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Brasília

Projeto de fisioterapia atende crianças com dificuldades motoras

Gefin surgiu a partir de demanda da comunidade do Distrito Federal por acompanhamento fisioterapêutico para pessoas com síndrome de Down

Redação Jornal de Brasília

07/03/2023 17h23

Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

Nos laboratórios de Exercícios Terapêuticos e de Reabilitação, na Faculdade UnB Ceilândia (FCE) ocorrem as atividades do Grupo de Estudos em Fisioterapia nas Neurodisfunções (Gefin). O projeto faz pesquisas com o objetivo de entender as disfunções motoras em pessoas com questões neurológicas. Ademais, as atividades de ensino e de extensão são promovidas, pois há uma oferta voluntária de avaliações, intervenções com foco em reabilitação, e atendimentos.

Criado em 2012, o Gefin surgiu a partir de demanda da comunidade do Distrito Federal por acompanhamento fisioterapêutico para pessoas com síndrome de Down. Atualmente, o apoio em fisioterapia é ofertado em duas frentes: a primeira é voltada principalmente para crianças com a deficiência que tiveram atraso no desenvolvimento motor e que necessitam de apoio para aprender o controle de tronco, fundamental para dar sustentação na hora de sentar e de aprender a andar, por exemplo. No entanto, o projeto também recebe pontualmente pacientes de outras faixas etárias.

Outra frente, também incorporada por demanda, é o atendimento a crianças e adolescentes típicos e atípicos que possuem pé plano valgo, ou pé chato, e que já passaram por procedimento cirúrgico de correção. Esta condição, ocasionada pelo desenvolvimento incompleto do arco plantar durante a infância, principalmente devido a fatores genéticos, pode provocar complicações posteriores, como lesões e inflamações. 

“A população que mais abordamos é a de pessoas com síndrome de Down. Temos uma parceria com o Centro de Referência Interdisciplinar em Síndrome de Down, o CrisDown [no Hospital Regional da Asa Norte (Hran)], de onde surgiu essa necessidade de atender esse público. Depois, um parceiro nosso, que é ortopedista, trouxe uma demanda dos atendimentos para fisioterapia de pacientes com pé plano”, explica Clarissa Cardoso, professora da FCE e responsável pelo projeto.

Em ambos os casos, o tratamento é ofertado a partir de um protocolo de avaliação detalhado, com base nas limitações individuais de cada paciente. É assim que são definidas as intervenções necessárias, tendo em vista objetivos específicos, mensuráveis, atingíveis, realísticos e em tempo específico.

“O diferencial do projeto, além de aliar ensino, pesquisa e extensão, é que a gente tem a avaliação padronizada, pouco utilizada na neuropediatria, área em que as avaliações são baseadas na observação. Nós usamos instrumentos de avaliação específicos, quantitativos, mensuráveis, e traçamos um protocolo de intervenção baseado nesta avaliação”, resume a coordenadora do Gefin.

Aldino Dias de Souza, é pai de Saul, paciente com síndrome de Down, e relata que tem visto melhoras no desenvolvimento do filho, além de se sentir parte desse processo. “Desde que começamos a participar, sinto que ele está melhorando cada vez mais e isso me deixa muito feliz. Conseguimos manter a rotina de exercícios dele em casa, sempre eu ou a mãe dele reproduzimos o que vemos aqui”, compartilha.

Passar pelo processo de reabilitação não é uma tarefa fácil. Nicolas, de 9 anos, é um dos casos de crianças com pé chato. A maioria de pacientes como ele chegam ao serviço após ter buscado outros atendimentos anteriormente, sem alcançar o resultado ideal. A mãe, Neiara Biberg, relata que apesar de penosa, a fisioterapia promovida pelo Gefin para Nicolas tem valido a pena. “Meu filho fez uma cirurgia nos pés para a correção do pé chato em agosto do ano passado. Por indicação do médico dele, começamos a fazer esse excelente acompanhamento. É um processo doloroso, ainda mais para a criança, mas o acolhimento tem sido maravilhoso e temos tido excelentes resultados”, conta.

TRATAMENTO EM FAMÍLIA – As crianças e adolescentes atendidas pelo Gefin são acompanhadas por ao menos um familiar durante as sessões. Esse ato vai além de uma simples companhia: os pais e responsáveis são convidados a atuar junto aos pacientes durante os exercícios, sendo treinados a fazer todos os movimentos. “A intervenção centrada na família é de grande importância, então, identificamos as dificuldades da família e criamos uma rotina para ser seguida em casa. Colocamos o familiar junto conosco no tatame para que ele aprenda e repita”, conta Clarissa Cardoso. Segundo ela, se a família não participa, não tem controle sobre o processo de intervenção e não se sente empoderada sobre o assunto.

Ao longo do atendimento, as atividades são registradas em fotografias, depois enviadas aos responsáveis pelo paciente junto a uma cartilha com informações sobre as práticas. “Tudo isso visa o melhor aprendizado. Damos preferência para as imagens dos próprios acompanhantes fazendo o exercício, pois até o jeito de apoiar o paciente na mão é diferente. Orientamos de forma que seja realizado em casa, da melhor maneira”, relata.

Os atendimentos também são realizados por videochamadas e é possível sanar dúvidas pelo WhatsApp dos pais e pacientes. A oferta neste formato foi iniciada no período crítico da pandemia e foi mantida após a flexibilização do isolamento social, para atender principalmente a demanda dos pais de pacientes adultos com síndrome de Down. O motivo é que normalmente esses pais, responsáveis por levar seus filhos, são idosos com dificuldades de locomoção.

“Muitas vezes ouvimos desses pais de filhos mais velhos que o isolamento social para eles não foi novidade, pois eles já estavam involuntariamente imersos nessa experiência, e isso me perturbou profundamente. A gente acabou conseguindo atender quem antes não conseguia chegar até nós”, comenta Clarissa.

APRENDIZADO MAIS HUMANO – Atualmente, a equipe do projeto é composta por 28 membros, entre docentes, estudantes de graduação em Fisioterapia e profissionais da rede pública do DF e do CrisDown. Uma das discentes é Victória Luz, de 20 anos, que está no sexto semestre de Fisioterapia. Para ela, a experiência tem incrementado, de forma prática, o conteúdo aprendido em sala de aula. “Poder ter a vivência do atendimento ainda no curso é muito bom. Temos interação com crianças e com os pais delas e conseguimos dar o melhor para os nossos pacientes de acordo com a necessidade de cada um. Nos dá muita segurança para o futuro e nos sentimos contribuindo para uma sociedade melhor”, relata.

O envolvimento também oportuniza a formação discente mais humana. “O objetivo acadêmico do projeto é ampliar o raciocínio clínico e o relacionamento humano dos futuros profissionais de saúde por meio de ações que envolvem pesquisa, ensino e extensão”, detalha Clarissa Cardoso, que acompanha o aprendizado prático dos estudantes.

Alunos que queiram integrar o projeto devem efetuar inscrição pelo Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmica (Sigaa) e participar de seleção, com entrevista e análise de disponibilidade. Novas vagas estarão abertas no segundo semestre de 2023.

AGENDAMENTO – Para buscar atendimento no Gefin, os interessados devem entrar em contato pelas redes sociais do projeto ou pelo e-mail institucional [email protected]. O Gefin desenvolve suas atividades nos laboratórios de Exercícios Terapêuticos e de Reabilitação, localizados no prédio da Unidade de Ensino e Pesquisa da FCE. As consultas ocorrem todas as segundas-feiras, das 8h às 16h.

Com informações do UnB Notícias.

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