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Brasília

Um brinde à segunda vida!

Em relatos exclusivos, JBr conta as experiências daqueles que enfrentaram e superaram o drama da covid-19

Redação Jornal de Brasília

18/05/2020 5h59

Atualizada 19/05/2020 16h29

Curados: uma nova chance de ser feliz

Cláudio Py, Larissa Galli e Vítor Mendonça
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A quantidade de pessoas recuperadas da infecção causada pelo novo coronavírus vem aumentando no Distrito Federal, no Brasil e em todo o mundo. Atualmente, cerca de 2.243 pacientes que contraíram a covid-19 conseguiram se curar da doença na capital. O Jornal de Brasília conversou com pessoas que venceram o coronavírus e contaram as dificuldades que tiveram para lidar com a doença.

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal considera como recuperadas as pessoas que tiveram o diagnóstico de covid-19, com mais de 14 dias de início da manifestação de sintomas e que não está hospitalizado.

Janaína Jório

Em Dublin, na Irlanda, a brasiliense Janaína Jório (foto), que mora na capital irlandesa há dois anos, passou por dias difíceis. Longe da família, a maquiadora de 38 anos contraiu o vírus e precisou passar sete dias internada em Unidade de Terapia Intensiva. Segundo o relato de Janaína, ela apresentou os sintomas da covid-19 e uma semana depois testou positivo para a doença. “Senti muita dor no corpo, cansaço e fraqueza. Tive febre por dois dias seguidos e uma dor de cabeça muito forte que não passava com nenhum remédio. Depois de uns quatro dias, comecei a tossir muito. Entrei em contato com meu médico e uma ambulância me buscou e me levou direto para a UTI”, conta.

O vírus havia causado infecção nos pulmões de Janaína. Depois, o quadro evoluiu para pneumonia.

“Não precisei ser entubada, mas os médicos me alertaram que meu caso era grave e de risco. Mesmo eu não tendo nenhuma doença crônica, sendo jovem e praticando exercícios físicos regularmente passei por tudo isso”, desabafa. “Foi bem complicado. Durante a internação voltei a ter febre e apresentei piora. Só pude ir para casa depois que testei negativo para o vírus, mas mesmo assim ainda estava com pneumonia e tive que continuar o tratamento em domicílio.”

Recuperada há mais de um mês, Janaína considera que ganhou uma “nova chance” para viver. Ela destacou a importância de cultivar pensamentos positivos e acreditar na recuperação. “Apesar da ajuda dos médicos, a luta contra essa doença é muito solitária, é apenas você com você mesmo. É uma doença que mexe também com a nossa cabeça. Por experiência própria eu digo que tentei me manter positiva na maior parte do tempo e isso fez diferença”, finaliza.

Marina Montenegro

Depois de 14 dias de sofrimento causado pelo novo coronavírus, a estudante de Relações Internacionais Marina Montenegro, de 21 anos, conta que deixou de sentir os sintomas da covid-19, como dor de garganta, falta de ar, fraqueza e tosse. “Me sinto totalmente recuperada. Contudo, a minha saúde mental está bastante abalada, mas acredito que todo mundo está assim”, desabafou.

Primeiro eu percebi que a frequência da falta de ar foi diminuindo conforme os dias passavam. Depois a dor no peito foi ficando mais leve. Eventualmente, o cansaço excessivo amenizou e eu comecei a ser capaz de realizar atividades simples novamente, como tomar banho sem precisar sentar, e cozinhar. Chegou a um ponto que não sentia mais nada além de cansaço. Desde que isso passou, há uns dias, me sinto totalmente recuperada”, complementou Marina Montenegro.

A jovem brasiliense descobriu que estava contaminada pelo novo coronavírus no dia 24 de abril, após ir ao hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, por estar sentindo alguns sintomas como dor de garganta, falta de ar, fraqueza e tosse há vários dias. A estudante tinha voltado de um intercâmbio em Reims, na França, 11 dias antes do diagnóstico, e estava de passagem pela capital fluminense. Segundo ela, o retorno ao Brasil foi tranquilo e seguro e, por conta disso, a confirmação da doença foi uma surpresa.

Apesar de morar em Brasília, Marina decidiu passar o período de isolamento social no Rio de Janeiro, em um apartamento alugado. Segundo a estudante, ainda não há data prevista para retornar a Brasília.

“É importante esperar a situação do país melhorar antes de viajar novamente. Para além da vontade de ver a minha família, não tenho nenhum compromisso que me obrigue a voltar para lá tão cedo”, disse. E salientou: “minha família está mais aliviada agora. É muito difícil ver quem você ama doente. Acredito que elas [a mãe e a irmã] passaram a respirar mais tranquilamente”, falou.

O contágio no sistema penitenciário

Tudo começou em um plantão no dia 2 de abril, quando Bruno Roberto, policial do Sistema Penitenciário do DF, precisou levar um de seus colegas para o hospital. A princípio com suspeita de dengue, o colega apresentava todos os sintomas de fraqueza e febre. “Quando o enfermeiro bateu o olho nele, suspeitou fortemente que era coronavírus. Colocamos máscaras na mesma hora e ficou aquela tensão”, diz o policial. “Já saí de lá com a suspeita de que eu também tinha sido infectado.” O colega foi afastado e encaminhado para casa.

