições, a mãe de Jéssyka, Adriana Maria da Silva, de 39 anos, não quis conversar com a imprensa. Durante o cortejo, ela gritava o nome da filha – como uma súplica para que o tempo voltasse e ela pudesse ter a jovem viva em seus braços. “Ele (Ronan) acha que é o que? Só porque está atrás de uma farda. Ele acabou com a minha vida”, gritava.

Adriana precisou de atendimento dos Bombeiros, pois ficou muito nervosa e passou mal.

O pai da jovem estava mais calmo. Antônio Marcos dos Santos diz que a dor de pai é inexplicável. “É difícil criar, cuidar, tirar de onde falta para dar para os filhos, e uma pessoa tirar a vida da minha filha desse jeito”, desabafou.

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Antônio disse que, durante os seis anos de namoro da filha com o policial militar, ele chegou a perceber, em alguns momentos, um comportamento agressivo de Ronan. “Ele não era muito social, falava pouco, só o básico. Se acontecia agressão, ela não falava”, contou.

Já a tia de Jéssyka, Elaina Maria Silva Gomes, de 59 anos, contou que, no mês passado, a jovem foi agredida por Ronan. “Ele deu uma surra nela. Ela estava toda roxa”, relatou a tia. “Ela estava psicologicamente morta, porque era ameaçada constantemente. Ela preferiu morrer sem contar nada para a família, pois tinha medo de que ele matasse os avós e os irmãos”, finalizou.

Parentes pedem justiça

Depois que Jéssyka Laynara foi enterrada, família e amigos se uniram para pedir, mais uma vez, por justiça. O fotógrafo Leonardo Silva, de 35 anos, é primo da vítima. Ele garante que a revolta está centrada em Ronan. “Não temos nada contra a Polícia Militar, mas sim contra aquele indivíduo, aquele bandido, que por razões do destino foi parar na corporação. Queremos que ele pague pelo que fez”, cobrou.

Jéssyka Laynara morava com os avós no Setor O, onde foi assassinada com cinco tiros. O primo conta que a família ficou sabendo das agressões e ameaças recentemente. “Eles terminavam e voltavam. Três semanas atrás estávamos em uma chácara da família, em Águas Lindas. Ele pegou um outro primo meu dizendo que a Jéssyka tinha passado mal na chácara, e que não sabia chegar lá. Ao chegar no local, ele tirou a arma, acordou meus avós e minha mãe, perguntando onde ela estava porque ele queria vê-la”, lembrou.

O fotógrafo revelou ainda que Ronan chegou a dizer que iria matar sua prima. “Ele falava que ia matá-la e, se alguém denunciasse, ele dizia que ia matar todos. Ele falava para quem quisesse ouvir. Não tinha cuidado para ficar calado ou tentar esconder”, contou. Por isso, a família tinha receio de denunciá-lo, quando notaram o comportamento agressivo do policial militar. “Minha prima guardou tudo calada por medo de que algo pior acontecesse com toda a família”, completou Leonardo Silva.

A família diz que não vai sossegar enquanto não tiver a certeza de que o policial militar irá pagar pelo crime. “A Jéssyka não morreu, vamos continuar lutando por justiça. Ela está mais viva do que nunca. Vamos para frente de delegacia, vamos pedir justiça, justiça e justiça. Não é só hoje, ou amanhã, é depois e mil vezes, quantas vezes precisar vamos falar: justiça, justiça. Ele não vai ficar impune”, finalizou Elaine.

Relembre o caso

– Revoltado por não reatar o relacionamento, Ronan foi à casa de Jéssyka Laynara, em Ceilândia, na última sexta-feira, e atirou na jovem. Em seguida, ele foi à academia onde trabalha o professor de educação física, Pedro Henrique da Silva Torres, de 29 anos, e também o atingiu com três disparos de arma de fogo. O rapaz segue internado no Hospital Regional de Samambaia, onde se recupera. Segundo parentes de Jessyka, ela não tinha relacionamento nenhum com o professor.

– O assassino se apresentou no 10º Batalhão da Polícia Militar de Ceilândia no mesmo dia e seguiu à 24ª Delegacia de Polícia, onde permaneceu calado durante o depoimento. Depois, o militar foi para a Papudinha, no Complexo Penitenciário da Papuda.

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