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Brasília

Carne some da merenda nas escolas públicas do DF

Arquivo Geral

21/11/2017 7h00

Foto: André Borges/Agência Brasília

Francisco Dutra
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Falta carne vermelha nas refeições de escolas públicas do Distrito Federal. O feijão não é visto nos pratos dos alunos e alunas do meio período. Virou, praticamente, um luxo das unidades integrais. Por outro lado, é servido um número desproporcional de pratos de um peixe fluvial com alto teor de gordura, o Mapará. O pescado tem o gosto e o odor reprovados por grande parte dos estudantes. No mesmo descompasso, o ovo ganhou um protagonismo intrigante na dieta pública escolar.

O diagnóstico foi traçado pelo Sindicato dos Professores do DF (Sinpro/DF). Segundo a instituição, diante destes fatos o desmaio por fome de um aluno na Escola Classe do Cruzeiro não é um episódio pontual, mas uma sintoma das falhas de gestão e planejamento do governo na alimentação de crianças e adolescentes. “Carne não é servida há muito tempo em várias escolas integrais e de horários parciais. Cobramos lanche de qualidade para as crianças”, afirma o diretor do Sinpro, Samuel Fernandes.

Até o começo deste ano, a carne oferecida na rede pública vinha de um contrato com a empresa JBS, alvo da operação Carne Fraca e conduzida por empresários acusados por pagar propina para centenas de políticos na operação Lava Jato. O nome do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) está na lista de governadores da JBS, apreendida nas investigações. O contrato da JBS com o GDF terminaria em meados de 2017.

Na repentina ausência de carne, o Mapará nada de braçada. O governo reservou R$ 17.287.409,00 para a aquisição do peixe de água doce. O contrato com a empresa Litoral Pescado foi assinado pelo próprio secretário de Educação, Júlio Gregório, em 1 de setembro deste ano, com validade até 31 de agosto de 2018.

A soma do Mapará chama atenção, por ser muito maior do que a compra de outros pescados. Por exemplo, o contrato com a empresa Comercial Milano para filé de Merluza é de R$ 2.116.900,80, indo de março deste ano até março de 2017. Por outro lado o festival de ovos nasce de um contrato de R$ 2.530.837,20. O documento também é firmado por Júlio Gregório.

Nutricionistas criticam organização

Desde de 2007, o Conselho Regional de Nutricionistas da 1ª Região, responsável pelo DF, denuncia falhas no planejamento e gestão da merenda pública. Segundo a nutricionista gerente técnica da instituição, Janaína Marques Baiocchi, o desmaio do estudante é apenas a ponta do iceberg de problemas estruturais na alimentação escolar.

Na análise da especialista, existem falhas na aquisição centralizada de gêneros, na distribuição da comida, na disponibilidade de veículos para a atuação dos nutricionistas nas escolas e na estrutura para armazenar e processar adequadamente os alimentos.

“O cardápio planejado, pela secretaria de Educação, nem sempre é executado pelas regionais de ensino. Isso ocorre na maioria das vezes”, conta a nutricionista. Neste contexto, a compra centralizada é o ponto de ignição para as falhas.

Na sequência, a licitação para distribuição de alimentos apresenta apenas 15 caminhões para atender 673 escolas públicas. Poucos veículos dificultam o transporte adequado de gêneros, no tempo necessário para evitar a perda de validade.

“Falta carro para a fiscalização e orientação de nutricionistas nas escolas”, argumenta. Janaína conta que o GDF até hoje não apresentou para o Conselho resultados de teste de aceitação dos alimentos, recomendados pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

O procedimento evitaria polêmicas como no caso da inclusão em escala crescente do Mapará no cardápio brasiliense.

Saiba mais

  • Teoricamente, as refeições nas escolas de meio período têm o cardápio intercalado. Em um dia é servido um prato salgado, no seguinte um lanche. Mas segundo o Sinpro, desde 6 de novembro, a Escola 425 de Samambaia oferece apenas biscoitos com leite ou suco.
  • A escola é provisória há 27 anos, em tese, mas continua funcionando. Devido a um vazamento de gás, refeições mais substanciais não puderam ser oferecidas.
  • Hoje um peixe gera polêmica na merenda. No primeiro semestre do ano, foi a pipoca. Em 2016, a bolacha maizena gerou reclamações. No ano retrasado, a discussão orbitou sobre um tipo de cereal e canjica. Segundo Janaína Marques, a cada época aparece um alimento que é ofertado com uma frequência supostamente inadequada.
  • Procurada pelo Jornal de Brasília às 15h de ontem, a secretaria de Educação não comentou sobre a assunto até o fechamento desta reportagem, já às 21h.

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