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Brasília

Covid-19: com paralisação na separação de lixo, catadores veem impacto na renda

“Nossa situação está ‘calamitosa’. Não temos material para trabalhar porque nosso serviço gira em torno da coleta seletiva”, diz o catador e diretor da Ecolimpo

Larissa Galli Malatrasi

21/05/2020 16h15

Cruzeiro, Plano e Sudoeste voltam a ter coleta seletivaAsa Sul, BrasíliaFoto: Toninho Tavares/Agência Brasília.

Para evitar o contágio dos catadores de materiais recicláveis pelo novo coronavírus, o serviço de coleta seletiva e reciclagem no Distrito Federal está paralisado há dois meses. Sem a separação do lixo, os trabalhadores das cooperativas não recebem os resíduos e estão impossibilitados de trabalhar. Os catadores reclamam da situação “complicada” que estão vivendo e torcem para que a disseminação do vírus seja controlada para poderem voltar a realizar o trabalho de reciclagem, que é tão importante para a cidade.

“Nossa situação está ‘calamitosa’. Não temos material para trabalhar porque nosso serviço gira em torno da coleta seletiva”, diz Santana, catador e diretor da cooperativa Ecolimpo, que atua em parceria com o Governo do Distrito Federal em São Sebastião. Santana conta que o impacto maior foi na renda dos catadores. “Nossa renda caiu assustadoramente e as despesas não param. Dos 17 catadores da cooperativa, apenas 5 receberam o auxílio do GDF”, relata.

O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) esclareceu que os catadores podem se candidatar ao auxílio emergencial do GDF ou do Governo Federal. O órgão também informou que está “acertando com as cooperativas a antecipação do pagamento da remuneração média dos contratos pelo período de três meses.”

Antes da pandemia da covid-19, os catadores da Ecolimpo chegavam a recolher 35 toneladas de resíduos por mês. “Era suficiente para manter uma média de renda boa”, comenta Santana. Agora, o catador se sente em um “barco à deriva”. Sem previsão para a retomada do trabalho, o SLU disse em nota que “o retorno das atividades acontecerá apenas quando não houver mais risco de contágio durante o manuseio desses resíduos.”

Santana contou que algumas pessoas se mobilizaram, continuaram separando o lixo e levando até a cooperativa para reciclar, mas segundo ele é um volume muito pequeno e insuficiente de resíduos. “A suspensão da coleta seletiva é ruim para todo mundo porque os resíduos não param de ser produzidos, inclusive podem até aumentar nesse momento de isolamento, e aí vai tudo para o aterro sanitário e isso é o mesmo que literalmente enterrar dinheiro”, afirma.

Em nota, o SLU afirmou que reconhece o impacto ambiental e econômico da suspensão do trabalho de reciclagem e aterramento dos materiais no Aterro Sanitário de Brasília, mas reiterou que “tudo isso tem o objetivo de preservar a saúde dos catadores” pois “não há como verificar quais resíduos estão contaminados na hora da triagem.”

Ana Carla Borges Rodrigues, presidente da Central de Reciclagem do Varjão, que atua no Lago Norte e Varjão, disse que a situação está “muito complicada” para os catadores. “Todos queriam voltar a trabalhar e não depender do governo. O que estamos recebendo não é suficiente para comer e pagar o aluguel e as contas”, conta Ana Carla, se referindo ao benefício da renda mínima temporária concedida pelo GDF. “Se as empresas que recolhem os orgânicos continuam trabalhando por que a gente não pode?”, questiona.

José Salustiano, presidente da cooperativa Coopere, que atua em Riacho Fundo I e Riacho Fundo II, conta que ele e seus colegas catadores estão vivendo de doações. “Nós catadores estamos passando apertado. Não estamos passando fome, mas não estamos conseguindo pagar as contas”, relata. José reitera que a cooperativa está precisando de doações de cestas básicas para garantir a alimentação dos catadores durante a pandemia.

Consciente do alto risco de contaminação presente no trabalho de triagem e reciclagem dos materiais, José torce para que o número de casos de covid-19 se estabilize. “Na cooperativa todo mundo trabalha junto e seria complicado cumprir as exigências do Ministério da Saúde. Nosso contato com os resíduos é constante, não dá para lavar a mãos ou passar álcool o tempo todo; não temos estrutura para isso e nem recursos financeiros para providenciar máscaras e luvas em quantidade suficiente para que seja seguro para todos os trabalhadores. O perigo de contaminação é realmente muito grande, mas o que a gente pode fazer?”, finaliza José.

Saiba mais

O Serviço de Limpeza Urbana fez um comparativo da quantidade de resíduos domiciliares recolhidos entre janeiro e abril de 2019 e 2020 e constatou uma redução de quase 4% no recolhimento de resíduos no mês de abril, se comparado ao mesmo período do ano anterior. Em abril deste ano foram coletadas 63.692 toneladas, contra 66.150 em abril do ano passado. Também houve redução em relação a março deste ano, quando foram coletados 67.692 toneladas, representando uma diminuição de 6% no volume coletado.

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