Ana Clara Arantes
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A solidariedade brasiliense chegou à Chapada dos Veadeiros (GO). Voluntários estão unidos em uma ação que leva energia solar a casas que até então ficavam no escuro.
O projeto Pisco de Luz está atendendo a comunidade Kalunga. A ação foi idealizada pelo empresário André Rodrigues Viegas, 50 anos. Desde sua criação, há um ano, 57 residências da região foram contempladas, beneficiando 280 famílias. A meta é atingir todas as 350 famílias que vivem lá.
Viegas conta que tudo começou em uma visita à comunidade. Convivendo com os moradores, ele percebeu as dificuldades. “Tive a oportunidade de vivenciar algumas noites à base de lamparina. Isso é ruim tanto para a saúde, com relação à inalação da fumaça, quanto para a segurança”, observa.
A partir daí, o empresário pensou em alternativas para substituir a lamparina. “A experiência que tive deixou claro que não são famílias em boa situação financeira. Então seria preciso uma solução economicamente viável. E não precisaria exagerar muito na luz porque, quanto mais clara, mais cara fica a solução solar. Se tentássemos levar a mesma iluminação que temos aqui em nossas casas, o projeto ficaria inviável”, pondera.
Ele compara que a força da iluminação existente em cozinhas, por exemplo, é de aproximadamente 5 mil lúmens. “A lamparina tem 15 lúmens e nós levamos para os moradores em torno de 150 lúmens. Sair de 15 para 150 é uma mudança considerável”, exemplifica.
O projeto
O sistema é flexível e engloba vários tipos de casas. Atualmente a solução atende até sete cômodos independentes. Cada kit funciona com o armazenamento da energia solar por meio de uma pilha de lithium.
Cerca de 90 voluntários compareceram à última ação, entre 30 de junho e 1º de julho. Nesse mutirão, a equipe conseguiu levar energia solar para 50 casas. A próxima etapa ocorrerá entre 4 e 5 de agosto. A meta é instalar energia solar em mais 50 casas.
Beneficiados agradecem
A família de Marlene Santos Pereira, 30, foi uma das beneficiadas pelo projeto. Na perspectiva dela, agora a vida dos quilombolas vai melhorar muito. “Ainda mais que a gente tem criança. À noite tem muita cobra e a lamparina não ilumina. Essa luz vai melhorar muito para a gente aqui da roça. Para a gente que vive em casa de palha. Assim também não tem perigo de fogo”, afirma.
Os contemplados pelo Pisco de Luz revelam uma grande mudança: “Melhorou 100% na nossa vida. Só de a gente ter energia e sair do diesel, da fumaça do olho, para mim é importante demais. Melhorou até a saúde da gente. Foi uma benção de Deus”, comemora Valdir José da Silva, 56.
Voluntários
Entre os voluntários estão os jipeiros do Jipe Clube de Brasília. Sérgio de Oliveira Barcellos, 65, é diretor técnico e conta que uma das bandeiras do grupo é o trabalho social. Quando ficaram sabendo do projeto, decidiram apoiar a ação.
Pessoalmente, Barcellos revela que seu apoio à causa surgiu de uma necessidade própria. “Vislumbrei uma oportunidade muito boa porque seria algo que faria a diferença na vida das pessoas”, afirma.
Além de cuidar do cadastramento das famílias, Barcellos ajuda na montagem dos kits: “Isso demanda muito trabalho. Montagem de placa, das caixas, organização de cabo, lâmpada, interruptor. É trabalhoso, mas muito gratificante”, considera. Para ele, a ação é importante pois tira as pessoas de uma situação de grande dificuldade.
O fotógrafo Marcos Lopes, 23, conheceu o projeto por meio de uma amiga de profissão. Ela documentava as ações na comunidade e estava precisando de outro profissional. Foi aí que Marcos se juntou à causa.
Para ele, esse trabalho é um fato histórico. “Documentar a instalação de energia em uma comunidade a 400 quilômetros de Brasília que não tem luz é muito importante para a história do Brasil”, considera.
“Há um peso histórico muito grande porque é uma questão sensível. A comunidade Kalunga está marginalizada em um lugar onde o Estado não chega. Ver que uma simples instalação luz melhora a qualidade de vida é mágico, maravilhoso”, completa o fotógrafo.
Serviço
Para quem quiser se juntar ao projeto, seja se voluntariando ou fazendo doações, basta entrar em contato por e-mail ou acessar o site neste link.