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Brasília

PMDF registra dados alarmantes sobre o trânsito no DF

Dirigir alcoolizado e uso de celular ao volante lideram autuações com números cada vez mais altos e alarmantes

Afonso Ventania

31/03/2023 5h00

Afonso Ventania – Bikerrepórter –
[email protected]

A insegurança no trânsito é um problema mundial crescente. E no Distrito Federal não é diferente. Com uma frota com mais de 2 milhões de veículos motorizados circulando pelas vias e rodovias que cortam a capital federal, as autoridades competentes têm enfrentado o desafio de conter a escalada dos números de sinistros e autuações.

Mas a última radiografia elaborada pelo Comando de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (CPTran), e obtida com exclusividade pelo Jornal de Brasília, mostra que é necessário inovar nas estratégias e, definitivamente, aproximar cada vez mais a fiscalização e a educação.

Para o comandante do CPTran, coronel Edvã Sousa, a falta de conscientização da população é a principal causa para o aumento desenfreado das estatísticas. “De acordo com pesquisas, esse panorama só vai melhorar quando aumentar o respeito com o outro”, aponta.

Especialistas e autoridades mostram que a grande maioria de sinistros com mortes são causados por falha humana, como imprudência e distração. Os números da PMDF confirmam.

De acordo com os dados revelados pela CPTran, o uso de celular ao volante tomou proporções epidêmicas. Em 2022, pouco mais de 76 mil condutores foram multados por utilizar, manusear ou segurar o celular enquanto estavam dirigindo. No ano passado, foram quase 72 mil autuações. Para se ter uma ideia do crescimento acelerado e que tem preocupado os agentes de trânsito, em 2019, 47.880 motoristas receberam notificações enquanto dirigiam embriagados. E esse número já era considerado alto.

Com a pandemia, em 2020, houve uma redução pontual para pouco mais de 44 mil, o que deu uma pequena esperança que os motoristas valorizassem mais a própria vida e a do próximo, mas não foi o que se viu. Só nos primeiros dois meses e meio de 2023, segundo os dados, quase 17 mil autuações foram emitidas. “Muitas vezes, no local do sinistro, não há sequer marca de frenagem e isso mostra que o motorista estava com a atenção voltada para o celular. As pessoas precisam perceber a importância de fazer a “separação de corpos” e deixar o celular em lugar seguro ao entrar no seu carro”, diz o coronel Edvã Sousa.

O comandante do CPTran ressalta que todos os policiais militares estão habilitados para autuar motoristas ao celular e não só aqueles agentes lotados nos batalhões de trânsito. “As pessoas perderam o bom senso e nos cumprimentam com o celular na mão quando paramos a viatura ao lado dos carros delas. Já internalizaram que é “normal” o uso do celular. E não é. Mesmo no semáforo vermelho, não é permitido usar o celular. Todos os imprudentes são multados”, acrescenta.

Álcool e direção

Considerada uma das mais frequentes causas de sinistros no trânsito, ao lado do uso de celular e do excesso de velocidade, a alcoolemia também vem assustando as autoridades. Mesmo com campanhas de educação por parte de todos os órgãos de segurança e a fiscalização mais frequente, as autuações de motoristas embriagados têm crescido de maneira vertiginosa.

“Foram 26 mil autuações no ano de 2022. Só nos primeiros 2 meses e meio de 2023, já estamos com 3.700 infrações. É muita coisa”, lamenta Edvã Sousa. Segundo as estatísticas da PMDF, em 2019, 19.738 motoristas foram enquadrados na Lei Seca por conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool. Quem é flagrado sob efeito de álcool ao volante vai pagar multa de R$ 2.934,70, vai ter o direito de dirigir suspenso por 12 meses, além de outras sanções a depender do teor etílico no momento da autuação.

Vagas preferenciais

O coronel Edvã Sousa destacou ainda na entrevista, o aumento da fiscalização para inibir o uso indevido das vagas reservadas para idosos e para pessoas com deficiência. Segundo ele, o aumento dos números de autuações se deve ao empenho da PMDF. “Aquela vaga preferencial não é sua nem um por segundo.

Está lá para as pessoas que mais precisam. E o número de autuações nesses dois casos dobrou. E dobrou porque a Polícia Militar aumentou a fiscalização nesse sentido e vamos continuar apertando para reduzir esse tipo de infração”.

Em 2022, foram emitidas 1.101 multas por estacionamento irregular em vagas reservadas à pessoas com deficiência. Quase o dobro de 2021, quando foram registradas 589 infrações.

No caso das vagas para idosos, em 2022, cerca de 1800 motoristas foram autuados e, no anterior, 943.
Inabilitados

Ele também alerta que a circulação de motoristas sem habilitação é um risco enorme para a segurança. Segundo o coronel Edvã, o número maior é registrado entre os motociclistas. Na avaliação dele, essas pessoas não têm experiência e não estão preparadas para ingressar no trânsito. “Muitos acham que pilotar uma moto é como andar de bicicleta e não é”.

Este cenário comprova que as medidas preventivas e de fiscalização adotadas precisam evoluir. Para o comandante do CPTran, as operações conjuntas com as demais forças de segurança, o investimento em educação e o trabalho de inteligência da PMDF são o caminho para a redução das altas estatísticas que assombram o brasiliense. Mas, segundo ele, “o problema está entre o banco e o volante do carro”.

“A gente fiscaliza, tem a mão pesada, mas acreditamos na transformação de mentalidade. Infelizmente as pessoas sentem no bolso, mas gostaríamos muito que não tivéssemos que autuar motoristas pelo simples motivo de que eles tomaram consciência e não usam mais celular e nem bebem quando vão dirigir. E não é utopia. Se cada um fizer o seu trabalho a gente consegue”, conclui.

