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Brasília

Caso Letícia: por que esses crimes acontecem?

Psicanalista fala sobre as características de um criminoso como Marinésio, que tirou a vida de uma mulher após ela negar investida

Willian Matos

27/08/2019 10h01

marinésio

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Willian Matos
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O desfecho do desaparecimento da jovem Letícia Sousa Curado Melo, de 26 anos, foi trágico. Ela foi morta por Marinésio dos Santos Olinto, de 41 anos. Enforcá-la foi a atitude que ele decidiu tomar após fazer investida sexual contra a advogada, casada, mãe de um filho de três anos.

Marinésio, preso no último sábado (24), confessou que também matou Genir Pereira de Sousa em junho em atuação semelhante. Outras vítimas foram à 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) para denunciar o homem, que também era casado e tem uma filha de 16 anos.

O comportamento do suspeito chama atenção. Muitos se perguntam a motivação de Marinésio, já tratado pela Polícia Civil como assassino em série. O Jornal de Brasília conversou com um especialista sobre o caso.

O médico psiquiatra, psicanalista e ex-professor do departamento médico da Universidade de Brasília (UnB), Dr. Carlos Vieira, analisa a situação de forma geral. “Me parece uma pessoa que tem desejo sexual, e a frustração faz com que ele use a violência para realizar o desejo”, afirma.

“Isso caracteriza uma intolerância à frustração. Quando o desejo é negado, o suspeito sai de si, fazendo um ato perverso com o objetivo da satisfação do prazer, tendo o agravante de matar a vítima em seguida.”

 Recusa de investida sexual foi motivo para Marinésio matar Letícia. Foto: Reprodução

Apesar de mentir em primeiro momento, Marinésio não demonstrou nervosismo ao falar com os policiais que cuidam do caso que culminou na morte de Letícia. O psicanalista relaciona isso à incapacidade de se sentir culpado pelo crime cometido. “Uma das questões da perversidade é a frieza, a incapacidade de sentir culpa. Se ele não tiver essa frieza, ele se mata. É o que acontece, por exemplo, nas chacinas dos Estados Unidos”, relaciona.

“O que precisa ser abordado é essa exigência de desejar a ponto de chegar a matar”, alerta o doutor. “Acho que vivemos um momento universal onde as pessoas, quando mobilizadas por esses desejos, não conseguem encontrar obstáculos que coloquem limites nesta ação. O que eu chamo de animal humano está se sobrepondo à ação humana. É como um tigre, que, faminto, avança em qualquer coisa que vê à frente e mata”, compara.

“Tá tudo ruído, né?”

Entende-se, partindo das declarações do doutor especialista, que há uma frieza dos autores destes crimes, e que eles agem por sentir desejo e não conseguir frear esse impulso, agindo compulsivamente e vindo a cometer tragédias. Mas por que isso acontece? Para Carlos, existe uma série de fatores, e diversos meios são responsáveis.

“Tá tudo ruído, né?! A família, o Estado, a Justiça, as políticas públicas, não impõem mais limites. Estão cada dia falhando mais, no sentido de oferecer cultura e civilidade.”

Possível solução

Para o doutor, como todas estas instituições falham, elas precisam corrigir erros e intervir positivamente. “Estamos vivendo um momento no qual as pessoas não entendem que as políticas públicas é dever de todo mundo”, afirma.

“O que tem que ser feito é dar condições para estas pessoas desenvolverem civilidade. Falta atuação da família, falta educação, falta a Justiça dar outro tratamento ao presidiário com foco na saúde mental…”

 

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