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Brasília

Após episódio na Esplanada, Associação de Militares alerta para alto índice de depressão na categoria

Arquivo Geral

04/12/2017 7h00

Foto: Divulgação/PMDF

Jéssica Antunes
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Para a Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares do Distrito Federal (Aspra), o episódio envolvendo um bombeiro que teria roubado uma viatura nesse domingo (3) e seguido em direção ao Congresso Nacional é o ápice de uma situação enfrentada diariamente pelos militares da capital. “A Segurança Pública está em estado de abandono. O policial e o bombeiro estão sem apoio, temos altas taxas de depressão e de suicídio. Esse bombeiro está doente. Ele precisa de apoio psicológico, não de exclusão”, acredita Manoel Sansão, vice-presidente da entidade.

Oalvo era o Congresso Nacional, a motivação era desconhecida, e a postura dos órgãos de Segurança Pública do DF, silêncio por mais de 13 horas.Fabrício Marcos de Araújo, de 44 anos, roubou uma viatura e atravessou, em alta velocidade, mais de 30 quilômetros da capital do País. Ele só parou após três pneus serem atingidos por tiros. Ao longo do domingo, o homem foi considerado de surtado a terrorista, enquanto não havia um pronunciamento oficial. A Justiça decidiu mantê-lo preso.

Segundo sargento do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, o homem entrou, fora de horário de serviço, no 8º Grupamento de Bombeiro Militar (GBM), em Ceilândia. Dali, pegou uma viatura sem autorização e partiu, em alta velocidade, em direção à Esplanada dos Ministérios, supostamente afirmando que queria “explodir o Congresso”. O fato provocou uma perseguição digna das telas de cinema: mais de 15 viaturas tentaram impedi-lo ao longo de 18 quilômetros.

Pelo rádio da corporação, o bombeiro ameaçou “atropelar todo mundo” se não parassem de atirar contra ele. Com o equipamento, ele teve diálogos com as equipes da polícia que o perseguiam desde a Estrutural, na altura da Cidade do Automóvel. “Ninguém vai (morrer) comigo não. Se eu for, vou sozinho”, afirmou.

Apesar das ordens de parada, o homem seguiu acelerando. Segundo a Polícia Militar, eles “tiveram que realizar a única opção técnica” para impedi-lo, com “disparos precisos” nos pneus dianteiros e traseiros, “sabendo que a perda da estabilidade traseira o faria rodar no local mais adequado e seguro”.

A investida despertou fúria do suspeito. “Se a PM não parar de atirar, eu vou atropelar todo mundo. Não vou matar ninguém, não vou passar por cima de ninguém. Vou parar no Congresso Nacional. Se a PM continuar atirando e ela não parar eu vou atropelar tudo, beleza?”, disse, aos gritos, via rádio.

Com os disparos, o condutor perdeu o controle do veículo pouco depois da Catedral, a uma distância de quase 30 quilômetros do quartel. A viatura, um caminhão de água usado em combate a fogo, rodou, bateu no meio-fio, quase tombou e ficou parado na contramão na via S1, sentido Congresso. Os únicos danos ao veículo Auto Bomba Tanque 108 foram três pneus furados. Ninguém se feriu.

Mais de 15 viaturas mobilizadas

Ao Jornal de Brasília, militares lotados no 8º GBM contaram que lidavam com um homem bêbado no quartel na madrugada quando o segundo sargento chegou, no próprio carro. Ali, ele cumprimentou os colegas, entrou no veículo e partiu em alta velocidade. “Ele disse que atingiria o Congresso Nacional e explodiria sozinho”, contou um bombeiro, que pediu anonimato.

Depois, a PMDF foi acionada pelo 190 e encontrou o homem, em alta velocidade, na altura da Cidade do Automóvel, na via Estrutural, sentido Plano Piloto. Os militares da Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam) e de Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) o perseguiram inicialmente na contramão.

Ao todo, mais de 15 viaturas policiais participaram da operação que buscava deter o suspeito sem que fizesse vítimas. Depois de rendido, o condutor foi conduzido ao quartel do Corpo de Bombeiros e recebeu voz de prisão.

“Surto psicótico”

A ocorrência foi registrada na 5ª Delegacia de Polícia, na área central. Segundo a Polícia Civil, o bombeiro foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para “exame clínico”. O homem, que acumula quase 30 anos de profissão, tem experiência na condução de viaturas da corporação.

O Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar não deram informações sobre o crime. Ambas as corporações disseram que a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social se pronunciaria oficialmente em relação ao caso, o que ocorreu apenas depois das 16h. Por horas sem informações oficiais, teorias começaram a surgir, como a de que o homem fosse um “terrorista muçulmano”, como apontou a própria Rotam, da PMDF.

Segundo o colega que pediu para não ser identificado, o segundo sargento não tem origem muçulmana, é casado, tem dois filhos, mora em Ceilândia e é considerado uma pessoa boa. A hipótese defendida por ele é que tenha sofrido uma espécie de “surto psicótico”.

Versão oficial

Em audiência de custódia, o militar teve a prisão convertida em preventiva, a pedido do Ministério Público. A Justiça entendeu que, se colocado em liberdade, ele poderia tentar praticar ato semelhante. O juiz destacou que, além de ter a intenção de atingir o Congresso com um caminhão carregado, “que provocaria danos de grandes proporções, no local e colocando em risco a vida de terceiros, a conduta colocou em perigo número indeterminado de pessoas ao trafegar em alta velocidade”. A defesa apresentou laudo psicológico dando conta de que ele não tem condições de responder temporariamente por seus atos.

O caso ocorreu pouco antes das 2h, e a Secretaria de Segurança só se pronunciou por volta das 16h. Em nota , a pasta informou que condutor foi imediatamente conduzido ao quartel, onde foi preso em flagrante, enquadrado por furto qualificado, desobediência, danos ao material da administração militar e tentativa de dano. Segundo o órgão, a princípio não foram encontrados elementos que apontam para a caracterização de atentado terrorista. A Diretoria de Saúde e o Centro de Assistência da corporação acompanham o caso.

Memória

A saúde mental de militares já foi tema de matérias publicadas pelo Jornal de Brasília. No ano passado, uma reportagem mostrou que a Secretaria de Segurança não mantém controle sobre os atendimentos relativos à saúde mental das polícias e bombeiros – seria uma função exclusiva das corporações – e as instituições não tornam públicos dados a respeito.

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