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Brasília

Parque Ecológico de Águas Claras, a força da natureza frente ao avanço do concreto

Unidade de conservação completa 20 anos e oferece qualidade de vida aos moradores. Protege as nascentes, a fauna e flora nativas do Cerrado

Afonso Ventania

11/07/2023 5h00

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O Parque Ecológico de Águas Claras fica bem no meio dos altos prédios de 20 a 30 andares e diversos canteiros de obras da cidade. É um refúgio para os moradores que gostam da natureza e daqueles que preferem manter a saúde praticando diferentes atividades físicas.

A unidade de conservação tem pouco mais de 100 hectares e é administrada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram). O córrego Águas Claras que flui em seu interior inspirou o nome da cidade e forma a Lagoa dos Patos no centro do parque. A mata ciliar, árvores frutíferas e toda a área de reflorestamento garante sombra aos frequentadores que preferem fugir da agitação urbana.

O local oferece pistas para pedalar e caminhar, trilhas ecológicas, quadras poliesportivas e de areia, aparelhos de calistenia e muitos outros atrativos. Além do lazer, o espaço é usado pelos moradores que preferem levar o esporte mais a sério e aproveita as quadras para realizar treinos de alto rendimento para disputar competições oficiais. É o caso dos adolescentes Thalison Pereira e Mariana Morais que praticam vôlei de praia e vão representar a capital federal no Campeonato Brasileiro esse mês.

“É um lugar muito bom para a comunidade e faz parte da minha vida. Temos contato com a natureza e podemos encontrar os amigos, a família e praticar esporte”, diz Mariana que mora em Águas Claras. “É um ambiente social e também é onde treino para as competições”, acrescenta Thalison, que também é morador da cidade.

Além do vôlei de praia, há escolinhas de futevôlei, beach tênis, futebol Society e muitas outras, segundo Gustavo Costa, professor da AVAC (Amigos do Vôlei de Águas Claras) e treinador de Thalison e Mariana.
E tem gente que sai até de outra região administrativa para curtir a energia vibrante do ambiente. É o caso da engenheira civil Fernanda Santos Pêssego. “É o parque mais próximo da minha casa e onde posso andar com segurança. Aqui tem muito contato com a natureza e uma diversidade grande de esportes. Costumo vir sozinha ou com o meu namorado”, comemora.

Proteção ambiental

Para proteger a flora e a fauna nativas da região e as áreas de nascentes, o Ibram promove atividades voltadas para a educação ambiental, cultural e de lazer no Centro de Referência de Educação Ambiental. Além de animais silvestres como saguis, capivaras, patos, a unidade de conservação também é repleta de árvores frutíferas e de ipês, ingás e outras espécies.

Foto: Joel Rodrigues/ Agência Brasília

De acordo com o administrador de Águas Claras, Mário Furtado, a administração é parceira do Ibram e oferece todo o apoio necessário para contribuir na manutenção do parque ecológico. “É uma válvula de escape para o morador de uma das cidades mais edificadas do Distrito Federal. É o nosso refúgio. Por isso, a administração e o Ibram são parceiros e sempre que somos solicitados estamos à disposição deles para executar alguma obra de manutenção ou qualquer reparo em calçadas ou nas pistas de corrida, por exemplo”.

O administrador acrescenta que há mais dois parques urbanos em Águas Claras e ambos serão entregues em breve à população. “A administração vai entregar dois parques urbanos em breve à população”, revela Mário Furtado.

Veja a vídeo reportagem;

Vontade de vencer na vida

Apesar de haver quiosques que oferecem alimentação no interior do Parque Ecológico de Águas Claras, é possível encontrar diversos prestadores de serviços informais ao redor do espaço, principalmente próximos às entradas do parque. Eles vendem desde coco gelado e cachorro quente a peças de bicicleta. Muitos já são autorizados pela administração e possuem permissão legal para permanecer no local.

Foto: Afonso Ventania

Um deles é Emerson de Sousa Lima, de 24 anos. Ele faz manutenção de bicicletas e vende peças desde que veio do Maranhão, há cinco anos, com a mãe e os quatro irmãos em busca de uma vida melhor na capital federal.

