Após um surto de covid-19 entre os profissionais de enfermagem da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Samambaia que fez 58 vítimas, uma equipe de fiscais do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-DF), do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal, da Comissão de Direito à Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil e outros órgãos do setor realizaram uma vistoria no local. O relatório produzido com base na inspeção revela falhas graves no funcionamento da unidade.
O primeiro ponto notado pela equipe de inspeção e constatado em relatório é a falta de recursos humanos. A inspeção anterior, realizada no mês de abril, constatou que a unidade contava com uma equipe de 37 enfermeiros, 56 técnicos de enfermagem e 12 auxiliares de enfermagem. Já a última inspeção revela um quadro de apenas quatro enfermeiros e 14 técnicos de enfermagem. Os demais tiveram que ser afastados em função da doença e/ou por compôr grupo de risco, não sendo repostos.
Além da carência de funcionários, também se constatou a falta no fluxo de atendimento na unidade, explicada por Marcos Wesley, presidente do Coren-DF. “Suspeitos de coronavírus e não-suspeitos estavam transitando pelos mesmos lugares. Além disso, a tenda que foi feita para isolar pacientes sintomáticos respiratórios era atendida pela mesma enfermeira que atendia os outros setores de dentro da UPA. E a gente defende que profissionais que atendem pacientes com sintomas respiratórios não devem atender outros tipos de pacientes, para que não haja a contaminação cruzada”.
A equipe de inspeção também percebeu que a oferta de equipamentos de proteção individual (EPIs) na unidade era suficiente para a equipe, mas ainda assim os profissionais tinham dificuldade para ter acesso. “Segundo alguns profissionais, a disponibilização de forma mais livre só foi feita quando o número de casos começou a aumentar muito. Esse controle rigoroso no início fazia com que muitos funcionários não recebessem os equipamentos de proteção individual”, afirma Wesley.
Secretaria se defende
Procurado pela reportagem, a assessoria de comunicação do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IGES-DF), responsável pela gestão da UPA, afirma ter adotado todas as medidas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde para garantir a segurança dos profissionais e dos pacientes, além de realizar a testagem de toda a equipe e seus familiares.
Quanto à falta de pessoal, o instituto afirma que profissionais de outras unidades e temporários foram convocados e estão sendo treinados para substituir os funcionários afastados da UPA, e até o momento 35 profissionais já foram enviados para atuar na unidade.
Quanto ao fluxo de pacientes, o IGES afirma que há revisão constante do protocolo de atendimento, e que os pacientes com desconfiança de covid-19 são isolados desde o momento da triagem. Afirma também que os profissionais são orientados a trocar de máscara a cada duas horas, salvo em situações que exijam a antecipação da troca. E que a entrega é feita mediante assinatura de lista de controle para evitar a falta de material.
Pacientes sem manter distanciamento
O presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Gutemberg Fialho, esteve na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia para apurar denúncias relacionadas ao aumento da contaminação de médicos e servidores da saúde por covid-19.
Durante a inspeção, Gutemberg constatou a falta de testes para corpo médico e pacientes, a ausência do distanciamento na recepção da UPA e a falta de fiscalização do uso correto dos equipamentos de proteção individual (EPIs).
“É bem provável que o aumento do contágio dos servidores da saúde seja em função da ausência de fiscalização das medidas sanitárias, que não estão sendo observadas com rigor. A fiscalização do uso dos equipamentos de proteção, por exemplo, é de responsabilidade da gestão. Ou a gestão não está disponibilizando os EPIs ou não estão cobrando o uso adequado para evitar a disseminação da doença”, declarou Gutemberg
Gutemberg também relatou que a recepção da UPA estava lotada e que não havia distanciamento entre os pacientes. “A falta do distanciamento social entre os pacientes e a não realização da testagem aumentam o risco de contágio para a população”. Segundo o presidente do sindicato, o relatório das irregularidades será encaminhado ao Conselho Regional de Medicina, ao Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Igesdf) e ao Ministério Público.
O médico José Pedro Rego Neto, coordenador médico da UPA e a gerente a unidade, Telma Maria Oliveira Moreira apresentaram o protocolo de atendimento para covid-19. “A situação na UPA está controlada, estamos tomando medidas de precaução e todos os colaboradores estão recebendo EPIs”, declarou.
As denúncias foram recebidas por meio do Canal de Denúncia do Sindimédico-DF , no site da instituição. O identidade do médico denunciante é preservada. “Temos recebido uma quantidade enorme de denúncias graves e não podemos nos omitir. Os médicos precisam ter a infraestrutura necessária para cuidar da população e garantir a sua própria segurança”, Gutemberg