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Brasília

Sem saúde básica, prontos-socorros atendem com normalidade

Arquivo Geral

28/05/2018 16h30

Foto: Breno Esaki

Raphaella Sconetto
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As Unidades Básicas de Saúde amanheceram fechadas nesta segunda-feira (28) e os profissionais de saúde foram realocados para hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da rede pública. Sindicato dos Médicos critica a decisão e afirma que atitude aumentou a sensação de caos. No entanto, o Jornal de Brasília foi conferir a situação dos hospitais públicos e não encontrou problemas no Instituto Hospital de Base (IHB-DF), Hospital da Asa Norte (Hran) e Materno Infantil (Hmib).

O presidente do Sindicato dos Médicos, Gutemberg Fialho, discordou da transferência dos profissionais da saúde que atendem nas unidades básicas de saúde aos prontos-socorros e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Ele resume a atitude como “aumento da desassistência”.

“Conseguiram piorar o que já estava ruim. Fechar as unidades básicas de saúde fez com que o paciente perdesse o atendimento normal”, critica. Para ele, a ação teria que ser repensada por conta do combustível. “O paciente que mora perto da UBS teve que se deslocar para hospital que muitas vezes fica distante”.

Fialho aponta ainda que os médicos que foram aos hospitais e UPAs ficaram sem prestar o atendimento. “Não tem nem espaço para sentar, imagina para realizar uma consulta com qualidade”, expõe.

Sobre a falta de insumos na rede pública, o presidente do SindMédicos apontou que não é possível estimar prejuízos. “O que aconteceu foi aumentar a sensação de caos. A culpa não é da greve dos caminhoneiros, já estava faltando tudo. O medicamento que falta, vai continuar faltando”, pondera.

No Instituto Hospital de Base, o pronto-socorro estava vazio. Foto: Breno Esaki

Prontos-socorros com atendimento normalizado

No Hospital de Base, todos os casos estavam sendo atendidos, de acordo com pacientes ouvidos pela reportagem. A dona de casa Geane Lustosa Freire, 42 anos, levou a filha de sete anos até a unidade de saúde em busca de um pediatra. As duas chegaram pela manhã e conseguiram sair antes das 12h.

“Minha filha está com a garganta muito inflamada. Estava com febre. Chegamos aqui e a triagem e o atendimento foram rápidos”, aponta. “O que demorou um pouco foram os resultados dos exames, mas eu sei que demora mesmo”, completa.

Houve até pessoas que elogiaram a rapidez no atendimento. “Meu esposo teve uma fratura no pé, rompeu o tendão ontem à noite, viemos para cá e já fez até a cirurgia. Estamos indo para casa. O atendimento foi ótimo, tudo muito rápido”, afirmou uma mulher, que não quis se identificar. O homem deu entrada ontem às 22h e estava indo para casa nesta segunda-feira (28) às 11h40.

Ao lado da entrada do pronto-socorro há o Centro de Trauma. No momento em que a reportagem foi até lá, apenas uma mulher estava no local e aguardava o marido que estava recebendo o atendimento. O vigilante afirmou ainda que não havia demora com pacientes que chegavam.

Antônia Sousa estava com um exame agendado e não foi cancelado. Foto: Breno Esaki

Hospital da Asa Norte e Hospital Materno Infantil

A situação no Hospital Regional da Asa Norte também estava tranquila. Antônia Sousa, 37 anos, aguardava para fazer uma endoscopia. O exame já estava marcado e não foi cancelado. “Estou sentindo muita dor no estômago”, contou. Ela notou que a emergência do hospital estava mais vazia do que em outros dias. “Já vim várias vezes aqui no Hran e hoje está bem vazio. Acho que vou fazer o exame bem rápido”, completa.

A dona de casa Nadir Leite, 58 anos, foi acompanhar o cunhado que está passando por uma crise de transtorno mental e depressão. Moradores de Sobradinho, eles buscaram atendimento na unidade básica de saúde próximo de casa, mas por estar fechada tiveram que ir até a emergência da Asa Norte. “Fomos para o postinho bem cedo, ficamos esperando alguém chegar, mas como não apareceu ninguém viemos para cá. Saímos de lá 9h”, contou.

Eles chegaram ao hospital por volta das 10h e mais de duas horas depois ainda não haviam conseguido atendimento. “Fez a triagem e está com a pulseira amarela (classificação de risco urgente). Perguntei quando iria ter atendimento, mas falaram que não sabiam porque ele precisa de um médico específico”, aponta. Mesmo com crise, o homem não recebeu nenhuma medicação enquanto aguardava ser chamado. “Se fosse no posto, o médico que o conhece já saberia o que fazer”, acrescentou Nadir.

Atendimento restrito

Diferentemente das outras unidades de saúde, o Hospital Materno Infantil (Hmib) estava com o atendimento restrito só para casos graves. O Jornal de Brasília esteve no local e contabilizou pelo menos cinco crianças que estavam aguardando atendimento. No entanto, pais afirmaram que o tempo para fazer ficha e triagem foi normal.

Em nota, a Secretaria de Saúde informou que havia três pediatras para realizar as consultas e cuidar dos pacientes internados, por isso, o atendimento “segue a classificação da risco, priorizando os casos mais graves”.

Versão oficial

A Secretaria de Saúde afirmou que todos os hospitais da rede estão preparados para fazer atendimentos emergenciais. Os profissionais que atuam nas unidades básicas de saúde, que amanheceram fechadas, foram encaminhados aos prontos-socorros, “a fim de reforçar a assistência ao cidadão que necessitar de pronto atendimento”.

Sobre o fechamento das UBS, a pasta apontou que permanecerão sem atendimento nesta segunda-feira (28). “Uma nova avaliação da rede será feita na tarde desta segunda-feira (28) para balizar a tomada de decisão dos gestores sobre o funcionamento das unidades nos próximos dias”, esclarece, em nota. A cirurgias eletivas que foram suspensas hoje serão reagendadas para a data mais próxima possível, garante a pasta.

Sobre a falta de combustível, a Saúde afirmou que as ambulâncias dos hospitais e do Samu estão com abastecimento pleno e em operação nas ruas do Distrito Federal. Os hospitais também possuem estoque de insumos suficiente para atendimento. “A pasta conta com a compreensão e colaboração dos servidores para que a população não fique desassistida”, finaliza a nota.

Saiba mais 

Com as Unidades Básicas de Saúde fechadas,  a Campanha de Vacinação contra Influenza, que vai até sexta-feira (1), teve interferência. Até o momento, metade das crianças menores de cinco anos ainda não foi vacinada contra gripe no Distrito Federal. No entanto,  a Secretaria de Educação diz que não há indicativo de alteração no calendário.

 

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