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Brasília

Negros escravizados em busca de quilombos: game brasiliense investe em história e educação

Eles criaram o Mandinga como parte do universo de seu antecessor, já que o Quilombo que procuram é o mesmo no qual o jogo se passa

Redação Jornal de Brasília

04/11/2021 17h43

Foto: Divulgação

Arthur Ribeiro
(Jornal de Brasília / Agência de Notícias UniCEUB)

Salvador (BA), 1826. Dois negros escravizados, Obadelê e Akil, buscam chegar ao Quilombo do Urubu e da Liberdade. As referências históricas, na verdade, compõem o enredo de um game produzido pela Uruca Game Studio, que é de Brasília. O jogo, com apelo histórico, tem o nome Mandinga – A Tale of Banzo já disponível para download na plataforma Steam.

O projeto surgiu após um edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de 2018, no qual os produtores do Uruca viram uma oportunidade de criar um outro game com temática brasileira, assim como seu último jogo, chamado Banzo.

Desta forma, eles criaram o Mandinga como parte do universo de seu antecessor, já que o Quilombo do Urubu que Obadelê e Akil procuram é o mesmo no qual o primeiro jogo se passa.

Além da relação entre os dois games, o produtor Phillipe Alves recorda que a equipe também se preocupou em mostrar a diversidade que existia na época. “O jogo conta a história do Obadelê e do Akil, que são dois negros em situação de escravidão, um da religião muçulmana, da etnia mandinga, e o outro é um yorubá, uma religião de matriz africana”. A ideia era bater na tecla de que os negros quando vieram para o Brasil traziam diferentes culturas.

Foto: Divulgação

“Não eram um só, não era só uma etnia, não era só uma África, como muita gente acredita. Queríamos mostrar justamente essa diversidade entre os personagens e a diferença entre os dois principais, cada um tinha sua cultura, sua língua e tudo mais. Esse foi o nosso guia para o game”.

Apesar de ter este teor educacional, Phillipe conta que o jogo não foi feito inteiramente com esse intuito, já que alguns outros se perdem na tentativa de ensinar muito e acabam esquecendo da diversão.

Desta forma, Mandinga foi feito como um game que diverte mas é carregado de elementos culturais e que tem uma carga de informação que não impede que ele seja levado para as escolas.

Phillipe também contou sobre a valorização da temática brasileira muito presente no jogo, algo que ele considera necessário. “É muito importante, principalmente hoje em dia, que a gente vê muitas histórias que às vezes são deturpadas e a gente acaba perdendo a história em si do nosso país”. A ideia é continuar contando essas histórias “escondidas” e retirá-las da invisibilidade.

“Acredito que a cultura pop brasileira tinha que investir mais em buscar essas histórias importantes para serem contadas que às vezes não contam porque acham que não vai ter uma repercussão, mas têm”, explicou.

A maior parte do jogo foi feita durante a pandemia, mas o produtor falou que a equipe não sentiu tanto o impacto no trabalho, já que tudo era feito em home office antes mesmo da proliferação em massa do vírus.

Ainda assim, ele admite que houve um impacto mental por ter que ficar em casa, o que às vezes tirava a motivação para finalizar o game. Apesar disso, a equipe composta pelo roteirista Lahiri Abdalla, o músico Arlam Júnior, o programador Diego Pablo Rodrigues e o artista Thiago André, além do próprio Phillipe, que atuou como diretor de projeto e game designer, conseguiu entregar o projeto em dois anos, mesmo prazo estipulado no início dos trabalhos.

Jogabilidade

Sobre o jogo, Phillipe compartilhou como é a jogabilidade, que também foi uma homenagem aos anos 80 e 90. “O jogo é um RPG, de auto RPG que a gente chama, que teve seu estilo muito bem divulgado no final dos anos 80 e anos 90, principalmente no Super Nintendo e Mega Drive. Quisemos pegar isso para o Mandinga, essa parte nostálgica, fazer um jogo de RPG antigo clássico mas com elementos de hoje, por exemplo, o combate, que a gente criou um sistema novo usando dados e coisas do tipo”.

A proposta é que se trata de um RPG de narrativa para explorar a região e abrir novos caminhos. “Vai passar de nível e, conforme passa, o legal é que como são dois personagens diferentes, o Obadelê é yorubá, têm as habilidades dele, a capoeira, e o Akil já é o oposto, da religião muçulmana, acredita em Alá, faz as preces baseado no Alcorão, enfim, e você vai passando de nível e vai evoluindo os personagens na linha deles”, pontuou.

Mandinga – A Tale of Banzo foi feito apenas para computador e está disponível para download na plataforma Steam. Phillipe explicou que o jogo não foi portado para console e computadores MAC, pois há uma dificuldade de orçamento e equipe, já que é algo mais caro e no momento a Uruca não tem um profissional que faça isso. Mesmo assim, ele não fecha portas.

“Sempre pensamos em fazer o jogo de maneira fácil para portar para o console quando conseguisse, porque é um investimento um pouco maior. No futuro, quem sabe. A gente continua trabalhando no jogo, arrumando bug e vendo o que dá para ser feito, quem sabe a gente consiga portar”, finalizou.

Mandinga – A Tale of Banzo

Compre na plataforma Steam: https://store.steampowered.com/search/?publisher=Uruca%20Game%20Studio 

Site oficial: http://www.urucagames.com.br 

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