Olavo David Neto
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O Tribunal do Júri de Brasília retomou as oitivas do julgamento de Adriana Villela – acusa de encomendar a morte dos próprios pais, José Guilherme e Maria Villela – e ouviu o perito da Polícia Civil (PCDF) Juliano de Andrade Gomes. Doutor em física pela Universidade de Brasília, ele subscreveu o parecer técnico do Instituto de Criminalística que refuta os métodos do laudo 15.000 do Instituto de Identificação, que indicou uma palmar de Adriana no apartamento dos pais.
A exemplo da testemunha anterior, Juliano iniciou o depoimento com uma apresentação de slides a respeito do tema. Numa parte, ele mostra artigos citados no laudo que ele subscreveu em 30 de janeiro de 2012, Determinação de Idade de Impressões Digitais, que aponta, em 2003, a ausência de métodos para aferir datas de digitais ou registros. Nas últimas linhas, o documento crava que qualquer tipo de especulação, ou mesmo falas em tribunais embasadas em datação de digitais é perigoso e pode incorrer em riscos à reputação do perito.
Ele também se referiu ao laudo 15.000 do Instituto de Identificação, solicitado pela Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), delegacia na qual a investigação em 31 de agosto de 2010 e emitido em 24 de novembro do mesmo ano. Para ele, até mesmo procedimentos para coleta das provas não podem ser repetidas. “A força que o papiloscopista aplicou para coletar a impressão foi a mesma? A quantidade de pó influenciaria nas coletas?”, questionou o perito. “O laudo 15.000 carece de autoridade técnico-científica”, completou.
Quente e seco, mas sem precisão
O perito da Polícia Civil também teceu comentários sobre as condições climáticas de 29 de agosto de 2009, dia do crime, e os testes feitos em laboratório pelos papiloscopistas. “Estamos comparando um teste em laboratório, com ambiente controlado, com outro experimento dentro do apartamento, e ainda querem comparar com o dia do crime”, disse Juliano. Conforme relatou, a média de temperatura, de acordo com o Instituto de Meteorologia (Inmet), chegou a 21ºC, mas com extremos de 14ºC e 31ºC.
No laboratório, chegou a 28ºC. A umidade relativa do ar na data do triplo homicídio teve média de 56%, mas teve máxima de 92% e mínima de 20%. Essas condições não foram repetidas nos laboratórios do Instituto de Identificação, segundo o depoente, e sequer seriam passível de cópia. “Nem o DNA tem 100% de certeza; é impossível reconstruir exatamente o que aconteceu. A comunidade forense trabalha com margens de erro. Se estiver nessa margem, é capaz de concluir”, declarou o perito.
Nem no primeiro mundo
Há cerca de cinco anos, Juliano visitou o FBI, a Polícia Federal norte-americana, e nem mesmo lá há pesquisas ou estudos em prática para reconhecimento de idade de impressões digitais. O perito também defendeu os métodos utilizados pelo Instituto de Criminalística, igualando-os aos aplicados “pela grande maioria dos países, pela maioria dos peritos e consagrada pela literatura”.
Corporativismo
A acusação, por meio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), inquiriu a testemunha sobre possíveis rixas entre peritos e papiloscopistas. O depoente afirmou desconhecer animosidade entre as classes, mas insistiu que papiloscopistas não são peritos, até por questões de carreira. “Eles não fazem o concurso para peritos, fazem para médico-legistas. Por isso, não são peritos”, afirmou Juliano.
Sequência
O juiz encerrou o depoimento de Juliano Gomes e aproveitou para dar fim à sessão desta sexta-feira (27). Amanhã serão ouvidas nove testemunhas, todas da defesa. Pelas previsões do Tribunal do Júri, Adriana será ouvida no domingo, em depoimento que deve durar todo o dia.
“Não muda em nada”
Fora do plenário, Maurício Miranda, procurador do MPDFT se mostrou confiante que a questão dos laudos e pareceres técnicos favorece aos acusadores. “O processo foi todo feito de maneira equivocada, inclusive fora das competências do Instituto de Criminalística”, declarou o acusador. Não muda em nada no processo”, finalizou.