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Brasília

Sistema de cotas raciais completa 20 anos, mas luta contra racismo é diária

No ano de 2003, o sistema de cotas foi inserido na UnB, e já no ano seguinte deu a oportunidade de 366 pessoas negras ingressarem na faculdade

Agência UniCeub

07/06/2023 13h39

Foto: Divulgação

A estudante Renata Rodrigues, de 22 anos, se emocionou mais ainda ao ver seu irmão chorando, quando ambos viram o nome dela na lista do curso de ciências ambientais. Uma vitória tão importante para ela, como pessoa preta que depois de muita dificuldade, conseguiu, através do sistema de cotas, ingressar na universidade.

De acordo com o último levantamento do Decanato de planejamento, Orçamento e Avaliação Institucional, no primeiro semestre de 2021, constavam 2.337 cotistas negros.  

No caso de Renata, a entrada na universidade foi um importante passo, segundo acredita, não apenas para ela, mas, para todas as pessoas negras que têm o racismo tão presente em suas vidas. 

O racismo não era um assunto recorrente na casa dela. Mas, não é porque não era falado, que não havia esse tipo de violência no dia a dia dela e dos irmãos.

Ela recorda que o irmão sempre era parado pela polícia, e levava os chamados “baculejo”, que são as abordagens, seu irmão sofria com frequência.

“Meu irmão por ser mais escuro sofreu mais. Sempre  levava bacu da polícia, tinha muitos apelidos e quando era criança minha mãe pegou ele passando talco no corpo dizendo que queria ser branco”, lamenta a estudante. 

Ela diz que também chegou a sofrer racismo. Não com tanta violência, mas ainda assim de forma que traduzia a violência sofrida por negros diariamente no Brasil, mesmo com pessoas de pele mais clara.

Mas, seu cabelo sempre foi muito volumoso e isso, muitas vezes, é visto como sinal de desleixo. Então, ela fazia vários penteados, até poder chegar na idade de poder alisar. 

Ela passou a perceber o racismo estrutural quando começou a trabalhar, e notar como as pessoas no ambiente de trabalho a olhavam e a tratavam. Um deles já chegou a fazer comentários racistas para ela, e chamá-la de “piolhinho” por conta de seu cabelo. Ele só parou quando uma pessoa da gerência do local chamou a atenção dele. 

Estudo

Renata conta que é uma pessoa introvertida, e quieta, e essas são algumas características que compõem a personalidade dela. Segundo ela, por isso até hoje ela ainda não tenha sofrido com nenhuma falta de oportunidade por sua cor.

Renata conta que a quantidade de oportunidades para pessoas brancas é maior sim, e isso é muito mais visível com a quantidade de pessoas pretas na periferia.

Ela mesma, por exemplo, fazia um cursinho gratuito, através de uma ONG, e sentia dificuldade para se locomover até lá porque o governo demorou muito tempo para liberar seu passe estudantil.

Assim, é possível ver a importância das cotas raciais para as pessoas negras, pois grande parte delas vêm da periferia. 

Rotina

Renata trabalhava na época e gastava R$ 11 de ônibus todos os dias para se locomover, saía de casa às 6h e chegava às meia-noite.

Sempre disseram que ela devia fazer medicina, por isso, ela tentava, mas sempre era muito comparada com quem estudava o dia todo e, por isso desanimou de tentar entrar para o curso.

“Me comparava com as pessoas que estudavam 24 horas por dia, comigo que trabalhava em tempo integral e não tinha tempo para os estudos”, conta Renata.

Ela ainda lembra e se orgulha de dizer que estar na Universidade é muito importante para ela, a mãe dela não conseguiu terminar os estudos, então Renata faz pelas duas.

“Ter conseguido esse espaço é um orgulho para mim e para minha mãe. Sei como nós mulheres precisamos nos esforçar ainda mais para conseguirmos nosso objetivo,  é um esforço que farei por mim e pela minha mãe”.

Renata explica que escolheu esse curso depois de muita desânimo com o Prouni. Como ela trabalha em período integral, o curso noturno que mais chamou a atenção dela foi esse, assim ela foi surpreendida por conseguir passar, através do sistema de cotas, para a universidade pública

No ano de 2018,  quando ainda era uma garota, ela estudou em um cursinho tradicional de Brasília, que seu pai pagava com sacrifício.

No mesmo ano, ela conseguiu uma bolsa no programa do Prouni, na Universidade Católica de Brasília para medicina veterinária, mas seu pai por ser autônomo não conseguiu as documentações necessárias e ela desistiu da tão sonhada graduação . 

Após muita insistência de seu avô e a pressão para fazer uma faculdade, Renata conta que se inscreveu em ciências ambientais na Universidade de Brasília pelo sistema de cotas, e até havia esquecido disso quando no primeiro semestre de 2021, seu irmão chorou de felicidade ao ver o nome de Renata na lista.

Assim, ela entendeu a importância que o sistema tem para pessoas , pois os dois foram os únicos da família que conseguiram entrar em uma universidade pública.

No ano de 2003, o sistema de cotas foi inserido na Universidade de Brasília (UnB), e já no ano seguinte deu a oportunidade de 366 pessoas negras ingressarem na faculdade e adquirirem a oportunidade de estudar.

Por Malu Castro

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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