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Vídeos: entregadores fazem ‘buzinaço’ em apoio a motoboy humilhado por sócio de restaurante

Protesto ocorre em frente ao shopping onde o destrato ocorreu. “Pedimos respeito e dignidade”, dizem os motoboys

Redação Jornal de Brasília

20/07/2021 12h39

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Vítor Mendonça e Willian Matos
[email protected]

Um protesto com cerca de 50 motociclistas por aplicativo tomou a frente de uma das entradas do ParkShopping, no Guará, na manhã desta terça-feira (20). A manifestação aconteceu em decorrência do destrato de um dos sócios da rede Abbraccio no último sábado a um motoboy no ponto de apoio dos profissionais, conhecido como doca, onde eles aguardam os pedidos e carregam os celulares.

Marcado para às 11h, o protesto durou quase uma hora e meia com buzinas, aceleradas, faixas e pedidos de respeito aos trabalhadores. “Entregadores de apps são essenciais. Pedimos respeito e dignidade”, dizia um dos cartazes.

Veja vídeos da manifestação:

Um dos manifestantes, Abel Santos, de 29 anos, que trabalha como motoboy há cerca de três anos, destacou que este tipo de ofensa e falta de respeito acontece frequentemente nas cidades onde os trabalhadores circulam para entregar os pedidos de clientes, principalmente em Águas Claras, conforme destacou. “Se formos entrar com capa de chuva, com bag [mochila onde os lanches são carregados], somos barrados”, exemplificou.

“Não temos onde beber água. Onde acharemos água potável, filtrada para beber, se não temos os pontos de apoio? A gente vê claramente que a proposta dos aplicativos em fazer parcerias com as empresas para destinar áreas para nossas necessidades, de carregar celular ou usar o banheiro, não funcionam. Vimos isso claramente com nosso colega sábado passado [17]. Estamos aqui em solidariedade ao que ele sofreu de humilhação”, reforçou ainda.

Abel defende que os entregadores por aplicativo também estiveram na linha de frente nas entregas que fizeram, sendo “peça-chave para que o comércio continuasse funcionando”. Por esse motivo, ele também se queixa da falta de prioridade para a vacinação da categoria, que, segundo o entregador, está em contato direto e constante com muitas pessoas durante o tempo de trabalho, seja transportando alimentação ou medicamentos.

Suelen Silva, 26, é entregadora há dois anos e endossa as palavras do colega, acrescentando que as mulheres da categoria sofrem ainda mais com a falta de pontos de apoio. “Homens já têm as suas dificuldades, mas conseguem resolver o uso do banheiro melhor que nós, mulheres, que precisamos de mais privacidade. Sabemos que o ponto de apoio facilitaria muito para nós”, pontuou.

Os pontos evitariam também, segundo a motociclista, o constrangimento por vezes sofrido por clientes de estabelecimentos, que “olham torto, como se fossem coisa de outro mundo”, conforme disse. “Querendo ou não, temos necessidades fisiológicas que são fundamentais. Precisamos de um espaço para a gente”, finalizou.

Lei nº 6.677/2020

O deputado distrital Fábio Félix (PSOL) esteve no local, em apoio aos trabalhadores por aplicativo. É dele a autoria da Lei 6.677, de 22 de setembro de 2020, que estabelece a criação de pontos de apoio e suporte para os entregadores quanto ao carregamento de celulares e uso de sanitários. “Mas as empresas ainda não implementaram e estão atrasadas para a aplicação da Lei. Essa é a nossa cobrança”, disse.

“Ficamos chocados com esse vídeo que viralizou. É uma discriminação televisonada contra o entregador de aplicativo que estava fazendo seu trabalho. É inaceitável e injustificável aquilo que foi feito contra o entregador”, ressaltou o parlamentar em frente ao ParkShopping.

De acordo com Felix, um ofício será enviado à Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) para multar as empresas que não garantirem pontos de apoio para os entregadores por aplicativo da capital. “Os entregadores prestam serviços para os estabelecimentos comerciais. Mas, depois de cenas como essas e tantos relatos que recebemos durante a pandemia, é preciso que haja uma ação do GDF para que não se repita uma ação tão violenta como essa com um entregador”, finalizou o psolista.

O caso

No sábado, Everton Santos Silva, 30 anos, estava no ponto de apoio esperando por um pedido e lá ficou por cerca de 30 minutos. O sócio do restaurante Abraccio foi até o motoboy com o pedido na mão, dando início a uma discussão.

Durante a conversa, o sócio destratou Everton. “Pago R$ 140 mil de aluguel para motoboy sentar aqui?”, disse. “Estou nesse shopping há 15 anos. Não vai chegar motoboy e achar que manda, não”, complementou. O proprietário ainda reclamou do fato de o motoboy estar usando uma tomada para carregar o celular.

Em nota, a Abraccio pediu desculpas e disse que a atitude do sócio “não condiz com a nossa relação com os profissionais de entrega”. “Tentamos contato com o Éverton para nos desculpar pessoalmente, ainda sem sucesso, mas reforçamos publicamente esse pedido de desculpas”, afirma o texto. O sócio foi afastado para apuração do caso.

O ParkShopping lamentou o ocorrido. “Respeitamos todos os públicos que frequentam o ParkShopping e prezamos pela boa convivência e relacionamento cordial entre lojistas, colaboradores, prestadores de serviço, clientes e todos que circulam e trabalham no shopping.”

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