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Brasília

Os tristes números do feminicídio no DF

Em 2021, a Lei Maria da Penha completou 15 anos. Neste ano, mais de 20 mulheres foram vítimas de feminicídio no DF

Redação Jornal de Brasília

01/11/2021 7h32

Tereza Neuberger
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“Parem de nos matar!” foi a frase utilizada em protesto pela servidora pública Rosana Borges, de 50 anos, assim que perdeu sua irmã Isabella Borges, vítima de feminicídio em 2019. Rosana morava ao lado da casa da irmã e estava dormindo no momento em que ouviu os tiros.

Isabella era pedagoga e caçula de três irmãs. Ela teria hoje 27 anos se não tivesse sido assassinada pelo ex-companheiro na própria casa. Eles estavam separados há dois meses, e o vigia Matheus Galhena, de 21 anos na época, não aceitou o fim do relacionamento. Segundo Rosana, Matheus jamais deu indícios que seria capaz de cometer tal ato, mas na quinta-feira que antecedeu o crime, o ex-companheiro seguiu Isabella e a viu entrando no carro com outro homem. Ele filmou a cena e enviou para Rosana, com o texto: “Olha aí a sua irmãzinha”. Foi aí que a irmã notou que ele seria capaz de fazer qualquer coisa contra Isabella. Ela conta que tentou alertar a irmã, mas Isabella teria duvidado que ele poderia fazer qualquer coisa contra ela.

Na noite do crime, um domingo, 31 de março de 2019, Matheus entrou na residência onde vivia com Isabella no Paranoá e, após discussão, atirou contra ela. Em seguida, ele tirou a própria vida.

2021

Até o fim do décimo mês de 2021, ano em que a Lei Maria da Penha completou quinze anos, já foram mais de vinte mulheres executadas no DF. A lei é a terceira melhor e a mais avançada legislação do mundo no combate a violência doméstica, mas o Brasil é o quinto país no ranking mundial de feminicídios.

Shirley Rubia, de 39 anos, também foi vítima. Ela estava separada há 5 meses do ex-marido com quem teve uma filha, — com 4 anos na data do crime, em setembro de 2020. O ex-casal mantinha contato por conta da filha. A irmã de Shirley, Girlene Cristina (47), conta que o ex-cunhado não aceitava o fim do relacionamento, mas “era muito tranquilo”, e nunca deu indícios para família de que seria capaz de tirar a vida de Shirley. “Ele ficou com o apartamento e mandou ela sair, para dificultar as coisas para ela, mas ela batalhou, sempre foi independente” afirma Girlene.

No dia do crime ele acompanhou Shirley a uma consulta para filha em um hospital particular em Ceilândia. Ele teria saído no momento da consulta e ao voltar para o consultório, na frente do médico e da própria filha, desferiu 5 golpes de faca em sua ex-companheira. Posteriormente ele tirou a própria vida com um tiro na cabeça.

128 mortes em seis anos

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP/DF), de 2015 até setembro deste ano, houve um total de 128 casos de feminicídio no Distrito Federal, aos quais 86,5% foram motivados por ciúmes/posse e não aceitação do término. Os dados mostram que 70,4% das vítimas não registraram ocorrência contra o autor e 65,6% das vítimas sofreram violência anterior ao feminicídio.

De acordo com a advogada especialista em casos de violência doméstica e de gênero, Sofia Coelho, a dependência emocional das mulheres com seus companheiros é um grande fator para desistência de prosseguir com a representação contra o agressor. “Muitos casos de desistência no meio do processo ocorrem por pena do agressor ou medo de acontecer represália”, conta Sofia.

Em vigor há 6 anos, a Lei do Feminicídio é responsável pela entrada do feminicídio no rol dos crimes hediondos, e a partir dela foi possível criar estatísticas sobre o assassinato de mulheres pelo fator gênero. A pena pode chegar até 30 anos de prisão.

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