Ele aprendeu o ofício de mecânico de motos e bicicletas na oficina que o pai tinha no interior do Maranhão. Mas, quando chegou aqui, aos 19, não conseguiu emprego e começou a capinar lotes em Taguatinga, onde morava de favor na casa de uma tia. Apesar da dificuldade para ajudar em casa, o jovem sonhava em empreender e montar sua própria oficina de bicicletas.

Obstinado, ele conseguiu emprego em uma loja de roupas e melhorou um pouco o salário. Mas não estava plenamente feliz. Até que decidiu comprar uma bicicleta e, quando foi buscá-la, notou que estava montada de maneira errada e cheia de irregularidades. Falou com o dono da loja e pediu uma oportunidade para trabalhar no local. Não deu outra. Por alguns meses, ele conseguiu conciliar os dois empregos. Até que foi dispensado da loja de bicicletas porque o proprietário precisava de um mecânico em período integral.

Durante a pandemia, ele soube que uma outra loja precisava de mecânico por algum tempo e se candidatou. Ao longo de três meses, enquanto os mecânicos “oficiais” se recuperavam do Covid-19, ele conseguiu atender a demanda e recebeu a garantia do dono da loja que seria contratado após os mecânicos regressassem. Nesse período, feliz e empolgado, Emerson se dedicou de corpo e alma à empresa. Recém casado, e com a esposa esperando a primeira filha, pela primeira vez em anos, a vida parecia sorrir para o jovem maranhense.

Até que a notícia veio. Sem cumprir a palavra, mesmo sabendo que a esposa de Emerson estava gestante, o empresário o demitiu. “Não acreditei. Saí da loja chorando. Mas no caminho de casa, eu enxuguei as lágrimas, e já comecei a pensar em uma saída para aquela situação. Afinal, agora, eu tinha duas pessoas para sustentar”, recorda com os olhos marejados.

Foi aí que percebeu que as vendas das bicicletas tinham aumentado na pandemia e que as lojas não estavam dando conta da demanda. “Era uma oportunidade que eu não podia desperdiçar. Passei a oferecer manutenção de bicicletas em domicílio. Eu buscava a bike do cliente, fazia a revisão e os reparos necessários e a entregava de volta”, conta.

Foi um sucesso. Ele se manteve nessa rotina por alguns meses até que um cliente sugeriu que ele montasse uma tenda ao lado do Parque Ecológico de Águas Claras. Com o apoio do carioca Diogo Rodrigues, que vende coco no local com a esposa, o jovem montou a tenda Disk Emerson Bikes e conseguiu uma permissão temporária da administração da cidade para trabalhar. Segundo ele, atende dezenas de ciclistas ao longo da semana. “Faço pequenos reparos como furo de pneus. Mas ofereço lavagem e revisão completa em todos os tipos de bicicletas, inclusive de competição”.

“Ele é perfeccionista no trabalho e é possível perceber que ele ama o que faz. Além de fazer a manutenção das minhas bicicletas, ele já consertou até cadeiras de rodas. É muito bom ter o Emerson por perto”, diz Rarieuro Almaço, um dos clientes mais assíduos

No dia em que conversava com o bikerrepórter Afonso Ventania para a reportagem, Emerson recebeu uma ótima notícia pelo celular: a administração enviou a autorização definitiva que autoriza a permanência dele no local. Bastava pagar o boleto. No mesmo ato, na frente da reportagem, ele pagou a primeira parcela com o maior sorriso. “O Jornal de Brasília me trouxe sorte. Temos que correr atrás dos nossos sonhos porque a oportunidade não bate na nossa porta. Precisamos fazer acontecer. Eu e a minha esposa temos nossa filha de um ano e seis meses e posso dizer que hoje estou numa condição muito melhor e mais feliz do que quando cheguei em Brasília”, comemora Emerson.

Saiba mais na vídeo reportagem;

SERVIÇO:

  • Parque Ecológico de Águas Claras
  • Funcionamento: Todos os dias das 6h às 22h

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