Menu
Brasília

Os 300 do PCC no DF

Graças ao serviço de inteligência e ao monitoramento constante, grupo de elite da PCDF conseguiu evitar operações da facção no DF e Brasil

Ary Filgueira

13/09/2021 6h16

CEARA E DERIK E JONAS E JHONATAN E REVOLTADO- CEARA diz que estão com cara na cela e ele está na cela com eles e tem que resolver agora. CEARA diz que o cara confessou e a popupalação esta todo revoltado. JONAS coloca GALEGO na linha e outro REVOLTADO (ANJO NEGRO) entra na linha e diz que GALEGO matou um cara no CIOPS e reconheceu na emoção.

GALEGO explica para RESUMO como foi a morte do cara no CIOPS. RESUMO (MATEUS) pergunta se ele sabe o que pode acontecer na cadeia agora e como matam um cara inocente. RESUMO pergunta o que ele acha correto para ele. GALEGO diz que ele e mais dois mataram o cara. RESUMO sugere dar um cacete bem dado, a população não aceita e colocar ele pra fora. CEARA (BLINDADO) diz que vai ser pau de mandar para UTI.

RESUMO fala para GALEGO que decidiram que ele levará uma surra e que a população queria era matá-lo. RESUMO diz que esta saindo barato, porque vai ficar com vida. BLINDADO pergunta se pode começar.

Os RESUMOS falam que sim e permanecem na linha aguardando a execução da sentença. Em seguida, é possível ouvir o barulho das agressões praticadas contra GALEGO, além de seus gritos de dor e desespero. Após algum tempo, BLINDADO fala que vai desligar porque os POLÍCIAS estão invadindo.

A narrativa acima é parte de uma interceptação telefônica usada numa grande investigação do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (DECOR) da Polícia Civil do Distrito Federal aberta para escrutinar o Primeiro Comando da Capital (PCC): desde o DNA até os seus tentáculos, que já alçaram todas as cidades do Distrito Federal, que forma um cinturão em volta da capital do Brasil.

Segundo a própria polícia revelou ao Jornal de Brasília, a célula do PCC no DF já chegou a ter 300 integrantes. Foi o número de prisão da facção criminosa nascida da pobreza nos municípios e cidades de São Paulo e expandida para o País. Eles estavam espalhados por todas as regiões administrativas, vivendo em meio a pessoas do bem, como se boas pessoas fossem.

“A população pode permanecer tranquila porque a PCDF está atenta a esses criminosos e vamos coloca-lo onde devem estar: atrás das grades”

Adriano Valente, Delegado Chefe da Decor

O diálogo revelador trata-se da peça de um tribunal. Nesse caso, o Tribunal do Crime ou o Tribunal do PCC. Não importa a acepção que cada um dará a essa corte marginal, mas o recado que manda ao resto do País: ninguém parece conseguir parar o PCC, que é de fato a facção criminosa mais organizada do Brasil.

O criminoso sentenciado cometeu um homicídio sem autorização dos seus chefes imediatos. Sua sentença foi a de ser espancado até ir para o hospital. Essa é a lei para quem desobedece as regras do PCC. E a sintonia (o equivalente à filial) de Brasília segue à risca a orientação do grupo idealizado pelo Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

A expansão do PCC em Brasília só não está mais avançada porque é acompanhada permanentemente pelos agentes e delegados da Decor. Desde de 2014, a divisão vem realizando operações sistemáticas para conter o avanço da facção.

Mas o serviço tem se tornado enxuga-gelo. A polícia desarticula uma célula e logo surge outra em seu lugar. A arregimentação de novos integrantes é feita por um simples gesto de apresentação. Cada novo integrante foi convidado por um padrinho, que já é membro da família PCC. Para chegar ao grupo, o novato não tem de ser tão novato assim. Tem de possuir um histórico no crime de preferência, mas não pode ser delitos bobos, como furto de galinha ou algo que o valha. O padrinho é responsável por ele pelo resto da vida.

Apesar da capacidade de recomposição do membro, o grupo não consegue articular grandes ações criminosas devido ao estorvo policial. Mesmo com toda a estrutura de empresa, o PCC não tem tido êxito no DF. A Decor já impediu fugo de presídio, tentativa de roubos maiores.

Numa das tentativas frustradas pela Decor, dois integrantes do PCC pretendiam resgatar um preso de Planaltina de Goiás que havia marcado dentista. O plano era render a escolta e libertar o detento. Mas a polícia chegou na hora e prendeu os bandidos.

Em outro episódio, os integrantes do grupo combinavam uma fuga em massa da facção do presídio de Campo Grande. Eles tinham cavado um túnel e pretendiam sair por ele. Mas a polícia do DF, que monitora a facção, avisou para os colegas daquele estado e o plano foi enterrado.

A ação dos policiais daqui ajudou até a polícia de outros estados a resolver crimes de grande repercussão. O mega-assalto em Araçatuba foi desvendado com a ajuda dos policiais do DF. “Estávamos monitorando um membro do PCC e, quando chegamos a ele, descobrimos que um dos assaltantes do banco de São Paulo estava junto. Prendemos e o entregamos para polícia de lá”, disse o coordenador da Decor, delegado Adriano Valente.

“Ele aqui fazem roubos pontuais: em residências, de veículos. O máximo que fizeram foi tentar roubar um caminhão, mas nós impedimos, porque acompanhamos os passos do PCC no DF”, o coordenador da Decor, delegado Adriano Valente. “Mas o tráfico é o tempo inteiro”, emenda.

Perguntado se a presença do PCC no DF era motivo de pânico para a população, o delegado foi enfático:“A população pode permanecer tranquila porque a PCDF está atenta a esses criminosos e vamos coloca-lo onde devem estar: atrás das grades”, garante o delegado chefe da Decor, que faz jus ao sobrenome Valente.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado