Carlos Carone
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Se precaver e mudar determinados hábitos fazem parte de uma fórmula adotada por brasilienses para escapar da violência que atinge boa parcela das cidades do Distrito Federal. Uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça foi usada como termômetro para medir o medo, o receio e os métodos de autoproteção adotados por famílias que temem sofrer assaltos, furtos e sequestros relâmpago. O estudo identificou que 63% dos brasilienses entrevistados se tornaram reféns em suas próprias casas e deixaram de sair à noite.
O levantamento, produzido pelo Instituto Datafolha, identificou que 50,5% dos brasilienses deixaram de usar alguns bancos e caixas eletrônicos com medo de assaltos. Segundo a pesquisa, a mudança de comportamento é provocada, principalmente, pela incidência do roubo com restrição de liberdade da vítima em concurso com extorsão, o chamado sequestro relâmpago em sua natureza clássica, quando a vítima é obrigada pelos criminosos a efetuar saques nos caixas eletrônicos.
A escassez de pessoas efetuando saques durante a noite provocou um efeito colateral na prática criminosa. “Esse é um dos motivos para os sequestros relâmpago terem se transformado em um roubo de veículos disfarçado. Os alvos passaram a ter a liberdade restringida até o assaltante se sentir seguro para libertar sua vítima”, explicou o especialista em segurança pública, George Felipe de Lima Dantas. O especialista destacou que, além de mais policiamento, é preciso que as pessoas tenham acesso à informação sobre a segurança. “Isso é um trabalho não só da mídia, mas também dos órgãos de informação da segurança pública, no sentido de que o cidadão tenha acesso a uma informação palatável, que ele compreenda”, afirmou.
Uma parcela considerável de entrevistados pela pesquisa – 79,8% do total – passou a evitar sair de casa portando muito dinheiro, objetos de valor ou outros pertences que chamem atenção. A metade dos entrevistados também contou que deixou de frequentar locais escuros, isolados ou eventos noturnos por medo de sofrer algum tipo de violência. Em coletiva realizada na segunda-feira, na Secretaria de Segurança Pública, integrantes da cúpula da pasta responsabilizaram eventos públicos associados a bebidas alcóolicas como um dos principais motivos para explicar a média diária de dois homicídios no DF.
O uso de meios de transporte públicos também começou a ser evitado pelos brasilienses que ficam preocupados com a possibilidade de sofrer assaltos. A pesquisa apontou que 79% dos entrevistados deixaram de usar determinadas linhas do transporte público coletivo e, assim, evitar os assaltos que ocorrem no interior dos ônibus.
Algumas regiões administrativas tinham em suas quadras residenciais uma cultura que começou a desaparecer com a escalada da violência. A mudança de hábito atingiu o costume que as pessoas tinham de sair de casa e ficar na rua conversando com os vizinhos. A pesquisa apontou que 16,3% dos entrevistados acabaram perdendo o contato com a própria vizinhança em decorrência da violência.
Mais do que evitar a exposição na rua, o levantamento mostrou que o brasiliense deixou de conversar ou atender pessoas estranhas nas portas e interfones. Mais da metade (50,2%) dos entrevistados afirmaram que a partir de uma certa hora da noite, não atende mais à porta ou interfone, caso não seja algum familiar ou pessoa conhecida, principalmente em cidades como Ceilândia, Recanto das Emas e Samambaia, que registram os maiores índices de homicídio do DF.