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Brasília

Psicodélicos para saúde mental são temas de painel em Brasília

Na próxima quinta-feira (20), o pesquisador Newton Molon dirige conversa sobre validez do uso de psicoativos em terapias

Redação Jornal de Brasília

17/10/2022 17h02

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agêcnia Brasil

O uso de substâncias psicoativas para tratamentos terapêuticos está sendo cada vez mais estudado e garantindo avanços para ajudar em intervenções em casos de depressão e busca pela saúde mental. A prática dentro dos consultórios tem a defesa do psicanalista Newton Molon, que dirige o CAP (Convite à Psicanálise) – Centro de Estudo de Formação em Psicanálise em Brasília.

Para tratar deste assunto e desestigmatizar o uso dos psicodélicos apenas com fins recreativos, o também escritor e doutorando em psicologia social pela Universidade de Brasília (UnB) fará um painel de conversa na próxima quinta-feira (20) a respeito. Com o tema “Psicanálise, Psicodélicos e Saúde Mental”, os interessados poderão fazer inscrição pelo contato do CAP: (61) 99299-9070.

Conforme destacou Newton, este será um primeiro encontro para abrir o conhecimento a respeito da prática psicanalítica, ainda pouco difundida, segundo ele. Servirá, portanto, para destacar o início e história dos estudos com esta linha de tratamento, além de mostrar os resultados já analisados com este método, que já foi, segundo ele, “demonizado” por muitos anos pelo uso de substâncias como LSD, psilocibina, MDMA (ecstasy) e ayahuasca (chá do daime).

Newton explica que os estudos sobre os efeitos medicinais dos psicodélicos na mente humana começaram a acontecer entre os anos 50 e 60, mas que, devido às associações que se faziam ao uso recreativo das substâncias, a continuidade dos trabalhos investigativos foi prejudicada. Entretanto, desde os anos 90, os estudos desta abordagem dentro da psicanálise retornaram e têm avançado consideravelmente.

“Muitas pesquisas mostram, para além da recreação, o quanto elas [substâncias psicodélicas] tinham efeitos importantes no sentido de promover uma plasticidade neural”, afirmou. A partir disso, segundo ele, a capacidade da mente em buscar novas soluções para problemas aumenta, uma vez que os psicoativos despertam novas ligações entre os neurônios.

O especialista defende que a nova atividade no cérebro provocada pelos psicodélicos permitiria a reestruturação de comportamentos e hábitos normalmente seguidos pelos pacientes, e muitas vezes nocivos. “É sair de comportamentos repetitivos a partir de um processo de reelaboração da mente. Quando associamos esse tipo de terapia a esse tipo de substância, automaticamente ampliamos as possibilidades neurais”, disse.

“Trazendo para a terapia, [os psicodélicos] funcionam como um lubrificante [nos neurônios], um meio de facilitar a construção de novas formas para os hábitos e comportamentos [dos pacientes]”, continuou. Assim, hábitos e pensamentos automatizados, que em geral funcionam dentro de um padrão – como o costume de escovar os dentes, sempre da mesma maneira –, pelas substâncias, podem sofrer certa reprogramação.

Tratamento não vicia

Ao contrário dos tratamentos atuais amplamente adotados em psicoterapias, com o uso de medicamentos normalmente acompanhados de outros para anular os efeitos colaterais, um dos pontos ressaltados pelo pesquisador é que o tratamento com psicodélicos não viciam, uma vez que a aplicação é menor e tem direcionamento físico diferente do de fins recreativos.

Ao invés de atuarem no sistema dopamínico – associado ao prazer –, a atuação das substâncias tem foco nos sistemas serotonérgicos, com hormônios neurotransmissores ligados à felicidade – mesmo alvo dos medicamentos tradicionais contra a depressão.

Os fármacos provocam, segundo o especialista, efeitos colaterais “inconvenientes”, como a diminuição da libido sexual, “o que faz com que muita gente interrompa o tratamento”. “Além disso, a eficácia está cada vez menos empolgante, quase sempre os medicamentos demoram para começar a fazer os efeitos, o tratamento tem grandes durações, de pelo menos seis meses, e sempre há a necessidade do desmame”, destacou.

“Estudos mostram que há uma ação inócua [dos psicoativos], sem efeitos colaterais. São substâncias com poder de ação muito forte do ponto de vista terapêutico, e é quase nulo de efeitos colaterais – isso leva os estudos a uma espécie de revolução para a terapia do sofrimento mental, como a depressão”, defendeu Newton. “Te permitem ter acesso a outras formas de conhecimento e novas capacidades de compreensão.”

A terapia com psicoativos ainda tem muitos estudos em andamento, mas todos com resultados positivos, conforme ponderou Newton. Por enquanto, a maioria dos tratamentos ainda está restrita aos centros de estudos e pesquisas. “Estamos estabelecendo protocolos que serão mais eficientes para poder conseguir emplacar de forma mais sistemática e desestigmatizada esse tipo de terapia assistida”, afirmou Newton.

Ele explicou que as sessões poderiam chegar a durar de duas a quatro horas, dependendo do tipo de tratamento. Elas ocorreriam com dois terapeutas acompanhando “o mergulho do psiquismo do paciente que está em uso da substância psicodélica”. As dosagens dos protocolos mais usuais variam de 1 a 5 miligramas, sendo consideradas microdoses para o tratamento.

Os Estados Unidos é a nação com os estudos mais avançados sobre o assunto, no Centro de Estudos Psicodélicos da universidade John Hopkins. O Brasil, de acordo com Newton, está muito bem posicionado também nas pesquisas acadêmicas, principalmente com a ayahuasca, devido aos rituais amazônicos e religiosos, que a usam muito.

“Com os psicodélicos precisamos atravessar os mesmos tipos de processos acadêmicos que se submetem as outras medicações, para que as substâncias possam ser validadas como seguras. […] O debate esbarra no uso recreativo também, evidentemente, mas os estudos que temos tentado realizar é para conferir aos tratamentos o mesmo status de segurança que outros medicamentos têm”, finalizou o especialista.

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