“Uma democracia na qual o povo não tem voz”. A frase, que soa totalmente incoerente, é a realidade vivida pela população do DF. Moradores de Sobradinho, Taguatinga e Planaltina sentem na pele o descaso do poder público. Obrigados a conviver com praças abandonadas e obras inacabadas, eles alegam que os espaços transformaram-se em palco para ação de bandidos.
A reportagem visitou essas regiões e constatou a falta de infraestrutura nas praças. A maioria está tomada pelo mato e sujeira, não há iluminação adequada e está longe de atender às premissas básicas. Outras sequer foram concluídas.
Quem mora perto ou precisa passar próximo a esses locais está sujeito a assaltos e sequestros, entre outros delitos. Moradores relatam que alguns criminosos são ousados e agem em plena luz do dia.
De acordo com o especialista em violência urbana Valter Grossi, esses locais colocam a população em risco eminente. “Os moradores devem ter consciência dos riscos de se passar em frente a essas localidades, pois muitos meliantes podem fazer emboscadas para praticar assaltos”, relatou.
Obra indesejada
Os moradores da Avenida São Paulo, em Planaltina, antes viviam com tranquilidade. Mas hoje, o medo o passou a fazer parte do dia a dia dos cidadãos após o início da construção de uma praça.
Essa construção foi indesejada desde o início pelos moradores, que alegaram que não foram consultados. Porém, a situação ficou ainda pior. A obra está parada há mais de um ano. No local, o que se tem é um espaço usado por criminosos e pessoas que se reúnem para beber e usar drogas – o tráfico também preocupa.
Revoltada, a população enviou em abril deste ano um requerimento à Administração de Planaltina, acompanhado de um abaixo assinado. No documento, eles clamaram pela retirada da obra.
No local, a comunidade quer fazer um jardim, com recursos dos próprios moradores. Para eles, somente com a retirada por completo da obra, a tranquilidade poderá ser restabelecida.
Sem resposta, os moradores enviaram um novo requerimento. No dia 22 de maio, o administrador Nilvan Pereira enviou resposta, afirmando que foi encaminhado à Novacap um ofício com a solicitação. Ainda sem um posicionamento definitivo, os moradores enviaram novo requerimento, em 21 de junho, reforçando o desejo da população e os transtornos causados.
No dia 26 de junho, foi feito um requerimento assinado pelo secretario-adjunto de Obras, Maurício Canovas Segura. A resposta, contudo, não convenceu a população. “Encaminhamos a Vossa Senhoria o memorando 052/2013-SUCES/ SO, pelo qual a Subsecretaria de Controle Estratégico informa que a empresa responsável desistiu de terminar a obra, e que a secretaria segue readequando o projeto para preparar novo processo licitatório”.
Ponto de vista
Para a especialista em violência urbana Tânia Montoro, a sociedade brasileira não merece os políticos que a representam. “Antes de construírem praças, a população deve ser consultada. Com certeza, o índice de violência aumenta. E a segurança é um direito constitucional do cidadão”, declarou. “A população deve ir ao Ministério Público e entrar com um processo em cima dos administradores”, disse, se referindo, em especial, aos moradores de Planaltina.
Pelo menos sete crimes registrados
Tomados pelo desespero, os moradores enviaram à administração regional ocorrências criminais (veja abaixo) registradas na região. Porém, até o momento, a população segue sem resposta e com o sentimento de desamparo.
Os moradores alegam que com a obra, a impressão é de que estão sendo observados o tempo todo. “Tem sempre um indivíduo suspeito aqui”, argumentou o músico Jorge Alves Jóia, 48 anos.
Ele alega que não é justo que todos paguem por algo que devia ser feito pelo Estado. “Esse espaço está servindo de abrigo para moradores de rua. Esse é um problema muito complexo, que cabe ao governo resolver”, disse.
Nem mesmo o posto policial intimida a ação dos criminosos. “O posto fica vazio o tempo todo. Nunca tem nenhum policial. Então, eles o ignoram”, afirmou. Ele frisa o desejo dos moradores: “Nosso objetivo é a remoção. A população deve ser ouvida, afinal, estamos em uma democracia”.
Versão oficial
Quando questionada sobre os investimentos nos espaços públicos de lazer, a Secretaria de Comunicação afirmou que mais de R$18 milhões serão investidos na recuperação de 1,7 mil espaços públicos de lazer, como quadras esportivas, pistas de skate, parquinhos infantis, Pontos de Encontro Comunitário (PECs). As obras serão em todas as regiões administrativas e foram definidas conforme as prioridades apontadas pela população das cidades.
Quando perguntado sobre a questão dos parques citados na matéria, a secretaria se limitou a dizer que a resposta é a mesma dada para a questão das outras áreas de lazer do DF.