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Brasília

Nossa riqueza: amanhã é Dia Nacional do Cerrado

Beleza está em perigo. Neste dia 11, objetivo é levar a preservação do bioma para o centro de debates

Mayra Dias

10/09/2021 10h53

Amanhã é dia de homenagear o segundo maior bioma da América do Sul. Ocupando, aproximadamente, 22% do território brasileiro, com áreas em 11 estados e no Distrito Federal, no Amapá, Roraima, Amazonas e em alguns pontos de São Paulo, o Cerrado contempla uma riquíssima variedade de plantas e animais nativos. Por esse motivo, neste 11 de setembro, o bioma é celebrado. “É um dia para marcar sua beleza e importância, mas, sobretudo, para alertar a sociedade do processo de destruição que vem sofrendo, e estimular a discussão sobre ações necessárias para sua conservação”, afirma Marcelo Bizerril, doutor em ecologia e professor da Universidade de Brasília.

Como destaca o especialista, o bioma faz parte do conjunto de paisagens do tipo savana, e possui algumas características como clima marcado por estações chuvosa e seca, vegetação aberta com árvores espaçadas, entremeadas por arbustos e gramíneas. “As amplas paisagens com vistas incríveis do céu, vegetação e cachoeiras, os detalhes observáveis em uma caminhada pelo cerrado, de folhas, troncos, flores e pequenos animais são apenas alguns aspectos que me tocam”, compartilha Marcelo.

Conforme traz o Ministério do Meio Ambiente (MMA), já foram catalogadas mais de 11,6 mil espécies de plantas nativas dessa vegetação. De acordo com os dados da entidade, existem cerca de 199 espécies de mamíferos, 837 de aves, 1,2 mil de peixes, 180 de répteis e 150 de anfíbios. Estima-se, ainda, que 13% das borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins trópicos de todo o país estejam lá.

Tal riqueza, como pontua o docente, pode ser explicada pela sua localização. Por se situar no centro da América do Sul, o bioma faz fronteira com as vegetações da Floresta Amazônica, com a Caatinga, assim como com a Mata Atlântica, os pampas, o Pantanal e os Chacos (vegetação típica da Bolívia, Paraguai e norte da Argentina). “O Cerrado, portanto, apresenta várias regiões de transição da sua vegetação típica para os tipos adjacentes, o que faz com que existam muitas formações vegetais e composições de fauna únicas ao longo da sua distribuição”, explica.

Em meio a um verdadeiro tesouro

Considerado fundamental para o abastecimento hídrico do país, devido ao fato de abrigar inúmeras nascentes que contribuem para as principais bacias hidrográficas do Brasil, costuma-se dizer que o Cerrado é uma grande “caixa d’água nacional”. Com grandes reservas subterrâneas de água doce, que abastecem as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: Amazonas, São Francisco e Prata, além da Tocantins/Araguaia, tal característica cerratense tem um papel fundamental no abastecimento humano, na geração de energia e na produção agrícola.

Além de suas particularidades ambientais, o bioma contempla populações tradicionais detentoras de uma cultura única. “São os indígenas, quilombolas, geraizeiros, dentre outros”, expõe. O Cerrado, desta forma, além de ser casa e espaço de sobrevivência de diversos animais e plantas, é também de famílias, que extraem dele sua subsistência. Entre as espécies de sua flora, mais de 220 têm uso medicinal, e cerca de 416 podem ser usadas, inclusive, na recuperação do solo degradado. Há ainda importantes atrativos turísticos no território, com cachoeiras e cânions.

Cobranças para manter a diversidade

Apesar de ser imensamente admirado pelas pessoas, o Cerrado é um bioma em grande perigo, podendo, até mesmo, ser considerado como o mais ameaçado do Brasil hoje em dia.

Isso, como salienta Marcelo Bizerril, se deve principalmente a uma significativa taxa de desmatamento e substituição da paisagem original por empreendimentos ligados ao agronegócio. “Como pastagens para criação de gado e gigantescas monoculturas, sobretudo de soja, milho e cana-de-açúcar”, desenvolve. Somente em 2019, o Brasil perdeu, ao menos, 1.218.708 hectares (12.187 quilômetros quadrados) de vegetação nativa. De acordo com a MapBiomas, no Centro-Oeste, 408,6 mil hectares já foram perdidos.

“Ao invés de ser uma região produtora de alimentos de todos os tipos, o Cerrado se transformou num centro produtor de commodities, que são produtos básicos globais, matérias-primas cujo valor é regulado pela oferta e procura internacional”, avalia o professor. Dentre as principais commodities desse bioma estão a carne, soja e milho. Isso, como desenvolve Marcelo, acarreta um forte impacto ambiental para o país, com consequências nos mananciais de água, na destruição do solo, alterações climáticas, perdas de biodiversidade, mas também impactos sociais gravíssimos, destruindo a cultura Cerratense e provocando o abandono do campo pela população rural.

Para garantir a perenidade do Cerrado, todavia, são necessárias ações urgentes. “Passam por transformar o Cerrado em tema cotidiano nas escolas e na mídia, para que as pessoas estejam mais informadas e sensibilizadas a apoiar as pautas que realmente podem salvá-lo”, defende Bizerril.

As pautas, como pontuadas por ele, seriam as de políticas, e envolvem a fiscalização e cumprimento do Código Florestal, a regularização fundiária, a demarcação de territórios indígenas e quilombolas, o fortalecimento da agroecologia, o investimento em recuperação de áreas degradadas, mais rigor na autorização e fiscalização do uso de agrotóxicos e atividades de mineração. “Nesse exato momento há projetos de lei favoráveis ao Cerrado tramitando muito vagarosamente no Congresso Nacional”, finaliza o especialista.

Saiba Mais

O Dia do Cerrado deve ser um estímulo à cobrança dos legisladores de que esses projetos sejam discutidos com urgência”, acrescentou. Mesmo com sua importância biológica, o Cerrado é o bioma com a menor porcentagem de áreas sobre proteção, sendo estas apenas 8,21% de seu território protegido, legalmente, por unidades de conservação.

Desse acumulado, 2,85% são unidades de conservação de proteção integral e 5,36% de unidades de conservação de uso sustentável. Os outros 0,07%, por sua vez, correspondem à Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). “Sem áreas significativas de Cerrado, não é possível a sobrevivência em longo prazo de populações viáveis das espécies. Isso fica bem exemplificado em espécies cada vez mais raras no DF como o tatu-canastra, a anta, a arnica e muitíssimos grupos da fauna e da flora”, finaliza Marcelo.

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