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Brasília

Páscoa com preços salgados

Média de variação dos valores dos ovos de chocolate foi de 11% a mais que o ano passado

Vítor Mendonça

17/03/2021 6h23

Foto: Vitor Mendonça/ Jornal de Brasília

A cada ano mais caros, os ovos de Páscoa permanecem com preços altos em 2021. Aqueles mais refinados que já custaram cerca de R$ 40,00 em anos passados, atualmente podem chegar à casa dos R$ 100,00. O superfaturamento fez com que os modelos mais simples, de tamanho tradicional, chegassem a aproximadamente R$ 50,00 cada unidade, conforme verificou a reportagem do Jornal de Brasília em alguns supermercados no Distrito Federal na última semana.

De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras Brasil), em 2021 o preço de ovos de Páscoa de até 200grs aumentou em 11,1% e aqueles entre 201 e 500grs, em 10,9%. Aqueles que ultrapassam os 500grs tiveram aumento na faixa dos 11% em relação ao ano anterior, 2020. Até mesmo as caixas de bombons, barras e coelhinhos de chocolate demonstraram alta, com crescimento de aproximadamente 10% na média dos valores.

Conforme explica César Augusto Moreira Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), este é o momento em que a indústria aproveita para repor margens perdidas em outros momentos do ano. Segundo ele, o aumento dos preços têm pelo menos três razões diferentes: o aumento no valor do cacau, a cotação em dólar e a diferença com a moeda brasileira, e os custos de distribuição durante a pandemia.

“O preço do grama do cacau vem subindo sistematicamente no mercado internacional. Isso acaba pressionando os preços internos e há esse repasse de aumento no preço dos produtos. Obviamente há um certo exagero porque nem tudo pode ser creditado ao aumento do dólar ou do preço do cacau. Alguma coisa também existe de exagero”, afirmou o economista. Ele entende que a venda tende a cair por conta do isolamento social também.

Por outro lado, segundo César, o e-commerce deve ganhar força com o isolamento social maior durante o período atual de pico da doença. “E aí as promoções vão acontecendo. À medida em que se chega perto e o estoque ainda não foi esvaziado, existe um barateamento”, contou. Ele acredita que o mercado deve retrair, uma vez que o poder de compra de muitos brasileiros diminuiu com o desemprego e crise em diversos setores.

“Ainda não sabemos se o governo vai dar ou não alguma ajuda emergencial, mas, se sim, ela deve cair exatamente no período da páscoa, pelo menos a primeira parcela – o que pode ajudar a vender estes produtos”, ponderou. A tendência, porém, é a compra de barras de chocolate e a espera, dentro de casa, por promoções. “É mais vantajoso comprar a barra do que comprar o ovo de páscoa.”

Expectativa de vendas

A estimativa, segundo pesquisa da Abras Brasil, é que as vendas relacionadas ao feriado subam entre 10% a 15% neste ano durante a Páscoa – essa é a aposta de pelo menos metade dos supermercadistas do país. Outros 30% dos empresários acreditam que as vendas no comércio não ultrapassem os 10%. Apenas 2% está otimista, com rendimento acima dos 30%.

O vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), Sebastião Abritta, porém, afirma que a situação não é das mais esperançosas. Entre 2019 e 2020, a queda nas vendas foi de entre 20% a 30%. “Neste ano a gente imagina que haverá ainda mais redução”, afirmou.
“Se acontecer um lockdown mais rígido, a venda com certeza será menor. Esses produtos [da Páscoa] passariam a ser supérfluos, sem primeira necessidade.”

Comércio vive incerteza com vendas

“A incerteza é muito grande, tanto para o empresário quanto para o consumidor”, disse. O receio é que, se a situação do DF piorar, as restrições podem aumentar e, consequentemente, o faturamento durante a Páscoa. “É difícil fazermos uma avaliação. […] Não há como fazer um planejamento. O desemprego está alto e ainda pode crescer dependendo do que aconteça”, colocou.

No Sindicato dos Supermercados do DF (Sindsuper-DF), a previsão também não é animadora. De acordo com o presidente da entidade, Gilmar de Carvalho Pereira, o investimento feito pela população em ovos de Páscoa tem caído anualmente e outros produtos mais baratos vêm tomando esse lugar, como as caixas de bombons e barras de chocolate. “É um custo benefício maior para os clientes”, disse.

A queda nas vendas do ovo, de acordo com Gilmar, têm caído de 3% a 5% a cada ano, mas, por conta da pandemia, o decréscimo deve ser ainda mais expressivo. “Neste ano, acredito que as vendas devem ficar em torno de 8% a 10% mais baixas. Os mercados vêm trabalhando esse comportamento”, afirmou o presidente da entidade.

Enquanto os preços dos chocolates de grandes indústrias sobem, quem acaba saindo na frente são os que arriscam uma renda a mais neste período da Páscoa, com a produção de ovos recheados artesanais. Ainda de acordo com o economista César Bergo, a procura por novos produtos com comerciantes e empresários locais aumenta.

“Quem fez um nome no mercado antes, acabam tendo uma procura agora por ocasião, porque conseguem fazer um preço mais em conta, apesar de trabalharem com o artesanal, e pode haver uma certa vantagem”, afirmou.

Compre de quem produz na cidade

Quem aproveita a oportunidade é Luana Reis Seco, 20 anos, que está no terceiro semestre de farmácia na Universidade de Brasília (UnB) e criou uma loja de doces @ladoceriabsb no início da pandemia, em março do ano passado. Ela sempre foi conhecida na família por fazer doces e levar as sobremesas mais gostosas para as reuniões. “Decidi criar essa lojinha depois que as aulas pararam por conta da pandemia e fiquei bastante tempo sem nada para fazer. Não aguentava mais ficar inerte e criei também para ganhar um dinheirinho”, contou.

Em 2020, a pequena empresária não teve o tempo necessário para se preparar para a páscoa e, por falta de experiência, decidiu não produzir os ovos recheados; então começou pelos brigadeiros e brownies que sabia fazer à época. “Sempre tive muita vontade de fazer ovos de chocolate e agora pude começar a fazer. Sei que é algo que vende bastante na Páscoa, então decidi inovar e iniciar esse ano”, afirmou.

Luana começou a fazer os testes, viu bons resultados e logo iniciou a produção e vendas dos itens típicos da época. “Espero que essa páscoa seja bem boa”, disse.
No início, as vendas eram para os moradores do condomínio onde mora, na SQB (Guará).

Saiba Mais

“Estou bem otimista para a páscoa deste ano, até porque os ovos nos mercados estão cada vez mais caros e acho que vale muito a pena encomendar ovos em lojinhas de doce [artesanais] e de outros que fazem também. .

Os preços dos ovos variam de R$ 32,00 a R$ 72,00, de acordo com as preferências de cada cliente e o peso do produto. São ovos recheados, para serem comidos com colher e Luana possui a variedade de 10 sabores diferentes.

A variação no valor do cacau foi sentido pela empresária. “O preço do chocolate aumentou bastante, assim como o leite condensado. Infelizmente, também tenho que aumentar o meu. Se não, não vale a pena manter o negócio”, finalizou.

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