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Brasília

Vila Cauhy tenta se reerguer após inundações

A maioria das doações foi de alimentos, mas a população ainda precisa de roupas, cobertores e agasalhos devido ao frio

Vítor Mendonça

04/01/2024 19h44

Foto: Agência Brasil

Após as inundações geradas pelas fortes chuvas, a população da Vila Cauhy tenta se recuperar dos alagamentos que ocorreram na última quarta-feira (3). Com o nível do Córrego Riacho Fundo ao menos dois metros abaixo do registrado no dia dos alagamentos, os moradores ficaram mais aliviados e torcem para que o volume de água permaneça cada vez menor.

A maioria das doações foi de alimentos, mas a população ainda precisa de roupas, cobertores e agasalhos devido ao frio. Também são necessárias bases de camas, uma vez que o chão úmido, minando água em determinados pontos, tem também molhado os colchões doados. As informações do que é necessário para as famílias estão sendo levantadas pelas equipes das Secretaria de Desenvolvimento Social do DF (Sedes-DF).

O problema com a umidade do chão é outro desafio na casa de Francisca Valdirene Costa, 53 anos, uma das atingidas pela água da chuva e do córrego na última quarta-feira (3). De acordo com a moradora, que conta estar no local há pelo menos 30 anos, devido ao longo período de alagamento, a água tem subido entre as cerâmicas e descido pelas paredes, mantendo o ambiente molhado.

Apenas entre a noite de quarta e ao longo do dia de ontem a moradora conseguiu limpar a lama que invadiu os cômodos durante as inundações. Com a água na altura dos joelhos, ela precisou subir o sofá em alguns bancos e colocar a geladeira em duas cadeiras para evitar que o móvel e o eletrodoméstico ficassem ainda mais encharcados.

“Esse foi o pior dos alagamentos. A água subiu muito alto e atingiu muita coisa. Estamos sem roupas limpas porque sujou tudo com a lama. Alguns vizinhos [que não foram atingidos] estão juntando algumas roupas para lavar, mas com esse tempo úmido não dá para secar rápido, nem sol não tem”, disse. “O colchão que ganhamos da Defesa Civil amanheceu o dia molhado e não vamos poder usar de novo. Não sei como vou fazer [para dormir] essa noite”, desabafou.

Na noite de terça-feira (2), quando começaram as chuvas fortes e o nível da água do córrego subiu, ela chegou em casa do trabalho apenas após o ambiente já estar alagado. A lama levada pela inundação precisou de três lavagens para sair completamente de dentro da casa. Ainda na tarde de ontem, ela e a família tentavam limpar a varanda.

“Limpamos aqui com a água da chuva que estava caindo em uma bica aqui perto, que pegamos com baldes porque estou sem água em casa. Acho isso um descaso. É um sofrimento muito grande que não desejo para ninguém”, disse a moradora, com lágrimas nos olhos. “Ontem [quarta-feira] eu passei o dia com sede porque não tinha água. Fiquei indo na casa de um e de outro para pegar um copo d’água”, contou.

A filha de Francisca é confeiteira e o sustento vinha dos preparos para clientes em toda Brasília. O trabalho foi interrompido, porém, em razão dos alagamentos. Em uma área conjunta à cozinha, onde os doces eram preparados, os armários com os materiais utilizados na fabricação também foram inundados e, com a umidade, ficaram estufados. Ao mostrar o local, Francisca não conteve as lágrimas. “Mas eu sei que Deus é grande e vai nos ajudar”, exclamou.

“As pessoas ficam perguntando por que a gente não sai daqui da Vila, mas eu moro há 30 anos aqui. Como eu saio se tudo o que eu tenho está aqui? Vou para onde? […] O dinheiro que recebo é contado para as refeições, despesas do mês. Não sobra para quase nada”, destacou. A primeira das quatro inundações aconteceu há menos de 10 anos, o que indica um problema recente para as famílias da localidade.

Onde doar

As doações para as famílias atingidas pelas fortes chuvas na Vila Cauhy estão sendo recebidas em todas as administrações do DF. Muitos donativos chegaram ao local ontem e foram redistribuídos ao longo da tarde. Também na entrada da cidade foi montada uma estrutura de apoio pelo Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) em conjunto com a Defesa Civil para receber as doações, que foram separadas e catalogadas na escola CAIC JK.

Bruno Saraiva, 43 anos, é corretor de imóveis e levou fraldas, roupas, fogão e outros itens para o ponto de apoio do CBMDF ontem. A motivação, segundo ele, foi a compaixão com as famílias do local. “Também sou pai de família, tenho três filhas, e sei a dificuldade que é para um pai e uma mãe nesses momentos. São dificuldades que não desejamos para ninguém, então sabendo disso, houve essa iniciativa de trazer [as doações]”, afirmou.

Segundo ele, em um grupo no Whatsapp, ele recebeu mensagens de amigos avisando da situação na Vila Cauhy e foi feita uma mobilização entre os integrantes para arrecadar valores para doações. Com o dinheiro, foram comprados rodos, vassouras, itens pessoais, entre outros. “O beneficiário é quem recebe, mas também é quem faz a ação de doar. O mais importante é doarmos genuinamente, a quem não sabemos e sem esperar nada em troca, de coração”, finalizou.

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