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Brasília

Perito da Polícia Civil refuta métodos de identificação de digitais

Neste sábado (28) serão ouvidas nove testemunhas, todas da defesa. Pelas previsões do Tribunal do Júri, Adriana será ouvida no domingo, em depoimento que deve durar todo o dia

Marcus Eduardo Pereira

27/09/2019 20h44

Olavo David Neto
[email protected]

O Tribunal do Júri de Brasília retomou as oitivas do julgamento de Adriana Villela – acusa de encomendar a morte dos próprios pais, José Guilherme e Maria Villela – e ouviu o perito da Polícia Civil (PCDF) Juliano de Andrade Gomes. Doutor em física pela Universidade de Brasília, ele subscreveu o parecer técnico do Instituto de Criminalística que refuta os métodos do laudo 15.000 do Instituto de Identificação, que indicou uma palmar de Adriana no apartamento dos pais.

A exemplo da testemunha anterior, Juliano iniciou o depoimento com uma apresentação de slides a respeito do tema. Numa parte, ele mostra artigos citados no laudo que ele subscreveu em 30 de janeiro de 2012, Determinação de Idade de Impressões Digitais, que aponta, em 2003, a ausência de métodos para aferir datas de digitais ou registros. Nas últimas linhas, o documento crava que qualquer tipo de especulação, ou mesmo falas em tribunais embasadas em datação de digitais é perigoso e pode incorrer em riscos à reputação do perito.

Ele também se referiu ao laudo 15.000 do Instituto de Identificação, solicitado pela Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), delegacia na qual a investigação em 31 de agosto de 2010 e emitido em 24 de novembro do mesmo ano. Para ele, até mesmo procedimentos para coleta das provas não podem ser repetidas. “A força que o papiloscopista aplicou para coletar a impressão foi a mesma? A quantidade de pó influenciaria nas coletas?”, questionou o perito. “O laudo 15.000 carece de autoridade técnico-científica”, completou.

Parte do laudo de impressões digitais

Quente e seco, mas sem precisão

O perito da Polícia Civil também teceu comentários sobre as condições climáticas de 29 de agosto de 2009, dia do crime, e os testes feitos em laboratório pelos papiloscopistas. “Estamos comparando um teste em laboratório, com ambiente controlado, com outro experimento dentro do apartamento, e ainda querem comparar com o dia do crime”, disse Juliano. Conforme relatou, a média de temperatura, de acordo com o Instituto de Meteorologia (Inmet), chegou a 21ºC, mas com extremos de 14ºC e 31ºC.

No laboratório, chegou a 28ºC. A umidade relativa do ar na data do triplo homicídio teve média de 56%, mas teve máxima de 92% e mínima de 20%. Essas condições não foram repetidas nos laboratórios do Instituto de Identificação, segundo o depoente, e sequer seriam passível de cópia. “Nem o DNA tem 100% de certeza; é impossível reconstruir exatamente o que aconteceu. A comunidade forense trabalha com margens de erro. Se estiver nessa margem, é capaz de concluir”, declarou o perito.

Nem no primeiro mundo

Há cerca de cinco anos, Juliano visitou o FBI, a Polícia Federal norte-americana, e nem mesmo lá há pesquisas ou estudos em prática para reconhecimento de idade de impressões digitais. O perito também defendeu os métodos utilizados pelo Instituto de Criminalística, igualando-os aos aplicados “pela grande maioria dos países, pela maioria dos peritos e consagrada pela literatura”.

Corporativismo

A acusação, por meio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), inquiriu a testemunha sobre possíveis rixas entre peritos e papiloscopistas. O depoente afirmou desconhecer animosidade entre as classes, mas insistiu que papiloscopistas não são peritos, até por questões de carreira. “Eles não fazem o concurso para peritos, fazem para médico-legistas. Por isso, não são peritos”, afirmou Juliano.

Sequência

O juiz encerrou o depoimento de Juliano Gomes e aproveitou para dar fim à sessão desta sexta-feira (27). Amanhã serão ouvidas nove testemunhas, todas da defesa. Pelas previsões do Tribunal do Júri, Adriana será ouvida no domingo, em depoimento que deve durar todo o dia.

“Não muda em nada”

Fora do plenário, Maurício Miranda, procurador do MPDFT se mostrou confiante que a questão dos laudos e pareceres técnicos favorece aos acusadores. “O processo foi todo feito de maneira equivocada, inclusive fora das competências do Instituto de Criminalística”, declarou o acusador. Não muda em nada no processo”, finalizou.

Veja a íntegra do laudo

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