Menu
Brasília

Vídeo: Sem limites para amar a vida

Multiatleta perde a perna, supera deficiência e conquista títulos em vários esportes. “Ser feliz é muito melhor do que ser triste”, ensina

Afonso Ventania

07/07/2023 8h39

Pedalar em trilhas muito técnicas, velejar em águas agitadas e pisar fundo no acelerador em pistas de corrida é o desejo de muitos viciados em adrenalina. Mas é possível fazer tudo isso sem uma perna?

Enquanto para muitos praticar qualquer esporte com alguma deficiência seria um obstáculo quase instransponível, para o advogado Paulo Roberto Galvão Filho, de 43 anos, é um estilo de vida. Depois de perder a perna esquerda em um sinistro automobilístico, em 2004, Paulinho, como é conhecido pelos amigos, decidiu que apenas a ele caberia definir seus limites e não as circunstâncias da vida. “Eu percebi que eu ganhei uma segunda chance de escrever uma nova vida. E então eu decidi que a deficiência física não me impediria de curtir a vida. Afinal, o limite está na mente e não no corpo”, ensina.

Depois de passar pela reabilitação no hospital Sarah Kubitschek onde conheceu a canoagem e foi estimulado a praticar esportes para resgatar a autoestima e confiança, ele começou a experimentar diferentes modalidades. O momento mais difícil desse período, segundo Paulo, foi perceber que não poderia usar uma prótese para caminhar ou se manter em pé. Afinal, ele sofreu a perda completa do membro inferior esquerdo. Depois que aceitou usar as muletas reconquistou a liberdade de locomoção e a sensação de capacidade.

O primeiro esporte que levou a sério e se dedicou integralmente foi a vela adaptada, no projeto Vela para Todos, para pessoas com deficiência, em que chegou até a participar da seletiva para os Jogos Paralímpicos do Rio, em 2016. Paulinho também foi campeão mineiro e conquistou o vice-campeonato brasileiro. “Já tinha participado da categoria optimist quando era criança. Mas após o meu acidente, voltei para a vela e foi muito importante na minha recuperação”, conta.

Automobilismo

Depois de alguns anos molhando o pé em competições náuticas, Paulinho decidiu conhecer o automobilismo e pisar fundo no acelerador. No kart adaptado ele mostrou que também poderia ser competitivo nas pistas de corrida. E nem mesmo o acidente de carro que lhe custou a perna foi capaz de impedir o desenvolvimento do seu talento no automobilismo. “Sem trauma. Eu boto é para moer mesmo”, diz, sorrindo.

Veloz e habilidoso, Paulo Galvão Filho venceu provas locais e nacionais em sua categoria. Uma das mais memoráveis, segundo ele, foi o Desafio Internacional das Estrelas, disputado no Beto Carreiro World, em Santa Catarina, em 2014. Ele dividiu a pista com nomes como Michael Schumacher, Fernando Alonso, Bruno Senna, Felipe Massa e Rubinho Barrichelo. No kart adaptado ele levou a melhor e foi campeão do evento.

Disputou também as 500 milhas de kart em Limeira, no interior paulista, e conquistou um lugar no pódio. A prova teve duração de 12h e o kart foi dividido com outro piloto com deficiência. Paulinho ainda demonstrou coragem e ousadia ao correr provas contra pilotos sem deficiência. Nas categorias F400 e Pro 500, ele enfrentou de igual para igual e conquistou algumas vitórias.

Ciclismo

A paixão pelas duas rodas surgiu logo depois e ele começou a praticar tanto o ciclismo de estrada quanto o mountain bike. Afinal, segundo o próprio Paulo Galvão Filho, apesar de o mundo impor alguns obstáculos é ele quem define os próprios limites.

No ciclismo, ele continuou rompendo barreiras e superou preconceitos. Participou de campeonatos brasileiros, panamericanos e até representou o Brasil em competições internacionais. Uma prova, contudo, marcou o atleta. A escalada do Mont Ventoux, montanha mítica que é uma das mais icônicas na maior prova ciclística do mundo, o Tour de France.

Além da intensa altimetria, ventos de até 320km/h já foram registrados na montanha. Ventoux significa, em tradução livre do francês, ventania. Ciclistas de todo o mundo testemunham que é uma das subidas mais temidas do esporte. Imagine pedalar toda a extensão com apenas uma perna! “Foi uma prova amadora, mas foi um dos meus maiores desafios”, lembra.

Futuro

A próxima modalidade que está na mira do multiatleta é o kite surf adaptado, um esporte aquático que utiliza uma espécie de pipa e uma prancha. Para ser utilizada por pessoas com deficiência é adaptado um banco.

O advogado e servidor do Tribunal de Justiça do DF, Paulo Galvão Filho, também planeja ter um filho com a esposa já em 2024 e também se especializar em Direito Previdenciário para pessoas com deficiência. Por que, além de se divertir e desenvolver a parte física e mental, ele usa o esporte como ferramenta de comunicação para pautar a acessibilidade e os direitos das pessoas com deficiência na sociedade. Ele sabe que, para engajar as pessoas sobre esses temas, é preciso se posicionar com força e energia para debater sobre esses temas. “Houve alterações significativas na legislação e sinto que preciso contribuir de alguma forma com a sociedade”.

Paulinho descobriu através do esporte que, na vida, é preciso fazer uma escolha entre se tornar uma vítima dos acontecimentos ou encará-los com coragem e bom humor, aliás, uma marca registrada do multiatleta. Como um verdadeiro campeão, ele inspira com ações que a vida não é uma questão de vencer um torneio ou um adversário, mas reencontrar a alegria de viver e a verdade pessoal.

“Nunca desista dos seus sonhos, mesmo que muitas pessoas digam que é impossível. Todo dia é uma nova chance que temos. Se está ruim para você, está ruim para todo mundo. Amar a vida é o segredo, porque ser feliz é melhor do que ser triste”, conclui.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado