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Brasília

Projeto orienta mulheres sobre legislação para aborto legal

“A gente  criou o projeto para transformar a realidade no Brasil e ajudar a mulher que não tem dinheiro para acessar o aborto legal”, diz a fundadora

Redação Jornal de Brasília

18/09/2023 18h55

(Créditos: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Por Júlia Lopes, Juliana Sousa e Maria Beatriz Giusti
Agência de Notícias do CEUB/Jornal de Brasília

Uma iniciativa voluntária chamada “Milhas pela vida das mulheres”, organizada inicialmente pela roteirista Juliana Reis, tem ajudado mulheres brasileiras a procurar direitos para fazer o aborto legal previsto na legislação no país.

“A gente  criou o projeto para transformar a realidade no Brasil e ajudar a mulher que não tem dinheiro para acessar o aborto legal”, diz a fundadora.

“Eu já lutei por minha causa, por causa da minha filha, da minha neta para que o direito de decidir sobre as suas vidas seja delas”.

Juliana Reis conta que a motivação da iniciativa veio a partir do desejo de garantir a liberdade de escolha sobre o próprio corpo para suas familiares mulheres.

Juliana complementa ainda, em entrevista à Agência de Notícias CEUB, acerca do viés opressor e limitante das políticas anti aborto. “Todo cerceamento do direito de uma mulher é uma agressão muito grave ao seu seu direito fundamental de existência.”, enfatiza a roteirista. 

Iniciativa que muda vidas

Além de explicar sobre a legislação no Brasil, o projeto explica que existem países em que o aborto é legalizado, como é a Colômbia.

Sofia*, 29, é a primeira pessoa de sua família a entrar na universidade pública. Ela relacionava as aulas com a criação de sua filha de 5 anos de idade e o trabalho para ajudar sua família, que é pequena e de baixa renda, em extrema vulnerabilidade social.

Ela foi uma das primeiras mulheres ajudadas pela Operação Milhas pela Vida das Mulheres, logo em 2019. 

Ela conta que, ao descobrir a segunda gravidez, se desesperou e a notícia inesperada agravou sua depressão.

“Naquela época eu estava muito doente, muito doente mentalmente. Eu sustentava a minha família, tinha que trabalhar de manhã, trabalhar de tarde, estudar naquela correria. Um caos. Eu não via saída”

A jovem conta que utilizava práticas anticoncepcionais combinadas e, por isso, se assustou ao confirmar a gravidez.

“Eu não me imaginava com outra criança e eu estava me protegendo, usava camisinha e tomava pílula”, afirmou Sofia. “Sempre me cuidava porque eu já tenho uma filha”. 

A então estudante procurou formas de interromper com a gravidez pela internet e por meio este canal conheceu a iniciativa do “Operação Milhas pela Vida das Mulheres”. Por lá, começou a conversar com a recém fundadora na época, Juliana Reis. “Pela internet, entrei em contato com a Ju, ela me prestou todo o apoio do mundo (…) ela conseguiu fazer acontecer, ela conseguiu arrecadar a doação de milhas, conseguiu fazer a viagem acontecer e então eu viajei.”

Leia também sobre as diretrizes aprovadas pela CNS

Sofia ainda enfatiza seu desespero com a gravidez antes de viajar “Meus amigos que me acompanhavam de perto tinham medo de ser uma nova prática de de tráfico humano, mas eu literalmente só falava que tudo era melhor, do que ter que colocar essa criança no mundo, era melhor do que não ter condições de sustentar essa criança.”

Com a doação suficiente de milhas, Sofia conseguiu, por intermédio da organização, a quantia necessária para viajar para o Colombia, onde o aborto é legalizado.

“Foi minha primeira viagem internacional, eu cheguei lá e tive todo o suporte do pessoal. Eu não sabia falar o idioma, estava em um país que não conhecia com pessoas que eu não conhecia. Eu fiquei insegura, bate um medo (…), mas deu tudo certo, minha primeira consulta numa clínica, tudo direitinho, tudo incrível, o atendimento foi maravilhoso.’

Na Colômbia, o aborto é uma prática legalizada em quaisquer circunstâncias até a 24° semana de gestação desde fevereiro de 2022.

Antes da legalização, a partir de 2006, a Corte Constitucional do país permitiu a realização do aborto em casos de estupro, má formação fetal e risco á saúde física e mental da mulher— como era o caso de Sofia. “A gravidez era algo que não estava só me fazendo mal emocionalmente, mas fisicamente também, fiquei internada porque estava sentindo dores horríveis”, conta Sofia.  

Voluntariado 

A ONG conta com ajuda de profissionais como advogadas, que auxiliam as mulheres nos processos jurídicos para conseguir o aborto legal no Brasil. Psicólogas/psiquiatras que fornecem apoio durante e após o aborto.

Por meio do GRAPPA (Grupo de Aconselhamento Psicológico Pós-Abortamento) uma terapia em conjunto para mulheres que fizeram o aborto no Brasil por meio do Milhas.

A psicóloga Ana*, 46, entrou no projeto em 2020 para coordenar o GRAPPA e reitera importância do acompanhamento psicológico para mulheres que fizeram um aborto devido um abuso sexual.

“A violência contra a mulher é algo muito naturalizado, então elas sabiam que haviam sido vítimas de violência, mas não conseguiam nomear, como um estupro marital”, conta a psicóloga. 

Mudança de política

Juliana Reis acredita que o Brasil nunca esteve tão perto da legalização do aborto e salienta a necessidade de movimentos políticos ativos, como o dela, para que isso seja possível.

“Agora precisamos trabalhar para isso, as mulheres precisam ir as ruas, precisam falar disso, precisam para de ter vergonha mesmo sendo um assunto que pode ser, e ainda é, penoso” 

O Governo Lula retirou, em janeiro de 2023, o Brasil da aliança internacional antiabortivo. O Pacto internacional entende que o aborto não deve ser utilizado como prática de planejamento familiar.

A declaração, que foi assinada por mais de 31 países, havia sido ratificada pelo Governo Jair Bolsonaro em 2020.

Supervisão: Luiz Claudio Ferreira

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