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Brasília

O adeus ao jornalista Ary Filgueira

Segundo o seu irmão, o provável motivo da morte do jornalista foi devido a complicações de uma doença rara de pele

Redação Jornal de Brasília

18/08/2022 16h56

Foto: Arquivo pessoal

Gabriel de Sousa
[email protected]

Ser jornalista não é apenas poder noticiar. Informar os brasilienses com qualidade e credibilidade requer muito talento e profissionalismo para quem se entrega a este ofício, e nesta quinta-feira (18), o jornalismo do Distrito Federal perdeu um dos seus mais promissores e dedicados profissionais, que foi apaixonado pela sua área e admirado por seus colegas de profissão.

O jornalista Ary Filgueira, de 48 anos, que atuava como repórter do Jornal de Brasília, faleceu às 5h18 da madrugada no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), após ficar internado por 15 dias para tratar de diversas infecções que se formaram em sua pele. O velório acontecerá nesta sexta-feira (19), no Cemitério do Gama, das 8 até às 11 da manhã, na Capela Templo Ecumênico.

De acordo com o seu irmão, Ronaldo Filgueira, a causa provável da morte, informada por um médico do HRAN, foi por complicações da Síndrome de Stevens-Johnson, uma doença rara e grave de pele que acomete cerca de 15 mil pessoas por ano no Brasil.

O profissional também colaborou com o Correio Braziliense, Metrópoles, TV Globo, IstoÉ!, Secretaria de Comunicação do Governo do Distrito Federal (SECOM/GDF) e com a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan/DF). No Jornal de Brasília, Ary trabalhou de agosto de 2021 até fevereiro deste ano. No dia 28 de julho, Ary havia retornado para o JBr, mas, por conta da sua internação, não chegou a exercer a função de repórter nesta sua segunda passagem.

Doença evoluiu rapidamente no jornalista

Em entrevista ao Jornal de Brasília, Ronaldo Filgueira, irmão de Ary, disse que o jornalista começou a sentir incômodos e coceiras pela sua pele há quatro semanas. Apesar de ter ido procurar por medicamentos em várias clínicas da capital, os ferimentos começaram a aumentar gradativamente.

“Começaram a ocorrer alguns carocinhos na pele, como se fosse algo meio que alérgico. E então elas começaram a coçar e a coisa começou a aumentar. Ele foi em algumas clínicas, e começaram a passar medicamentos para ele, mas a coisa não deixou de evoluir”, disse o familiar.

Quando Ary foi encaminhado ao HRAN, foi constatado a presença de tumores nas axilas e em diversas partes do corpo, além de uma “grande massa” em seu abdômen. Segundo Ronaldo, após uma ultrassonografia, o médico que cuidava do jornalista informou que as anormalidades se assemelhavam a sintomas de câncer.

A Síndrome de Stevens-Johnson, citada pelo irmão do jornalista como uma provável causa do seu falecimento, ocorre após graves reações alérgicas, que habitualmente surgem após o uso de certos medicamentos. Ronaldo cita que Ary poderia ter ingerido um excesso dos fármacos para “conter o mal-estar ou até mesmo para conter a evolução dessa alergia”.

Ronaldo comenta também que Ary estava com o “corpo bastante debilitado”, já que havia passado mais de três semanas sem conseguir se alimentar corretamente, devido aos inchaços que surgiram em sua garganta.

Apaixonado pela família, pelo jornalismo e pelo Flamengo

Segundo o seu irmão, Ary tinha três amores no qual se dedicou ao longo da sua vida. Um deles era o Clube de Regatas do Flamengo, no qual era torcedor fanático. “O que marcou ele foi o período do Zico e a Libertadores de 2019. […] Ele já foi aqui [no Mané Garrincha] várias vezes, mas ele foi uma vez até o Maracanã para ver Flamengo e Vasco em uma final. Era um amor incondicional”, relata Ronaldo.

Outra das paixões de Ary era pelo jornalismo, profissão em que dedicou o seu talento produzindo matérias que mostravam toda a sua vontade incessante de contar histórias bem elaboradas para o conhecimento dos brasilienses. Em 2010, ele ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo após produzir uma série de reportagens sobre o desaparecimento de sete jovens em Luziânia, o que gerou para ele uma grande visibilidade nacional.

