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Brasília

Pandemia resgata hábito de leitura e reacende mercado livreiro

De acordo com o 9 Painel do Varejo de Livros no Brasil, o mercado registrou a venda de 4,36 milhões de livros, o que representa um aumento

Mayra Dias

28/10/2021 6h09

Marcelo Camargo/ Agência Brasília

A pandemia trouxe impactos diferentes para a maioria dos setores da economia. Apesar de a grande parte desses efeitos terem sido negativos, alguns ramos do comércio tiveram o cenário como um reaquecedor, que os fizeram crescer e voltarem com tudo. É o caso do setor de livreiros que, de acordo com o 9 Painel do Varejo de Livros no Brasil, o mercado registrou a venda de 4,36 milhões de livros, o que representa um aumento de 8,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

“Durante o período de maior restrição da circulação, as pessoas encontraram nos livros o entretenimento necessário para lidar com o isolamento social e o cenário adverso”, acredita Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). O Painel do Varejo de Livros no Brasil é uma pesquisa mensal feita pela Nielsen e divulgada pelo SNEL, que apura as vendas de livros impressos diretamente dos checkouts dos principais varejistas do país. Como revela o presidente da entidade, desde setembro de 2020, o aumento do consumo foi notório, e tal resultado é reflexo de esforços comerciais como o estímulo a ações promocionais, a oferta de bons lançamentos e o estreitamento do relacionamento com os leitores nas redes sociais. “Enquanto indústria, precisamos nos conscientizar cada vez mais sobre a responsabilidade que temos de fomentar o hábito de leitura”, afirma Marcos.

Conforme traz a pesquisa, o acumulado do ano mostra que, até o momento em 2021, foram vendidos 36,1 milhões de exemplares, o que representa aumento de 39% em comparação à mesma época em 2020. Em valores, o faturamento totaliza R$1,52 bilhões, 34,8% a mais que no ano passado. “Podemos esperar que o crescimento acumulado diminua no decorrer dos próximos quatro períodos até o fechamento do ano, isso não significa perder o fôlego da retomada, é apenas uma equalização das bases comparativas. A expectativa é que o fechamento do ano apresente alto crescimento”, comenta Ismael Borges, gestor da divisão Nielsen Book.

Estudante de Engenharia de Produção, Júlia Alves foi uma das pessoas que resgatou seu gosto pela leitura desde o início da crise sanitária. “Sempre gostei muito de ler mas, depois que entrei na faculdade e a rotina ficou mais corrida, eu abandonei esse hábito”, conta a universitária de 21 anos. “Quando me vi isolada em casa, sem nada pra fazer, me tornei adepta das compras online e os livros sempre estavam nas minhas sacolas virtuais. Eles, sem dúvidas, foram essenciais para que eu conseguisse fazer bom uso do meu tempo em casa”, completou a jovem. Dentre os dados divulgados pela Snel, está a informação de que, no segundo semestre de 2021, durante o Amazon Prime Day, promoção realizada pela empresa de varejo, houve um aumento de 59,3% de vendas em relação à mesma época do ano passado. O faturamento, com isso, foi de R$ 117,08 milhões para R$ 185,52 milhões.

Momento de abrir portas

Enxergando tal melhora no setor, muitas editoras, livreiros e autores fizeram disso uma oportunidade. Consoante a isso, apenas esse ano, foram abertas, pelo menos, três novas livrarias em Brasília. “Hoje em dia o livro concorre com as redes sociais e as plataformas de streaming, no que diz respeito ao entretenimento. Todavia, enquanto indústria, precisamos nos conscientizar cada vez mais sobre a responsabilidade que temos de fomentar o hábito de leitura”, argumenta o presidente da Snel.

No início do mês de Setembro, por exemplo, tivemos a chegada da Circulares, que abriu as portas na quadra 113 Norte e chegou com a promessa de vender títulos selecionados cuidadosamente por Camila Sahb e Ariana Frances, proprietárias do local. “Moramos em Brasília e sentíamos falta de livrarias de rua. A capital do país não ter boas opções de livraria é algo que surpreende tanto quem é de fora da cidade, como quem vive aqui e acaba recorrendo às compras online para se abastecer de livros”, compartilha a dupla. De acordo com as empreendedoras, as expectativas são de trazer títulos interessantes para quem já tem o hábito de ler e títulos que despertam novos leitores, além do desejo de ser uma ‘casa de literatura’. “Um espaço para as pessoas trocarem ideias, para que autores encontrem seus leitores e que aconteçam cursos e pequenos eventos que contribuam para a cena cultural na cidade”, acrescentam.

Já em novembro, a rede carioca Livraria da Travessa também será mais uma opção para os entusiastas de livros da capital. A loja irá inaugurar uma unidade no mesmo espaço que antes era usado pela Livraria Cultura, no Casa Park. A loja ocupará mil m² e terá café, auditório e galeria e, com mais esse ponto, a Travessa terá 11 lojas, incluindo a unidade lisboeta. Frequentadora assídua da unidade do Rio de Janeiro, Júlia Alves revela estar ansiosa para visitar a nova localidade. “Todas as vezes que viajei para o Rio, passei na Travessa. O ambiente é uma delícia, as opções de livros são gigantescas e eu tenho certeza que a loja de Brasília virá com essas mesmas qualidades. Tenho certeza que serei uma cliente fiel”, brinca a moradora de Sobradinho.

Contemplando a lista de novidades, em 2022, será a vez da paulistana Livraria da Vila dar início às vendas na capital, no shopping Iguatemi. O foco do estabelecimento, original de São Paulo, e com algumas unidades no Paraná, é investir em lojas menores, mais intimistas.

Momento de Crise

Segundo Marcos da Veiga, o momento mais crítico foi do final de março à maio do ano passado, quando aconteceu o fechamento do comércio não essencial nas principais cidades brasileiras. “Naquele momento, a pesquisa Painel do Varejo de Livros registrou a venda de 1,58 milhões de livros com faturamento de R$65,67 milhões, uma queda de 45,35% em volume e 47,61% em valor, comparando com o mesmo período de 2019”, pontua. No entanto, na avaliação das donas da Circulares, o mercado livreiro está em crise acentuada desde 2015, com a redução das compras governamentais e declínio de grandes players como Livraria Cultura e Saraiva. “Acompanhamos o fechamento de muitas lojas e uma migração para o comércio online”, comentam. Neste momento mais forte da crise, elas relatam que estavam no mercado livreiro apenas como consumidoras, lamentando o fechamento das lojas de rua.

Dados de uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pela Snel, chamada “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, mostraram que, em 2018, o setor editorial brasileiro produziu 11% menos livros do que em 2017, 43 milhões de exemplares a menos. Em questão de faturamento, a queda foi de 4,5% e, se não se considerar as vendas para o governo (obras didáticas), o declínio foi de 10%.

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