Desde a madrugada do dia 3, seguinte ao da assistência ao colega, vieram a febre e as dores no corpo.

“Eu pensava que estava impactado por ter tido contato com meu colega, naquele medo. Achei que fosse algo até do meu psicológico”, observa Bruno — que, por segurança, foi afastado até que se fizessem os testes para a confirmação da covid-19. No dia 8 saiu o veredito: positivo para a doença da pandemia.

Os dias se passaram e os sintomas permaneceram os mesmos. O isolamento na casa no Guará não impediu que a esposa Fernanda e os dois filhos, de 2 e 6 anos, contraíssem o vírus. “Confesso que os efeitos para mim foram muito leves, minha recuperação foi tranquila. Me assustei quando minha esposa teve uma infecção no pulmão; aquilo para mim foi bem tenso”, relembra.

Em 20 de abril, segunda-feira, Fernanda se levantou da cama reclamando de uma dor nas costas, com suspeita de que o colchão ou a cama seriam os responsáveis pelo mal-estar. “Ela estava com certo cansaço, mas relativamente bem, sem sintomas de falta de ar, por exemplo”, disse Bruno.

A preocupação aumentou quando um colega, também com o coronavírus, lhe contou por telefone que, após uma tomografia, constatou que estava com infecção pulmonar. “Era apenas um leve incômodo para ele também”, afirmou. “Fomos ao hospital e, depois do mesmo procedimento, o médico diagnosticou que 25% do pulmão dela estava comprometido, infeccionado.”

Tratando-se em casa, com antibióticos e remédios pontuais para amenizar as dores, e com repouso, os dois esperaram os 14 dias passarem e os sintomas aliviarem, até que a cura viesse. “Foi um momento diferencial com relação à nossa fé em Deus. Nos agarramos mais ainda naquilo que acreditamos”, disse. “Mas é importante não confundir fé com menosprezo.”

“Percebi que muita gente ainda tem a covid-19 como uma doença bem leve, que vai ser somente uma gripezinha, mas existem algumas coisas da doença que se não forem tratadas no início, podem evoluir para um quadro pior”, ponderou Bruno Roberto.

Da mesma equipe do policial — cerca de 40 pessoas —, o relato é que muitos colegas também tiveram a mesma infecção no pulmão.

“Fiquem em casa e cuidem do próximo”

No caso de Thiago Souza, 35 anos, também agente penitenciário, a suspeita é que um descuido em um dos procedimentos realizados foi o suficiente para que desse entrada ao novo coronavírus, segundo ele. O Equipamento de Proteção Individual (EPI), uma máscara, havia se soltado, mas, de acordo com o policial, não haveria tempo hábil para arrumá-la antes que o trabalho fosse concluído.

“Mais cedo ou mais tarde eu sabia que contrairia. Por trabalhar todos os dias dentro do local onde os primeiros casos da minha unidade começaram, e por minha esposa trabalhar na área de saúde”, disse.

Em 17 de abril, calafrios e dores no corpo apareceram. “Achei que fosse uma gripe comum, até porque não tive febre nem falta de ar.”

Dois dias depois, os sintomas pioraram e um exame on-line com um médico deu o alerta: era provável caso de coronavírus. No dia 20, paladar e olfato pararam de funcionar, mais um indicativo da doença.

Um exame de laboratório confirmou as suspeitas.

Na semana seguinte, por orientação da médica do trabalho, foi ao hospital. Após exames, notou-se que os quadros de oxigênio no sangue estavam baixos e Thiago precisou ser internado. Estava com pneumonia em níveis de “moderado a severo”. “Ali na UTI [Unidade de Terapia Intensiva], quando vi o ambiente de outras pessoas em situação pior, me questionei se eu ficaria daquela mesma forma, vem esse medo”, comentou

No dia 27 à tarde, teve alta na unidade hospitalar. Mais alguns dias em casa, em isolamento, foram o suficiente para a recuperação. Curado, retornou à rotina de trabalho na última quinta-feira.

Marcelo Chaves

O colunista Marcelo Chaves, do Jornal de Brasília, também precisou combater o vírus da covid-19 nos últimos dias. De acordo com o jornalista, a suspeita é que um amigo da área da saúde lhe tenha transmitido “Ele ainda não sabia, estava assintomático. Pouco tempo depois me avisou, e eu entrei em quarentena. Assim como ele.”

O colunista afirmou que os sintomas mais evidentes, iniciados no dia 3 de maio, foram dor de cabeça, mal-estar e falta de ar. Segundo ele, já estava em isolamento social. Por complicações, Marcelo precisou ser internado no Hospital Santa Luzia. “Fui internado porque foi detectada uma pneumonia.”

Marcelo confessa que não acreditava que o vírus “fosse tão doloroso e sofrido”.

“O recado que eu gostaria de deixar é para as pessoas se cuidarem. É muito sofrido, não é brincadeira. E não há remédio. Podendo ficar em casa, fique! Se cuidem e cuidem do próximo”, finalizou o colunista do JBr .

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