Mas, a verdadeira paixão de Filgueira era a sua família, no qual ele dedicava todo o seu esforço para mantê-los bem. Para Ronaldo, a principal lembrança do seu irmão é a sua benevolência e disposição para ajudar os seus familiares, que sempre podiam contar com o carinho e suporte de Ary.

“O Ary era apaixonado. Tudo que ele se predispunha, ele lutava, todos os problemas da família ele resolvia, ele ia atrás. Ele era uma pessoa muito funcional, ele era muito de mergulhar nos seus sonhos e nas suas amizades. “Às vezes, quando a gente tinha alguns problemas e a gente falava para ele, ele tomava a frente. Às vezes ele até cometia alguns excessos a prol de nos ajudar”, disse o irmão.

No JBr, Ary revelou saques que mudaram o rumo da CPI da pandemia

Durante a sua primeira passagem no Jornal de Brasília, Ary produziu diversas matérias que ficarão para sempre entre as melhores produções já feitas pelo nosso veículo de comunicação, que completará 50 anos em 2022. Segundo o editor Lindauro Gomes, todas as reportagens do jornalista apresentavam a mesma qualidade de um profissional afeito pela arte de noticiar.

“O Ary Filgueira era um repórter 24 horas por dia. Ele era capaz de, com toda a garra, cobrir um buraco na Ceilândia e atender o Sol Nascente, como também ele tinha a capacidade profissional de estar na porta de qualquer palácio da República. Isso fazia dele um profissional completo”, conta o editor, que trabalhou com Ary no JBr entre agosto de 2021 e fevereiro de 2022.

Lindauro lembra de uma série de apurações feitas por Filgueira que foram essenciais para o desenrolar da CPI da Pandemia no Senado Federal. Em agosto do ano passado, o jornalista revelou a história do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, que sacou R$ 4,7 milhões para a empresa logística VTCLog. No desenrolar da história, Ivanildo depôs na CPI e revelou que realizava transações milionárias em dinheiro vivo, e que havia ido “constantemente” para o prédio do Ministério da Saúde.

O editor do Jornal de Brasília ressalta que o falecimento de Ary Filgueira não representa só uma perda para o jornalismo brasiliense, como também para toda a imprensa nacional. “Se por um lado, a gente fica confortado pelo fato dele ter sido um grande profissional, por outro, a perda, não só do profissional, mas como do amigo, deixa o coração da gente um pouco vazio”, diz Gomes.

Outras homenagens

Uma das homenagens feitas para Ary Filgueira veio de Lúcia Leal, secretária-adjunta de Comunicação do Governo do Distrito Federal (GDF). Em uma nota, ela mencionou o período de tempo em que trabalhou junto com o jornalista, destacando a sua produtividade e afeição pelo trabalho jornalístico, que foi a sua marca em grandes veículos de comunicação da capital.

“Embora a gente seja da mesma geração de jornalistas, só em 2020 tivemos oportunidade de trabalharmos juntos na Secretaria de Comunicação do GDF. Na nossa Agência Brasília não tinha pauta ruim para o Ary, nem hora pra trabalhar; toda hora era hora. Agora, lutou também bravamente para vencer seu problema de saúde. Descanse em paz no reino da glória, amigo!”, disse Leal.

A jornalista Catarina Lima, que foi colega de redação de Ary durante a sua primeira passagem no Jornal de Brasília, lembra de uma ocasião que realçou o tamanho da generosidade de Filgueira. Quando ela foi parabenizá-lo pela produção de uma reportagem, ele destinou as suas congratulações para toda a sua equipe.

“Eu comentei no grupo que era uma matéria do Ary, aí ele foi e respondeu no mesmo grupo que era uma matéria de todos nós, e que era um esforço de todos nós. […] Era um talento, uma pessoa jovem, com vontade de trabalhar. Eu sinto muito, é uma perda para o nosso jornalismo de Brasília”, afirma Catarina Lima.

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