Menu
Brasília

Prisão de Anderson Torres em batalhão da PMDF interrompe projeto social e prejudica moradores do Guará

Cerca de 1.400 alunos inscritos no Prevenindo com Arte estão sem aulas desde que o ex-secretário de Segurança Pública do DF foi detido

Redação Jornal de Brasília

09/03/2023 5h00

Afonso Ventania – Bikerreporter –
[email protected]

A prisão preventiva do ex-secretário de Justiça do DF, Anderson Torres, determinada pelo Supremo Tribunal Federal, tem agitado a agenda nacional desde o dia 14 de janeiro, quando foi detido por suspeita de omissão nos ataques às sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro, em Brasília.

Torres, que foi ministro da Justiça no governo Bolsonaro, era esperado para depor na CPI instalada na Câmara Legislativa do DF que investiga os atos de vandalismo, nesta quinta-feira (9/3). No entanto, ao saber da decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, na tarde da última terça-feira (7/3), de que poderia decidir comparecer ou não ao depoimento na sede do Legislativo do DF, Anderson Torres preferiu não ir.

Mas, para além do noticiário, a presença de Torres no 4 Batalhão da Polícia Militar do DF no Guará, prejudicou diretamente a comunidade local. Isso porque o quartel é sede do projeto Prevenindo com Arte que atende pelo menos 1.400 alunos, de todas as idades, e que praticam 17 diferentes modalidades esportivas e sociais. Por funcionar em uma instalação militar e com toda a atenção da mídia, o projeto foi suspenso “temporariamente” desde a chegada do notório prisioneiro e segue sem previsão de volta às aulas.

O que era para ser temporário, no entanto, ganhou novos contornos quando o STF decidiu, na semana passada, manter Anderson Torres preso até o fim da investigação, que foi prorrogada por mais 60 dias. O despacho do ministro Alexandre de Moraes gerou uma grande ansiedade entre os moradores inscritos no projeto por que não sabem quando poderão voltar a praticar as atividades físicas no local.

“Nos sentimos frustradas e esperamos que essa situação se resolva o mais rápido possível para voltarmos a praticar nosso esporte. O convívio com os amigos também faz muita falta”, lamenta a aluna de ginástica funcional, Marilúcia Dutra. Ela frequenta as aulas há pelo menos 5 anos e, segundo Mari, como é conhecida, “o convívio social para manter a saúde mental em dia é uma das maiores vantagens do projeto”.

O projeto foi criado em 2015 com o objetivo de aproximar a corporação da sociedade e trouxe inúmeros benefícios aos participantes. Há quem deixou de ser obeso, se curou da depressão e do diabetes ou simplesmente melhorou a autoestima e a convivência social. Crianças hiperativas também encontraram no projeto Prevenindo com Arte o ambiente ideal para manter uma melhor qualidade de vida.

“Minha filha foi diagnosticada com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e, em função de oferecer uma terapia auxiliar esportiva, ela participa há 5 anos do projeto e pratica defesa pessoal. Todos apoiam o projeto, mas infelizmente muitas pessoas estão tendo prejuízo pela ausência dessas aulas. Idosos e pessoas com comorbidade estavam sendo acompanhadas e tendo um pleno desenvolvimento da saúde física e mental. Não há como mensurar essa perda”, declara a servidora pública Patrícia Calazans, mãe de Gabriela.

Patrícia questiona a razão pela qual o 4 Batalhão teria sido escolhido para receber Anderson Torres, já que, na análise dela, haveria outras alternativas no DF. “Não há explicação plausível para justificar a escolha deste batalhão do Guará para mantê-lo preso, já que existem outras opções que têm a mesma estrutura e que não há nenhum projeto social em andamento. Faltou sensibilidade à Secretaria de Segurança Pública em verificar uma outra alternativa para que 1.400 alunos voltem a praticar esportes nesse espaço”, completa.

Defesa pessoal, futebol, ginástica funcional, capoeira, zumba e diversas artes marciais são algumas das atividades oferecidas aos moradores do Guará. As aulas são gratuitas e são ministradas por militares ou professores voluntários com formação nas respectivas modalidades que ensinam.

Para a aluna Gleyse Mamede, “muitas pessoas dependem do projeto para não entrar em depressão ou até mesmo para sair de casa”.

A jovem Gabriela Calazans, de 13 anos, diz sentir muita falta dos colegas e, principalmente do convívio com o “mestre” Rodrigo Lelis Neiva, por quem desenvolveu grande admiração e respeito. “Admiro muito o mestre Rodrigo pela luta dele em manter esse projeto e a convivência com ele faz muita falta. Fico até mal em pensar que eu não vou mais falar com ele por algum tempo”, conclui, emocionada.

Procurada, a Polícia Militar do DF alegou não poder comentar por questões sigilosas e de segurança e não respondeu às perguntas da reportagem sobre o projeto Prevenindo com Arte.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado