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Brasília

Preço do arroz salga orçamento doméstico

Presidente da Asbra sugere que pessoas comam macarrão em vez do cereal

Olavo David Neto

11/09/2020 7h32

preço do arrozFotos: Vanessa lippelt

Ontem, o Ministério da Agricultura anunciou a derrubada de tarifas alfandegárias relativas à importação de arroz de países de fora do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Agora, não incidirão mais impostos sobre produtos vindos dos Estados Unidos, por exemplo, que deviam ao fisco brasileiro entre 10% e 12% do valor de mercado. Tudo isso para conter a alta do produto, que, em agosto, teve aumento de 6,31% e, já neste mês, chegou às prateleiras com preços cerca de três vezes maior.

Moradora de Águas Lindas, Erineide Dantas, agente de portaria, 40 anos, não esconde a reação que teve ao ver o preço do arroz. “Eu tomei o maior susto, quase não levei, mas a gente precisa. Eu costumava pagar R$ 12, R$ 13. Paguei R$ 20.” Para não pesar tanto no bolso, Erineide diz que vai variar. “Gosto muito de cuscuz. Alguns dias eu vou fazer para substituir e render mais o arroz. Um dia a gente come arroz, no outro, a gente come cuscuz. Está difícil.”

No DF, a inflação do arroz já afetou os hábitos dos brasilienses. Atendente de um supermercado no Guará, Jucileia Coimbra acompanhou de perto a evolução no valor do cereal. “Foi um susto. Num dia estava a R$ 8, e no outro já víamos a R$ 25 o pacote de cinco quilos”, aponta. Responsável pelas compras na casa, ela só consumirá o grão graças aos descontos do estabelecimento em que trabalha. “Só com o abatimento de funcionário dá para comprar, porque aí pagamos quase metade do preço”, explica.

Presidente da Associação de Supermercados de Brasília (Asbra), Gilmar Pereira aponta que uma das soluções é a substituição do arroz por outros alimentos, como macarrão e mandioca. “Temos uma riqueza grande de produtos no Brasil, o que permite a substituição”, aponta o gestor. “Não é o ideal e ninguém quer isso, mas é uma das soluções”, lamenta. Mariluce Gomes pretende seguir o conselho de Pereira. “Aqui vamos trocar o arroz pelo macarrão ou por outro alimento. Está muito caro, não tem condições”, aponta a auxiliar de serviços gerais.

Um dos motivos apontados pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) para a alta repentina nos valores é a cotação do dólar, que até o fechamento desta reportagem valia R$ 5,31. Assim, é mais vantajoso ao setor da rizicultura a venda no mercado externo, fator que reduz a oferta no cenário nacional. Com a demanda ainda em alta – inclusive impulsionada pela pandemia do novo coronavírus -, os preços tendem a subir ainda mais. E nem mesmo a substituição dos produtos locais por estrangeiros tem dado conta.

Demanda alta

De acordo com a União, entraram no Brasil 373,3 mil toneladas do grão entre janeiro e agosto de 2020, número 26% inferior ao mesmo período do ano passado. A defasagem na produção dos parceiros comerciais sulamericanos, como Paraguai, Argentina e Uruguai, é repetida mundo afora, já que China e Tailândia têm liderado as compras do insumo. Por isso, Gilmar não crê que a entrada de produtos estrangeiros dê jeito no problema. “Não vai mudar porque o mundo vive uma demanda alta por arroz, e o produtor brasileiro vai continuar vendendo no mercado externo, porque continua pagando mais”, analisa.

Ele ainda lembra que não é hora de corrida às compras. “Não podemos gerar pânico e estocagem. Se isso acontecer, vai ser ainda pior e o preço vai continuar subindo”, explica Pereira. Nas últimas décadas o Estado brasileiro, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mantinha uma reserva reguladora. Ou seja, a empresa pública comprava arroz na safra para estocar o produto e soltar aos poucos no mercado no período de entressafra, no qual os preços tendem a subir. Assim, mantinha certa estabilidade nos valores.

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