O coronel Edvão Sousa fala ainda na entrevista sobre os riscos de se usar o transporte pirata, avisar sobre pontos de bloqueio em aplicativos de comunicação e outros assuntos importantes.

Assista e leia a entrevista na íntegra no portal e nas redes sociais do Jornal de Brasília.

Como estão as estatísticas do trânsito no DF?

Os números infelizmente não são bons. Eles aumentaram consideravelmente. A PM não se orgulha desses números altos porque isso representa a falta de conscientização das pessoas. Somos referência nacional com a faixa de pedestre e a nossa meta é nos tornarmos referência também em não usarmos o celular ao dirigir e nem beber ao volante, respeitar a vaga para o idoso e para a pessoa com deficiência.

Até por que aquela vaga para idosos e pessoas com deficiência não é sua nem um por segundo. Está lá para as pessoas que mais precisam. E o número de autuações nesses dois casos dobrou. E dobrou porque a Polícia Militar aumentou a fiscalização nesse sentido e vamos continuar apertando para reduzir esse tipo de infração.

E por que os números não reduzem?

Falta de conscientização. Apenas em 2022, as autuações de alcoolemia subiram em 7 mil em relação ao ano anterior. E isso que as sanções são pesadas, mas as pessoas não deixam de beber. Mesmo com tantas campanhas de educação. De acordo com pesquisas, esse panorama só vai melhorar quando aumentar o respeito com o outro.

Outra ocorrência que elegemos como muito alta é o uso de celular. Muitas vezes, no local do sinistro, não há sequer marca de frenagem e isso mostra que o motorista estava com a atenção voltada para o celular. As pessoas precisam perceber a importância de fazer a “separação de corpos” e deixar o celular em lugar seguro ao entrar no seu carro.

Só em 2022, foram 76 mil autuações por uso do celular ao volante. É grave. Nem mesmo no semáforo vermelho é permitido o uso do celular e cabe autuação sim. O que nos preocupa muito é que muitos motoristas nos cumprimentam falando no celular quando paramos a viatura ao lado do carro deles. Isso por que o uso do celular já foi internalizado, virou costume. Isso é o que nos preocupa. Em 2019, antes da pandemia, foram 47 mil autuações pelo mesmo motivo. Por isso, todos os policiais militares estão habilitados para autuar motoristas imprudentes e não só os agentes lotados no CPTran.

Esses números tão altos nos mostraram que precisávamos mudar um pouco e começamos a ir nas escolas com o projeto Guardião do Trânsito para educar as crianças. Eu acredito que, com isso, vamos
ter um futuro melhor. A gente fiscaliza, tem a mão pesada, mas acreditamos na transformação de mentalidade. Infelizmente as pessoas sentem no bolso, mas gostaríamos muito que não tivéssemos que autuar motoristas pelo simples motivo de que eles tomaram consciência e não usam mais celular e nem bebem quando vão dirigir. E não é utopia. Se cada um fizer o seu trabalho a gente consegue.

E como estão os números da alcoolemia, coronel?

Foram 26 mil autuações no ano de 2022. Só nos primeiros 2 meses e meio de 2023, já estamos com 3.700 infrações. É muita coisa. O que podemos fazer, enquanto sociedade, o que podemos fazer para mudarmos essa realidade? Nos reunimos constantemente com os demais órgãos parceiro da Segurança Pública procurando inovar e criar novas estratégias, mas percebemos que o problema está mesmo entre o banco do carro e o volante. Hoje temos a tecnologia ao nosso lado, mas o cidadão precisa ser conscientizado.

O que o senhor acha sobre pessoas avisarem sobre os pontos de bloqueio nos aplicativos de conversa?

É um desserviço. Acontece muito e esse ano registramos casos de sequestro e cárcere privado. E a inteligência da PMDF tem trabalhado em parceria com a Polícia Civil do DF em estratégias para reduzirmos esse comportamento.

Coronel, o senhor informou que tem aumentado o número de pessoas que ficam ao redor das blitzen para se oferecerem para levar o carro dos motoristas flagrados alcoolizados. Qual é a opinião da PMDF sobre esses casos?

É lamentável. Vemos com cada vez mais frequência pessoas se aproveitando daquela situação em que alguém é autuado para pedir dinheiro para conduzir o carro até a casa e, muitas vezes, o valor é até extorsivo. Não temos interesse em tirar o carro de circulação, apenas de não permitir que o motorista ou a motorista circule com ele sob efeito do álcool. Mas é essa pessoa, que não está em seu estado pleno de consciência, que decide quem vai levar seu carro para a casa. É aí que aparecem os oportunistas pedindo entre R$ 200 a R$ 400. Nós, policiais, orientamos os condutores autuados a refletirem bem antes de pagar essas pessoas que não conhecem porque podem correr sérios riscos.

Como estão as ocorrências envolvendo motociclistas?

Infelizmente são os que mais morrem no trânsito. E são muito importantes para a sociedade como seres humanos e como profissionais. Na pandemia foram extremamente importantes prestando diversos serviços indispensáveis.

Por isso, fiscalizamos tanto esse público. Para protegê-los. Avaliamos os faróis, os pneus, tudo para garantir a segurança deles.

E o transporte pirata?

Primeiro que não são motoristas profissionais. Sabemos da agonia do trabalhador para chegar a tempo no trabalho e voltar para casa, mas já vimos tantos casos de mulheres que foram estupradas. Não faça isso. Você coloca a sua vida em risco em um transporte irregular.

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